Capítulo 5

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Passado - Lu

Festa. Hoje era um dia de festa.

Na verdade, um baile de formatura. Minha casa estava lotada. Minha mãe, por pura praticidade, contratou um cabelereiro famoso e toda sua equipe para nos preparar para a comemoração de formatura do meu primo. Ele era o primeiro, da nossa geração, a se formar. E em um curso, cujo prédio da Faculdade levava o nome da nossa família "Abílio de Andrade Câmara".

Ele era meu avô. Vovô Dadi, como eu o chamava.

Minhas primas estavam sentadas num fileira de cadeiras ao meu redor, todas com bobes imensos na cabeça. Seus cabelos eram tão diferentes dos meus, que além de lisos eram completamente rebeldes em qualquer tentativa de modifica-los. Mas o renomado esteticista contratado, insistiu, dizendo que o "seu" método era infalível. Eu sorria por dentro, prestes a contemplar o desapontamento que ele teria em instantes...

Maira, a duas cadeiras de mim, alheia aos produtos que o profissional passava em seu cabelo, sorria para alguma notícia estranha que lia em sua revista. Era meio fora da terra, interessada em reportagens sobre buraco negros e teorias que desafiam a relatividade de Einstein. E ainda assim, estudava Direito como todas nós.

- Ju? – Fernanda, minha irmã, chamava a Juliana, bem do seu lado – Juliana?

- Oi? A outra respondeu aérea, entretida também só que em uma revista de moda, levantando olhos cansados.

- Não aguento mais esse "mala" mexendo na minha cabeça! – ela apontava os fios presos de maneira desordenada na cabeça – sabemos que não vai dar em nada, em menos de uma hora estaremos com o cabelo chapado de sempre!

Eu sorri para Nanda, contemplando seu rosto divertido diante da situação ridícula em que estavam. Ninguém era tão franca quanto minha irmã, e de verdade, ela estava certa. Eu mesma já havia tentado enrolar seu cabelo com cerveja, e a única coisa que conseguimos, foi um cheiro insuportável em um cabelo escorrido de tão liso.

Mas Ju, sempre conciliadora, desconversou:

- Vai dar certo, Nanda – ela olhou ao redor, conferindo cada uma de nós sendo retocada em alguma mecha – o cara é bom.

Nanda riu, olhando diretamente para mim como sempre fazia para evitar uma discussão estúpida. E antes que eu dissesse algo, minha outra prima interviu:

- Não seja tão pessimista, Fernanda – ela olhou para mim, quando continuou – podemos não ter os cabelos de Lu, mas isso não significa que não podemos conseguir algo próximo de uma Diva – remexeu as mãos de maneira teatral quando terminou.

- Você falando desse jeito, Sá, soa tão "invejoso" – respondeu Nanda.

Eu fingi que lia uma revista de um assunto qualquer para me abster de algum comentário. Nunca entendi porque uma garota como Samanta, insistia em invejar algo em alguém. Ainda mais, em mim.

Eu subi para trocar minha roupa, porque já havia terminado meu dia de beleza. Uma rápida hidratação e manicure foi tudo que fiz. Nem deixei me maquiarem, porque não queria ser confundida com minha mãe ou minha Tia. Ou minha Vó. Minha própria nécessaire no meu quarto, seria suficiente.

Subi as escadas, sorrindo para discussão que se instalou sobre quanto tempo os cachos "milagrosos" iriam durar. Uma disse "duas horas", outra até o final da festa, até que minha irmã gritou "três minutos".

Minha mãe saía do seu quarto, já vestida em um elegante tubinho vermelho rubi. Sua cintura era marcada pela costura impecável, e seu cabelo, preso em um coque de princesa perfeito. Uma única joia surgiu em seu corpo, capaz de se destacar ainda mais que sua silhueta: o anel de rubi da família. Passado de geração para geração, e que em breve, seria meu.

Obscuro - A verdade tem dois ladosOnde histórias criam vida. Descubra agora