Um bom começo

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NATALIE DORMER

    

    Duas semanas depois

— Você está divina! — Mia bate palminhas.

— Graças ao Mike — sorrio para o maquiador, que retribui o sorriso.

Ponho minha roupa extravagante e sou direcionada à entrada da passarela. Sim, estou em Londres! Mia estava certa quando disse que eu simplesmente não podia abandonar meu trabalho, então voltei à minha rotina há uma semana. Mas em breve estarei nos braços de Ben novamente. Falando nele, ele e seus pais estão em Oslo, na Noruega. Erin nasceu lá e é lá que quer passar seus últimos dias. Em dois dias voarei para lá, estou muito ansiosa! Não só por Ben, mas porque nunca fui nessa Capital. Amo lugares novos!

Um homem sinaliza para mim e eu entendo que é hora do show! Ando firme e em frente, rasgando a parede de papel à minha frente. Logo confetes são soltos e cobrem tudo, ando confiante pela passarela, sorrindo, não consigo permanecer séria. As pessoas me aplaudem freneticamente e eu me sinto muito bem! Realmente, aqui é o meu lugar e só agora percebo que senti saudades. Dou a volta e refaço o caminho, mais enérgica que nunca. Logo que saio de cena, vou logo sendo arrastada para trocar de look. Eu estou apenas sendo comandada, ainda atônita. A correria é enorme e pessoas gritam e passam agitadas pra lá e pra cá. Eu amo essa loucura! Entro mais duas vezes e finalizo o desfile, recebendo até um buquê de flores! Depois, dispenso o after party e volto para o luxuoso hotel em que estou hospedada. Mia e eu pedimos uma pizza enorme, sorvete e chocolate. Colocamos um filme e comemos até cansarmos. Ela coloca uma música legal pra tocar, acho que é da Melanie Martinez, e começa a pintar as unhas. Falamos de tudo e mais um pouco, senti saudades da minha amiga/irmã! Ela está realmente apaixonada pelo grego Leônidas. Só espero que ele não a machuque, senão "bolas" e cabeças vão voar! Também conto tudo sobre Ben, o que aconteceu e sobre Erin também. Secamos as unhas e logo deito na cama, mas antes olho meu celular. Há várias chamadas de Ben e mensagens também.

Estou com tanto sono...

Mas não posso dormir sem lhe desejar boa noite.

Clico no nome e espero que ele atenda.

Já estou de olhos fechados quando ele atende.

— Amor? — ele fala e eu abro os olhos, amo quando ele me chama assim.

— Oi amor — bocejo — está tudo bem?

— Sim. Eu liguei e você não atendia, não aconteceu nada grave, eu só queria te desejar sorte no desfile — ele fala e eu consigo imaginar seu sorriso de lado.

— Desculpe, eu deixei o celular no hotel. Mas o desfile foi incrível... Eu amo isso Ben. Eu me sinto... Especial — confesso.

— Você É especial, dentro ou fora das passarelas — ele diz e meu coração derrete.

— Eu amo você. Só te liguei pra desejar boa noite e que Deus te proteja.

— Boa noite meu amor, você deve estar cansada, melhor ir dormir.

— Eu já estou no ponto — rio sonolenta.

Ele ri — então durma bem, queria estar aí com você...

É tudo o que eu ouço antes de cair num sono profundo.


        BENJAMIM KOCH

Observo-a dormir. Seu corpo está tão magro e pequeno. Tão... Vulnerável. Quase não consigo reconhecê-la. Os ossos do seu rosto estão destacados e os olhos fundos. Sua pele está pálida e já não há mais cabelo em sua cabeça. Reprimo a vontade de chorar e saio do quarto. Não é essa a imagem que eu guardarei dela. Vou até a estante da sala e começo a procurar por qualquer coisa, foto, qualquer vestígio da minha antiga mãe. Acho um álbum. Sento-me no sofá e o abro. Logo na primeira folha, já encontro o que esperava. Minha mãe. Tão linda que chega a ser estonteante. Seus cabelos cor de ouro, seus lindos olhos azuis, sua boca rosada e a felicidade em pessoa abraçando meu pai por trás.

Uma onda de alívio passa pelo meu corpo. É isso que quero lembrar... Da sua beleza, da sua alegria. Porque eu sei que daqui pra frente, não terei apenas Talie nos momentos difíceis... Também terei as lembranças dela. Não poderei mais ter seu colo, suas mãos para afagar meus cabelos, não vou mais ligar pra ela quando estiver em apuros... Mas terei seu sorriso e seus conselhos que estão guardados em meu coração.

Olhando aquelas fotos, tantas coisas vêm à minha mente...

Quando eu era criança e tinha pesadelos, ela vinha e dormia comigo, cantando até que eu pegasse no sono. Quando eu me machucava, ela passava remédio e fazia minhas comidas favoritas para que eu não chorasse.
Todos os sacrifícios que já fez por mim... Suportando meu humor tempestivo na adolescência, me dando conselhos e incentivando a fotografia. Quando me deu minha primeira máquina fotográfica... Quando sorriu quando eu falei de Natalie para ela pela primeira vez... Como seu abraço foi confortante para mim quando Natalie se mudou... Ou quando meu pai me obrigou a concordar com esse trato e eu corri para minha mãe e chorei, chorei, desabei pela falta que Talie fazia. E no fim, ela apenas sorriu e disse "Nascidos um para o outro, morrem juntos". E eu não entendi a frase naquela época, mas agora entendo.

— Ela sempre foi a mais bela de todas.

Viro-me e vejo meu pai em pé, com as mãos no bolso.

— Posso sentar? — ele pergunta.

— Claro — respondo.

Ele senta ao meu lado no sofá. Passo o álbum para ele. Ele olho as fotos e permanecemos calados.

— Eu tinha fundado a empresa há um ano, quando a conheci — ele fala — eu não era rico ainda, então fui a um restaurante pequeno, mas que eu achei confortável. Fiz meu pedido e esperei, tinha uma reunião depois do almoço e estava ansioso por ela. O pedido chegou e eu comi. No instante em que provei, quase surtei... Estava muito bom! Eu comi tudo, devorei, na verdade. Depois fui até  o balcão e pedi pra falar com o cozinheiro que tinha feito. Já tinha em mente que iria contratá-lo quando melhorasse de vida. Fui levado até a cozinha pelo gerente, que me apresentou à uma mulher. Não uma mulher, parecia mais uma deusa. Era simplesmente linda, demais pra ser real. Eu fiquei parado lá, até o gerente falar da situação e ela sorrir, o que fez minhas pernas virarem gelatina — rimos — eu comecei a elogiá-la e ela agradecia, em seus olhos tinha um brilho lindo. Conversamos por pouco tempo e pedi seu número. Ela me deu e fui embora mais que feliz. Nem prestei atenção na reunião, só pensava em pegar meu celular, que mais parecia um TV, e ligar pra ela. E foi o que fiz quando a reunião acabou. Chamei-a para jantar e ela aceitou. A partir dali, minha vida começou a fazer sentido... Foi o dia mais feliz da minha vida. O segundo dia... Foi quando você nasceu.

Escuto o que ele diz atentamente e meu coração quase para com sua última frase. Ele continua:

— Ali, naquela sala de operação, eu te vi pela primeira vez, nos braços dela. Você era a mini cópia dela, a cor da pele e cabelo, mas tinha uns traços meus. Era a junção perfeita de nós dois. Meu verdadeiro legado sempre foi você. Por isso você sempre foi a coisa que mais zelei. Mas também quis te preparar para cuidar do que demorei anos e fiz muitos sacrifícios para construir. As indústrias Koch. Por causa dessa vontade, eu perdi meu próprio filho. Me... Me desculpe Benjamim. Por não ter aceitado suas decisões, eu sempre quis o melhor pra você. Você e sua mãe são as coisas mais importantes... — ele chora e eu o abraço.

— Não precisa se desculpar, pai — digo — eu sei que você sempre quis o meu bem. E agora eu vejo o quanto essa empresa é importante pra você... Eu só tenho medo de viver preso.

— Eu entendo, você sempre foi um menino aventureiro — ele ri — Eu amo você.

Suas palavras são como tiros. Há anos eu não ouvia isso.

— Eu amo você — digo, sinceramente.

𝐓𝐡𝐞 𝐏𝐡𝐨𝐭𝐨𝐬𝐡𝐨𝐨𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora