35° Maria Padilha do Cemitério

2.6K 42 0
                                    

      Vativa ficou totalmente arrepiada quando ouviu o quê a bruxa lhe
disse:

— Precisamos do sangue de um inocente! — sua mente imediatamente focalizou a imagem de Yorg, seu pequeno filho de apenas três anos.

Seus pensamentos vagaram por alguns instantes enquanto a mulher remexia em um pequeno caldeirão de ferro.

       Estava ali por indicação de uma vizinha que conhecia o problema pelo qual estava passando. Era casada, não tinha queixas do marido, mas de repente parece que uma loucura apoderou-se dela.

Apaixonara-se por um rapaz de dezessete anos, ela uma mulher de trinta, bela e fogosa não resistira aos encantos do adolescente e sua vida transformou-se em um inferno.

       Já traira seu marido algumas vezes, mas desta vez era algo fora do
comum, não conseguia conceber a vida longe do rapaz.

Conversando com a vizinha, a quem contava tudo, esta aconselhou-a:

— Vá falar com a bruxa Chiara ela resolve o assunto para você.

Pensou durante alguns dias e não resistiu, foi procurar pela
feiticeira.

         O ambiente era horrível e a aparência da mulher assustadora, alta, muito magra, com apenas dois dentes na boca, vestia-se inteiramente de preto e fora logo dando a solução:

— Vamos matar seu marido, aí você ficará livre e se muda para outro
povoado, bem distante, levando seu amante!

        Vativa ficou assustada, não era essa a idéia. Não tinha porque
matar seu marido

— Não há um jeito mais fácil?

— De forma alguma, se o deixarmos vivo, quem morre é você!

— Mas não se preocupe eu cuido de tudo.

Foi aí que ela falou do sangue inocente.

— A senhora está tentando dizer que tenho que sacrificar meu filho?

— Para fazer omelete, quebram-se ovos...

Vativa não estava acreditando, a mulher dizia barbaridades e sorria
cinicamente. Levantou-se e saiu correndo apavorada.

         A risada histérica dada por Chiara ainda ecoava em seus ouvidos
quando chegou a casa.

Desse dia em diante suas noites tornaram-se um tormento, bastava fechar os olhos para ver aquele homem todo de preto que a apontava com uma bengala:

— Agora você tem que fazer!

em outras ocasiões ele dizia:

— Você não presta mesmo, nunca prestou!

Vativa abria os olhos horrorizados e não conseguia mais dormir. Uma noite, já totalmente transtornada com a aparição freqüente, saiu gritando pela casa. Ouvindo os gritos da mãe o pequeno Yorg, acordou e desatou a chorar. Sem saber como, a faca apareceu em sua mão.

— Cale a boca, garoto dos infernos! — a lâmina penetrou por três vezes no pequeno corpo.

        Retomando a consciência não suportou a visão do crime cometido e caiu desmaiada. Na queda, a vela que iluminava o pequeno ambiente caiu-lhe sobre as vestes e em pouco tempo o fogo consumia tudo.

Por muitos anos o espírito de Vativa vagou até conseguir a chance de evoluir junto a um grupo de trabalhadores de esquerda.

        Hoje todos a conhecem pela grandeza dos trabalhos que pratica na linha da guardiã Maria Padilha, mas se há uma coisa que ela odeia é relembrar o fato, por isso poucas vezes o comenta.

Com posto garantido na falange do cemitério detesta ser lembrada para amarrações e perde a compostura quando há um pedido do gênero.

A encruzilhada dos Guardiões Onde histórias criam vida. Descubra agora