Visão Turva

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O que faz com que amemos alguma pessoa especificamente? Por que as sinapses em nosso cérebro liberam o hormônio do amor de maneira irracional e inconsciente? Não é incomum nos apaixonarmos por alguém que se pensássemos friamente, por um segundo, saberíamos o quão errado isso seria.

Pergunto-me o que acontece com nosso cérebro que simplesmente ignora os sinais claríssimos produzidos diariamente de que nada daquilo irá nos fazer felizes e mesmo assim continuamos a insistir exaustivamente naquele relacionamento?

Quando o coração bate fortemente por alguém, por um longo tempo apenas somos capazes de analisar turvamente o outro, qualquer falha nos passa despercebida.

Aquilo que foi ignorado no início começa a se mostrar, e mesmo com a parte racional de nossa mente piscando em alerta, a parte emocional insiste em ignorá-la.

Começa em nosso íntimo uma constante luta entre como o outro é verdadeiramente e como nós o interpretarmos.

Se amamos aquela pessoa tendemos a dar mais vazão a nossa percepção fantasiosa do que a realidade, e criamos em nossa mente um Ser imaginário que habita a pessoa real a nossa frente. Frustrando-nos toda a vez que a pessoa real se faz presente.

Por que as pessoas continuam a insistir em um relacionamento com uma pessoa que só lhe faz infeliz?

Em tese, apenas bastaria mandar seu par errado embora e partir em busca de outro. Há uma porção de pessoas pelo mundo a escolher.

Talvez a insistência de manter-se com o errado se dê pelo fato de termos a fantasia de que sempre é possível mudá-lo, moldá-lo como sonhamos. Mas as pessoas só transformam quem são se elas quiserem isso por si mesmas.

Em alguns relacionamentos tal fracasso em mudar o parceiro é percebido nos primeiros meses, em muitos outros, nossa percepção pode nos enganar por anos.

Ao nos darmos conta de nossa incapacidade, e consequentemente nossa infelicidade por fracassar, podemos simplesmente: Ou aceitarmos aquele que está ao nosso lado não mais com olhos nublados pelo amor e sim com a nitidez da razão e reaprendermos a nos relacionarmos com a verdadeira pessoa apresentada a nós, isso significa relevar as falhas que nos chateiam tanto. Ou, quando as falhas do outro são incompatíveis com nossa felicidade, por mais que nossa mente emocional reclame, devemos simplesmente abandonar aquele par e ir à busca de outro com quem possamos nos sentir mais realizados. Mas nem sempre é fácil.


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