Capítulo 1- O ladrão de sonhos

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Era um dia tedioso, como todos os outros. Naquela época eu ainda tinha uma casa,e uma familia.
Eu vivia em Narashino, na província de Chiba. Como eu disse aquele era só mais um dia.
Eu me levantei cedo pela manhã, fui até a cozinha, peguei cereal em flocos no armário e leite na geladeira.
Enquanto eu tomava café da manhã meus pais e minha irmã se levantaram e foram até a cozinha também.
-Bom dia Ryuu-chan, disse minha irmãzinha, você acordou cedo hoje né?
-É eu não tenho conseguido dormir bem, eu respondi sorrindo. Ela só tinha sete anos mas era muito esperta.
-E quando foi que você conseguiu? Brincou o meu pai.
-Bom dia Ryuuzinho, disse minha mãe com voz de sono.
-Já falei pra não me chamar assim mãe, eu não gosto desse apelido.
Não eramos a melhor familia do mundo mas nos amávamos muito, as vezes eu me sinto mal por tomar a decisão que tomei, mas nunca senti arrependimento.
Eram férias de verão então eu passei a maior parte do dia enfiado no meu quarto usando o computador. No final da tarde decidi sair pra tomar um ar, a vizinhança era calma então não tinha problema.
Andei até uma praça a alguns quarteirões de casa, me sentei em um banco e fiquei observando as pessoas. Sempre tive essa mania, observar o comportamento dos outros para entender mais sobre eles.
Sou péssimo com sentimentos, não costumo ter emoções muito fortes, então observando eu aprendia como me portar para não ferir os outros.
As vezes eu tinha a impressão que eu simplesmente pertencia a outro mundo, não fazia sentido eu ter que aprender o que era natural aos outros.
Me distrai e acabei ficando tempo demais lá, já tinha anoitecido e não tinha ninguém na praça.
Fui direto pra casa, minha irmã já estava dormindo, meus pais ainda estavam acordados, perguntaram onde eu estava e depois de explicar tudo eu fui dormir.

No meio da noite eu ouvi passos no corredor e uma porta abrindo. Me levantei e fui ver o que era tomando cuidado para não fazer barulho.
A porta que dava para a rua estava aberta, quando eu olhei eu pude ver meus pais e minha irmã seguindo pela rua, ainda de pijamas.
Eu fui atrás deles e gritei:
-Ei! Ei! Onde vocês vão?
Eles pareciam não estar escutando, foi quando eu olhei a minha volta e notei que todos os vizinhos também estavam nas ruas, de pijamas e seguindo na mesma direção.
Eu pensei em empurrar eles para pararem, mas eles estavam com uma expressão vazia, com olhos profundos e opacos, pareciam sonâmbulos ou zumbis.
Eu pensei que era melhor segui-los fingindo estar como eles. Depois de alguns minutos nós entramos em um prédio abandonado.
Estávamos em um grupo de pelo menos trinta pessoas e pelo visto eu era o único acordado.
No terceiro andar do prédio todos pararam. Eu não pude acreditar no que eu estava vendo, era uma criatura aterrorizante, do tamanho de um pastor alemão ele era uma criatura atarracada com uma pequena tromba de elefante, muito curta mesmo para ele, ele possuía duas presas de marfim, uma cauda de touro, e uma pelugem grossa e aparentemente dura.
-É um yokai,eu pensei comigo mesmo, um Baku. Não é possível, é idêntico a descrição nos livro, mas não é possível existir um de verdade.
A criatura se ergueu ficando apenas sobre as patas traseiras e dele saiu uma voz profunda, mas sem que ele movesse a boca.
-Me desculpem, eu preciso de vocês, de seus sonhos.
Das outras pessoas começou a sair algum tipo de fumaça dourada, algumas tomavam formas, principalmente as das crianças, cachorrinhos, pôneis, entre varias outras coisas.
Foi quando eu olhei para a minha irmã, também saia a mesma fumaça dourada, mas a dela tinha o formato de um pequeno beagle.
Nesse momento eu percebi, aquilo eram os sonhos das pessoas, a minha irmã sempre quis um beagle de estimação.
-Os Bakus eram conhecidos nas lendas por roubar pesadelos, eu disse em voz alta sem pensar, não sonhos bons, sem os sonhos o que restara as pessoas?
Repentinamente o Baku disse:
- Alguém entre vocês não esta hipnotizado, eu não consigo controla-lo. Peguem-no.
Eles me cercaram e me agarraram, não tive como correr. Me levaram de frente para a criatura, os olhos dele eram pequenos mas pareciam velhos, como os de alguém que viu muitas coisas ruins e vive com isso a muito tempo.
Ele me olhou nos olhos, parecia estar entrando na minha cabeça. Eu me distrai de novo, droga isso sempre acontece, comecei a pensar nos livros de lendas antigas, se o Baku era real todas as lendas poderiam ser também.
Que mente confusa garoto, falou o Baku, eu me perdi dentro dela, por isso não consigo te controlar. Me diga, qual o seu sonho?
Ele estava na minha mente novamente. Não podia deixar ele levar os meus sonhos, são tudo o que eu tenho, são meus objetivos de vida.
Tentei me concentrar em outras coisas, qualquer coisa, mas justamente agora minha mente estava em branco.
Eu sentia ele na minha mente, vasculhando minhas memórias. Nunca tive um sentimento de posse tão grande quanto o que tive pelos meus sonhos naquele momento.
-Conhecimento, eu disse com voz rouca. Obter conhecimento e viajar pelo mundo.
Minha cabeça doía como nunca. Não me entendam mal, eu não me entreguei, comecei a repetir essas palavras desesperadamente tentando não esquecer meus sonhos.
-Isso não vai adiantar garoto, não sei como aguentou até agora, mas se eu não posso te fazer esquecer dos seus sonhos e do que viu aqui eu terei que tirar sua vida.

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