fifty-one

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- Fabi. - Ouvi uma voz bem distante me chamando - Acorda, dorminhoca. Hey.

Eu me mexi na cama, virando o rosto para o lado contrário de onde vinha a voz. Senti alguém subir na cama e se aproximar de mim, porém continuei dormindo.

- Bela adormecida, acorde. - Senti um beijo ser depositado na minha bochecha e abri um pouco os olhos.

As cortinas do quarto estavam fechadas e quase não havia claridade, o que era ótimo. Lentamente eu me espreguicei, ficando de barriga para cima na cama e olhando para a menina de olhos claros a minha frente.

- Alguém é bem ruim para acordar, não é mesmo? - Ela falou com um sorriso bobo nos lábios. Eu bocejei e passei as mãos no rosto.

- Que horas são?

- Onze e meia.

- Acho que dormi de mais. - Sorri - Não que eu esteja reclamando.

Manuella sorriu enquanto revirava os olhos e então saiu de cima da cama.

- Eu fiz isso pra você. - Ela falou pegando uma bandeja com algumas guloseimas - Não é exatamente um café da manhã, até porque já é quase hora do almoço, mas espero que esteja bom.

Eu me sentei na cama, tendo uma visão melhor da bandeja, e notei que nela haviam diversas coisas diferentes. Tinha frutas, biscoitos de diversos tipos, suco, torradas, geléias de vários sabores, nutella...

- É bastante coisa. - Falei um pouco surpresa.

- Eu não sabia com quanta fome você estaria ao acordar, então pus tudo o que achei que você iria gostar.

- Obrigada. - Sorri e Manuella se aproximou, me dando um selinho.

Nós duas começamos a comer o que havia na bandeja e quando ficamos satisfeitas eu a ajudei a levar as coisas para a cozinha.

- Manu, está tudo bem para você ter faltado aula hoje? - Perguntei enquanto a mais velha lavava a louça.

- Está. Eu quase nunca falto, então não tem problema. - Eu sorri para a menina a minha frente. Ela estava sendo tão gentil comigo.

Caminhei para mais perto da mais velha e depositei um beijo em sua bochecha. Por alguma razão ela corou e eu gostei de ter feito isso.

- O-o que foi? - Ela gaguejou e eu sorri por causa do seu nervosismo.

- Obrigada. - Dei mais um beijo em sua bochecha - Por tudo.

- Como assim? - Ela parecia confusa.

- Obrigada por ter me acolhido ontem, por ter cuidado de mim enquanto eu chorava, por ter faltado aula por mim, por tudo. - Eu segurei seu rosto entre minhas mãos - Você é um anjo, Manu. Muito obrigada.

Lentamente eu aproximei nossos rostos até colar nossos lábios, iniciando um beijo calmo. Diferente das outras vezes que nos beijamos, agora estávamos apenas aproveitando a presença uma da outra. Nossas línguas se tocavam em ritmo lento, nossos lábios se moviam sem pressa ou desejo. Era um beijo apaixonado.

- Nossa. - Manuella sussurrou quando nos afastamos. Eu corei um pouco ao notar seu olhar em mim e encarei o chão.

- Eu vou tomar banho. - Falei antes de sair da cozinha o mais rápido que pude. Ela sempre me faz sentir fraca.

~{°~°}~

Tocamos a campainha da minha casa e aguardamos alguém atender. Já passava das três da tarde e, provavelmente, meu pai já teria ido embora a essa hora. Manuella estava a minha frente enquanto aguardávamos minha mãe abrir a porta, e a mais velha já estava totalmente pronta para discutir se minha mãe falasse algo que pudesse me magoar. Eu amava o jeito super protetor da Manuella comigo, mas mesmo assim eu ainda me sentia nervosa de estar voltando em casa depois de tudo o que aconteceu.

A porta finalmente foi aberta, nos permitindo ver a jovem tão conhecida por mim.

- Fabi! - Paola gritou aliviada - Você está bem.

- Paola! - Passei direto por Manuella, indo abraçar a irmã do meu melhor amigo.

- Giovana, a Fabiana voltou! - Paola gritou para a minha mãe que estava em algum lugar dentro de casa.

De repente minha mãe e o Rafael surgiram correndo na sala e eu me assustei um pouco. Eu nunca imaginaria que depois de ontem a minha mãe fosse estar preocupada comigo.

- Fabiana! - Ela falou me puxando para um abraço muito apertado - Para aonde você foi? Eu fiquei tão preocupada.

Eu comecei a sentir algo molhado na minha blusa e deduzi que minha mãe estava chorando.

- Calma, mãe. - Falei a abraçando de volta - Eu estou bem. Está tudo bem.

Ela me largou, me olhando dos pés a cabeça como se estivesse procurando algum machucado ou coisa do tipo. Seu rosto ainda estava molhado e inchado por provavelmente ter passado a noite chorando.

- Para aonde você foi? Eu falei com todos os seus amigos, mas nenhum deles sabia de você. Hoje de manhã eu pedi para a Paola e o Rafael virem pra cá para talvez começarmos uma busca pelas ruas. Eu já estava quase ligando para a polícia. - Ela falou afobada e eu fiquei em choque ao ouvir aquilo.

"Minha mãe não me odeia?"

- Eu fui para a casa da Manuella. - Falei e virei para trás, vendo a menina de olhos claros um pouco acuada perto da porta.

- Manuella? - Minha mãe olhou para a mais velha - Eu conheço você. Você já veio aqui em casa uma vez, trazendo a Fabiana de uma festa.

- É. - Ela falou completamente tímida.

- Ela é a garota que você falou que estava namorando? - Eu arregalei os olhos e notei a mais velha corar.

- Nã-não. Quer dizer, a gente... A gente não namora.

- Não foi isso o que você falou no grupo. - Rafael comentou.

- Cala a boca, Rafael! - O menino levantou as mãos em desistência.

- Você cuidou da Fabiana? - Minha mãe perguntou se aproximando da garota de olhos claros que estava bastante vermelha.

- Sim. Eu não poderia deixa-la na rua, eu gost-nós somos amigas.

- Muito obrigada. - Minha mãe disse segurando nas mãos dela - Você não sabe o quanto sou grata por não ter deixado que nada de ruim acontecesse a ela.

- Mãe, você... não me odeia? - Perguntei um pouco incerta de qual seria a resposta.

- Não, Fabiana. - Minha mãe se aproximou de mim - Eu nunca te odiaria, minha filha.

Ela me abraçou de novo.

- Mas eu pensei que, depois de tudo o que o meu pai falou e tudo o que aconteceu, você me odiasse também.

- Claro que não. - Ela me largou e segurou meu rosto com as duas mãos - Eu te amo, minha filha. Nenhuma opção sexual vai mudar isso. Você é perfeita do jeito que você é.

Ela me deu um beijo na testa e eu não pude conter as lágrimas ao ouvir aquilo.

- Mas e o papai? - Minha mãe suspirou pesado.

- Eu vou me divorciar dele. - Eu arregalei os olhos em surpresa - Não vou manter casamento com um homem que trata a nossa filha desse jeito! Ontem, depois que você sumiu, eu o pus para fora de casa e disse que queria o divórcio.

- Está tudo bem pra você? - Perguntei um pouco preocupada.

- Sim. - Ela sorriu de forma tranquila - Desde que você esteja bem, eu sempre vou estar bem.

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Obrigada por ler ;)

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