I - "Prólogo Pt. 1"

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Madrugada - Orfanato Filhos do Vento.

A fina garoa continua regando o gramado do lado de fora. Tanto os funcionários quanto as crianças e os jovens estão praticamente hibernando em seus aposentos. Ninguém ousa desperdiçar um segundo sequer do precioso silêncio da noite e dormem feito tijolos baianos. No pequeno quarto localizado aos fundos da grande área de serviço do orfanato não é diferente. Um rapaz descansa profundamente sobre o colchonete surrado, assim como o gato de pelagem escura deitado em cima do seu peito.

O orfanato é um dos poucos locais na grande cidade onde é possível ouvir a sinfonia dos grilos ecoando pelos cômodos. Além disso, nada de luzes artificiais, nada de trens passando, nada de aviões rasgando o ar. A escolha de construir o Filhos do Vento justamente entre o centro e a área de preservação ambiental foi a melhor coisa que os fundadores fizeram a quase sessenta anos atrás.

Mas, especificamente no pequeno quarto atrás da área de serviço, algo quebra a majestosa paz noturna e acorda o rapaz com várias cicatrizes no rosto e seu gato de estimação.

VUUUUUH VUUUUUH VUUUUUH...

Após murmurar um pouco e ficar tapeando o pequeno armário ao lado da cama, o jovem consegue finalmente encontrar o celular que está vibrando progressivamente. Abrindo os olhos com dificuldades por conta da iluminação em péssima hora e ainda bastante sonolento, ele leva o aparelho até o ouvido, percebe que a vibração continua, olha para o visor novamente, dá algumas pressionadas no teclado e finalmente consegue atender a chamada, dizendo:

- Esculta aqui seu filho da-

- T-Tio Vince? Diz que é você, por favor... - Pergunta a voz do outro lado da linha. Uma voz meiga, feminina e infantil.

O rapaz chamado Vince arregala os olhos e arrepia ao reconhecer a pessoa que está ligando. O gato preto acorda, sai de cima do seu dono e estica seu pequeno corpo peludo para se alongar.

- Alaninha?! - Ele faz uma pausa, coçando os olhos e se sentando na cama, tentando expulsar o sono e ficar alerta. - Alaninha, você está bem?!

Mesmo um pouco baixo, Vince ouve algo parecido com veículos passando e barulhos confusos ao fundo. Além disso, o tom da voz da menina e as pausas que ela dá demonstra que ela está bastante desconfortável com a ligação ou algo que aconteceu.

- Mais ou menos... - Alaninha responde, não sendo nada convincente.

- Alaninha, você se lembra do que combinamos, certo? - Pergunta Vince, já de pé e inquieto no pouco espaço livre do seu dormitório.

- Lembro tio... - Pausa na voz e som de choro. - Você disse pra eu te ligar se aquilo acontecesse...

Vince fica paralisado e sente sua espinha esfriar. Seus olhos arregalados encarando o nada.

- E... Aquilo aconteceu? - Ele pergunta, temendo tremendamente ter a resposta que está suspeitando ter.

A garotinha do outro lado da linha desaba em lágrimas. Ouvir isso deixa Vince estarrecido. Ele fecha as mãos com força, sua mandíbula é contraída ao máximo e o ódio ferve nos olhos.

- Aham... - Responde Alaninha após alguns segundos, soluçando e suando o nariz em alguma coisa.

- Eu sabia! Eu sabia que aquele desgraçado ia fazer isso com a ela! - Diz Vince para si mesmo ou para o gato, tampando o microfone do celular para que a garota na linha não o ouvisse reclamando agressivamente. Ele abre a porta do armário ao lado da cama, retira um conjunto de roupas escuras e começa a se trocar, deixando o celular no viva-voz.

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2016 ⏰

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