Capítulo dois

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Regina pegou o saco de papel marrom em que levava o almoço e se sentou láfora, no alto da escada da biblioteca. Abriu a garrafa térmica de leite econtemplou a Quinta Avenida.

- É a nova bibliotecária? - perguntou-lhe uma senhora que se deteve seu ladoantes de descer a escada.

- Sim, sou Regina. - respondeu ela, enquanto mastigava tampando a bocacom a mão.

- Bem-vinda. Sou Margaret Saddle.

Incomodava por estar sentada enquanto a mulher permanecia em pé, Regina selevantou e alisou a saia vincada de algodão que vestia.

- Ah, sim. Você trabalha na Sala de Arquivos, não é?

A senhora Saddle assentiu.

- Há cinquenta anos.

- Nossa, é... Impressionante.

Margaret tinha o cabelo branco e o usava meio preso, estilo anos 60, e os olhoseram de um azul muito claro. Além de blush no rosto, não usava maquiagem.Estava com um colar de pérolas de várias voltas e, se Regina tivesse queapostar, diria que eram autênticas.

A mulher voltou o olhar para o edifício.

- Este é um lugar que vale a pena dedicar toda uma vida profissional. -afirmou. - Embora tudo foi de mal a pior desde que perdemos o Brooke Astor. Bom, prazer em conhecê-la. Venha me visitar no quarto andar quando quiser.Provavelmente terá dúvidas e Deus sabe que nenhum outro se apressará emrespondê-las, se é que sabem a resposta. Bom, desfrute do sol.

Regina desejou lhe dizer que se especializou em Arquivos e Conservação, masnão queria que parecesse que estava competindo com ela. Entretanto, tinhacerteza que preferia trabalhar com a Margaret Saddle do que com a SloanCaldwell.

A mulher se afastou e Regina sentou-se novamente no degrau, esquecendo quetinha deixado a garrafa térmica com leite aberta.

Derrubou-a, o leite derramou pela escada e a pesada tampa caiu ricocheteandocomo uma bola.

Ela ficou horrorizada, sem saber o que fazer primeiro, da crescente poça delíquido branco ou da tampa que saltava cada vez mais rápido em direção áQuinta Avenida.

Levantou o recipiente térmico para deter o fluxo de leite e desceu correndoescada abaixo para alcançar a tampa, mas antes que tivesse podido baixar muitosdegraus, viu que um homem alto e de ombros largos a interceptava com umrápido movimento da mão. Olhou para ele, seus olhos eram de um escurocastanho aveludado, quase negro.

Quando se aproximou, surpreendeu-se ao notar que o coração disparava.

- Isto é seu?

Elevou a tampa com um leve sorriso no rosto, um rosto de feições duras, tãogrosseiramente belo que resultava perturbador. Tinha as maçãs do rosto altas,um nariz bem definido e uma diminuta covinha no queixo. Seu cabelo erabrilhante e escuro e o usava comprido o bastante para que as pontas seenrolassem ao redor do pescoço. Era mais velho que Regina.

- OH, sim... Sinto muito. Obrigada.

Agarrou a tampa e, embora se encontrasse um degrau acima dele, superava-a emaltura.

- Não é necessário que se desculpe. Embora, agora que vejo o desastre...Possivelmente sim.

Envergonhada, ela seguiu seu olhar até a poça de leite.

- OH... Irei limpar. Nunca deixaria que...

Mas seu sorriso lhe indicou que só brincava.

- Sem problemas. - disse-lhe, ao mesmo tempo em que devolvia a tampa deplástico preto.

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