Prologo

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 As minhas pernas baloiçavam contra o tronco da árvore onde estava sentada, enquanto que os meus pequenos dedos arrancavam as pétalas de uma malmequer que tinha apanhado no caminho pela floresta até encontrar a clareira. O sol de inverno brilhava por entre as inúmeras árvores antigas, uma das coisas que tornava aquele lugar ainda mais especial. Era sempre aqui que me encontrava com ele desde há muito tempo, este era o nosso lugar especial.

Não podia vê-lo, mas o meu coração já gritava que ele estava próximo, o som dos seus passos era inconfundível e o vento trazia consigo o cheiro do perfume dele. O meu rosto foi iluminado por um largo sorriso à medida que os seus passos se aproximavam, e quando os nossos olhares se cruzaram pode reconhecer o mesmo sorriso de felicidade por me ver, mas eu sabia que havia mais alguma coisa na sua expressão. O seu olhar acabava sempre por o denunciar. Distante? Nervoso? Talvez. Os seus braços envolveram a minha cintura, e no momento seguinte os seus lábios já estavam colados aos meus num longo e nervoso beijo antes que eu pudesse dizer uma palavra. Após uns longos segundos, os nossos lábios separaram-se, e ele deixou cair a sua cabeça sobre o meu ombro despido pela camisola de alças, e os seus braços envolveram mais uma vez o meu corpo de uma forma quase sufocante. Sentia a sua respiração alterada no meu pescoço, ate que senti uma das suas lágrimas descer pelas minhas costas. Ele estava a chorar, era óbvio que as coisas tinham piorado, mas as palavras pareciam pedras na minha garganta e só desejava poder abraça-lo da mesma forma para poder tornar aquele abraço eterno ou pelo menos o mais longo possível.

Depois de me soltar, senti o ar atropelar-se nos meus pulmões, como se, por momentos, tivesse desaprendido como respirar, mas fiz de tudo para que ele não nota-se. Os olhos dele estavam vermelhos, inchados, mas nem por um segundo se desviaram dos meus. As suas palavras pareciam tão presas quanto as minhas, mas um só olhar substituía muitas delas.

-Eu amo-te - disse ele por fim.

-Vai ficar tudo bem - Respondi sem pensar, mas ambos sabíamos que estávamos longe de estar bem.

-O Afonso... ele tem todos os homens atrás de mim, foi quase impossível vir ate aqui sem que me seguissem.

-Nos vamos arranjar maneira de pagar, nos vamos conseguir. - Voltei a insistir eu não podia pensar no pior.

-O tempo acabou e nos não conseguimos, ele só esta a espera do dinheiro para desaparecer daqui e não vai descansar ate que o tenha. Ele já sujou as mãos muitas vezes e esta será apenas mais uma, ele não é do tipo de pessoas que fica pelas ameaças.

No meio dos arbustos, para lá da clareira, ouviam-se ramos a abanar de forma pouco natural, os olhos dele ficaram atentos assim como a sua audição.

- Não estamos seguros, corre até a estrada principal a norte, o Eduardo estará lá a tua espera quando chegares, já estava a espera disto.

- E tu? Para onde vais? – Perguntei lhe amedrontada.

-Vou correr ate a estrada e pegar no meu carro.

-Promete que te vou voltar a ver.

-Eu prometo, nem que seja nos teus sonhos, eu estarei sempre lá. Agora corre!




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