36° Maria Padilha das Almas

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     Tereza invadiu a igreja de uma forma como nunca havia feito antes. Não se benzeu e nem ao menos olhou para a imagem de Cristo, que de sua cruz, agonizante, parecia olhar diretamente para ela enquanto avançava pela nave. Precisava falar com o padre Olavo nesse instante, não havia tempo a perder.

- Padre! - seu grito ecoou pelas paredes repletas de símbolos aos quais ela sempre dera imenso valor, mas que nesse momento nada mais eram que meras imagens que apontavam-lhe o dedo culpando-a pelo pecado gravíssimo que cometera.

- Padreee! - a voz subira de tom a ponto de atrair imediatamente o coroinha que estava a dormitar atrás do altar.

- Dona Tereza, o padre Olavo foi atender um doente que precisa de extrema unção. - Disse o coroinha.

A mulher sentou-se em uma cadeira da primeira fila e desatou em copioso pranto. O menino sem saber o que fazer correu para a rua e encontrou o padre que vinha já bem perto.

- Dona Tereza está chorando como louca lá na igreja, o caso deve ser sério!

Olavo sentiu um baque no peito. O que teria acontecido? Alguém teria descoberto?

- Tudo bem Jonas, pode ir para casa que eu cuido disso.

Apressou o passo e da porta ouviu o choro da mulher.

- Tereza, o que houve? - com um salto ela levantou-se e com o dedo estendido para ele gritou:

- Eu estou grávida, cafajeste! Grávida de você! Como pode deixar isso acontecer? Você me jurou que isso não seria possível, que não podia ter filhos. O que faço agora? Meu nome será lançado na lama! E meu marido? Meus filhos?

- Calma! - ele tentava ganhar tempo enquanto em sua cabeça as imagens passavam em turbilhão. O que faria com essa louca? Fora ela quem o seduzira, enfiara-se em sua cama, nua, em uma tarde que gostaria de esquecer. Tentara-o com seu belo corpo e se entregara de forma avassaladora.

Porque dizia que o filho era seu? Ele mesmo sabia de seus amantes, ditos em momentos de confissão muito antes da tarde fatídica.

- Vamos sentar, respire fundo! Como sabe que é meu? - falava pausadamente! tentando inspirar confiança - Não pode ser de seu marido ou... de outro?

- Só o que me faltava era isso - o tom subira novamente - me engravida e ainda me chama de vagabunda. Nunca mais dormi com homem algum depois de nosso encontro, meu marido viaja muito e nas poucas vezes que esteve em casa, não me entreguei a ele, por amor a você!

Depois de pensar um pouco falou:

- Então não há alternativa além do aborto, procure uma dessas velhas rezadeiras e dê um jeito nisso, o que espera que eu faça?

- Precisamos fugir, eu abandono tudo para ficar ao seu lado! - desesperada segurava a batina do padre com força - Teremos nosso filho longe daqui! -

     Tentando ganhar tempo Olavo tirou as mãos dela de sua roupa. dirigiu-se ao altar e tamborilou com os dedos sobre a branca toalha, virou-se com raiva.

- Nunca! Vire-se! Você foi a culpada, me levou para a perdição agora quer acabar comigo? Como posso largar o sacerdócio e viver com uma prostituta que deita em qualquer cama com qualquer um?

Tereza deu um grito de ódio e partiu para cima do padre. Havia um punhal em sua mão que esconderá no vestido quando se sentou no banco. A lâmina afiada foi cravada no abdômen do rapaz que caiu de joelhos.

     Ela continuava com a arma na mão manchada com o sangue do padre e foi com ela que cortou a própria jugular, tendo morte quase instantânea. Por muitos anos o espírito de Tereza foi torturado pelas visões dessa e de outras vidas em que sempre causara sofrimento e mortes.

Ao atingir um nível de compreensão adequado ao caminho evolutivo, tornou-se Maria Padilha das Almas, e ainda hoje busca ajudar a todos que a procuram tentando fazer com que novas almas não se percam como ela se perdeu por diversas vezes.

Somente quem já teve contato com essa grande pomba-gira, sabe dos conselhos firmes dados por ela e da tristeza que ainda deixa transparecer em suas incorporações.

(Minha Pomba Gira <3)

A encruzilhada dos Guardiões Onde histórias criam vida. Descubra agora