Capítulo 10

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Músicas do capítulo: Como Home - One Republic / Tu És Ma Came - Carla Bruni

- Fiz algo errado? - Perguntei enquanto a encarava.

- Nã-não. Claro que não.

- Quer que eu chame outra garota?

- Não, não é isso. Você é...- Camila percorreu os olhos pelo meu corpo e deu um suspiro. - Linda, nossa, muito linda mesmo. - Sorri.

- Então...

- Eu nem deveria estar aqui. Mani que me forçou. Eu queria estar em casa, curtindo minha fossa, devorando uma pizza e depois um enorme pote de sorvete. - Arqueei uma sobrancelha enquanto pegava um roupão para me vestir. - Eu nem queria ter saído de casa. Mas a Mani acha que tudo se resolve assim saindo pro puteiro para comer gente nova.

- Woow.

- Me desculpe. - Ela foi se aproximando enquanto falava rápido.

- Você por acaso sabe o que é ser traída? Sabe como é terminar um relacionamento de anos sendo que você queria passar o resto da vida com a pessoa? Eu não queria terminar eu queria ela comigo mas ela simplesmente disse que não dava mais tudoissoporculpadaputadaTaylore..

- EI. - Interrompi a garota. - Respira! Se não quer fazer nada, tudo bem, mas posso conversar se isso te fizer melhor.

- Sério? Você pode ir ganhar seu dinheiro com outros clientes se quiser. Eujuroquevoutepagarmasnãoprecis..

- Você está tagarelando de novo. - Ela abriu um sorriso envergonhado.

- Me desculpe.

- Sério, senta aqui. - Sentei na cama e a chamei. - Abra seu coração.

Ficamos ali sentadas enquanto Camila contava que havia sido traída por sua namorada, a pessoa para quem ela tinha entregue sua vida. Ela realmente havia aberto mão de muita cosia por causa da garota. Sua família tinha uma ótima condição financeira, mas ela perdera todos os privilégios quando decidiu se assumir gay. Sempre sentira vontade de ficar com meninas, mas nunca achou necessário gritar essa vontade para o mundo, até que apareceu Hailee. A garota não aceitava um relacionamento escondido e ameaçou várias vezes terminar com a morena caso ela não tomasse uma posição e então Camila o fez. Foi até seus pais e contou tudo. Aquilo resultou em muitos gritos, choros e Camila na frente da casa com as malas nas mãos. Ela passou os primeiros meses morando com Normani que era sua melhor amiga desde que ela se entendia por gente, mas depois conseguiu um emprego e alugou um apartamento para morar com Hailee. Agora não sabia mais se fazia sentido morar lá. Cada pedaço daquele lugar a lembrava da garota. Ela provavelmente passaria os seus dias chorando pelos cantos.

A garota contava tudo com um expressão abatida no rosto, por vezes lágrimas rolaram e eu as enxuguei. Era estranho porque quando entrava da porta pra dentro com os clientes eles não queriam perder tempo conversando, pelo contrário, mantinham minha boca bem ocupada. Camila era diferente. Não apenas por ser uma mulher, mas a aura dela tinha algo diferente. Eu sentia uma vontade enorme de abraçar a garota e não soltar mais, mas era óbvio que não podia .

- Você...você já sentiu como se não se conhecesse mais? - Camila perguntou depois de alguns minutos de silêncio. Eu sorri com a pergunta, já tinha pensado nisso algumas vezes. - Como se a pessoa do passado fosse uma e de repente você se olha no espelho, vê todas as mudanças e pensa: será que fiz as escolhas certas? - Exitei em começar a falar, mas dei um longo suspiro, me levantei da cama e de costas para Camila me permiti abrir meu coração.

- Sabe, as vezes eu olho no espelho e é como se eu não visse reflexo nenhum. Não consigo reconhecer a pessoa que me tornei. Acha que me orgulho do que faço? - Virei para Camila, a morena apenas me olhava atentamente. - Se pensa isso, está muito enganada. Quando olho no espelho eu vejo uma pessoa triste, que se perdeu na vida, fugiu, que não aguentou as dores que sentiu e poderia ainda sentir e aí procurou uma saída. - Camila continuava atenta a cada palavra. - Se eu sinto saudades? - Suspirei com os olhos cheio de lágrimas. - Talvez, mas não dos momentos que passava, mas da pessoa que era. Desculpe se for complexo para você, mas até para mim é. Entender como cheguei onde estou, sabe. Eu fui uma criança feliz, certamente porque não entendia o que se passava a minha volta, não sabia o que era viver. Cresci, e quando entendi o que acontecia a minha volta não achei graça alguma, até chegar na fase que o que eu mais desejava era poder sumir sem dar notícias, e agora aqui estou desejando que até mesmo a morte me levasse, porque só assim cessaria minha dor. - Camila tentou falar. - Não tente entender, nem me peça para aprofundar, eu simplesmente não posso. Só que...é difícil demais, não exista cálculo que mostre com exatidão a dor que sinto. Sofro pelas mudanças, mas tenho que parecer feliz. Me entristeço por passar por isso, mas sorrio por ajudar alguém. Em cada noite que vou dormir o peso de tudo cai sobre mim e é como se me sufocasse, fica tudo entalado e eu quase paro de respirar. Acho que tudo é um pesadelo e então acordo para ver que é a minha realidade. Sabe o que me sustenta? Meu coração, que apesar de ferido e decepcionado, me dá forças pelo amor as pessoas que sempre deram tudo por mim.

Jauregui's Bawdy HouseWhere stories live. Discover now