Abro uma gaveta e começo a vasculhar as coisas que estão dentro, não sei ao certo o que procuro, talvez seja uma desculpa pra entender o que ainda faço naquele lugar. Ali nada encontro, fecho a gaveta sentindo um pouco de decepção. Sento na cama e estalo todos os dedos das mãos enquanto uma perna balança compulsivamente. Estava nervoso, suava frio. Ainda não entendia o que eu fazia ali. Tentei me acalmar contando até dez, ou cem. Olhei para o lado e vi uma foto dela. Sorri. Fechei os olhos sentindo exaustão.
Deito naquela cama e sinto seu cheiro. Aquele doce cheiro que só ela tinha. Eu a amava. Mesmo. Mas não entendia o que fazia ali. Depois de meia hora a sua espera, ela abre a porta do quarto e se assusta a me ver deitado em sua cama.
- Bernardo? O que faz aqui? – ela falou colocando sua bolsa em cima de uma cadeira.
Sentei na cama e esfreguei os meus olhos para conseguir ter um foco melhor dela. Ela estava linda. Estava não, ela é linda. Ela sentou no meu colo quando eu a chamei para fazer isso. Dei um beijo no seu pescoço enquanto sentia seus braços ao redor do meu.
E mais uma vez havia esquecido o verdadeiro motivo de estar ali.
Ela levantou e ficou de costas pra mim. Colocando as mãos na cintura, ela olhou para cima.
- Por que você faz isso comigo? – ela falou.
E mais uma vez eu não entendia o que fazia ali.
- Júlia...
Ela virou pra mim e percebi que seus olhos estavam cheio d’agua.
- Não, Bernardo. Você terminou comigo. Como você pode vir até aqui agora fingindo que nada aconteceu? Acha certo mesmo fazer isso comigo?
Fecho os olhos e ouço-a chorar. Sinto-me culpado por isso. Sussurro algumas palavras consoladoras e ameaço a ir embora. Mas ela me impede dizendo que não havia problemas. Mas ela estava certa, havíamos terminado, não fazia sentido eu estar ali. Agora eu entendia porque não achava o motivo de estar ali, pois não existia. Era costume, tudo costume... Até nosso amor era isso.
- Você quer voltar? – Ela falou sorrindo.
Sua esperança era tão grande, que até consegui sentir em mim. Nada respondi, apenas olhei para baixo.
- Vai embora.
Olhei dentro dos olhos dela. Uma raiva surgiu naqueles lindos olhos azuis. Quase me senti hipnotizado por eles. Ela sabia que eu não queria voltar.
Antes de sair de sua casa, escutei ela falar atrás de mim:
- Isso pode não ser um Adeus. Só preciso de um tempo para minha cabeça.
Sorri com a inocência dela em acreditar realmente que não estávamos voltando porque era do desejo dela, e não meu. Mas ela me confunde ao dizer aquilo, e não sabia o que ela faz pensar que eu a deixaria entrar de novo na minha vida. Se bem que, se eu não quisesse mesmo ficar com ela, o que fazia em sua casa às onze da noite de uma sexta feira?
