Antes da aproximação de uma tempestade, quando esperavam o naufrágio de um navio, as irmãs costumavam nadar diante do barco e cantar docemente as delícias das profundezas do mar. Diziam aos marinheiros para não terem medo de mergulhar até o fundo, mas eles nunca entendiam suas canções. Pensavam estar ouvindo os uivos da tempestade. Nunca viam, também, nenhuma das delícias que as sereias prometiam, pois se o navio afundava, os homens se afogavam, e era só como homens mortos que alcançavam o palácio do rei do mar.
Quando as irmãs subiam assim de braços dados pela água, a caçula sempre ficava para trás, sozinha, acompanhando-as com os olhos. Teria chorado, mas as sereias não têm lágrimas e sofrem ainda mais que nós. "Oh, se pelo menos eu tivesse quinze anos", ela dizia. "Sei que vou gostar muito do mundo lá de cima e de todas as pessoas que vivem nele."
Então finalmente ela fez quinze anos. "Bem, agora você logo escapará das nossas mãos", disse a velha rainha-mãe, sua avó. "Venha, deixe-me vesti-la como suas outras irmãs", e pôs no seu cabelo uma grinalda de lírios brancos em que cada pétala de flor era metade de uma pérola. Depois a velha senhora mandou trazer oito grandes ostras para prender firmemente na cauda da princesa e mostrar sua alta posição.
"Ai! Está doendo", disse a Pequena Sereia.
"Sim, a beleza tem seu preço", respondeu a avó. Como a Pequena Sereia teria gostado de se livrar de todos aqueles enfeites e pôr de lado aquela pesada grinalda! As flores vermelhas de seu jardim assentavam-lhe muito melhor, mas não ousou fazer nenhuma modificação. "Adeus", disse, ao subir pela água tão leve e limpidamente quanto as bolhas se elevam à superfície.
O sol acabara de se pôr quando ela ergueu a cabeça sobre as ondas, mas as nuvens ainda estavam tingidas de carmesim e ouro. No alto do céu pálido, rosado, a estrela vespertina luzia clara e vívida. O ar estava ameno e fresco. Um grande navio de três mastros deslizava na água, com apenas uma vela hasteada porque não soprava nenhuma aragem. Os marinheiros estavam refestelados no cordame ou nas vergas. Havia música e canto a bordo, e quando escureceu uma centena de lanternas foi acesa. Com suas muitas cores, tinha-se a impressão de que as bandeiras de todas as nações estavam drapejando no ar.
A Pequena Sereia nadou até a vigia da cabine e, cada vez que uma onda a levantava, podia ver uma multidão de pessoas bem-vestidas através do vidro claro. Entre elas estava um jovem príncipe, a mais bonita daquelas pessoas, com grandes olhos escuros. Não podia ter mais de dezesseis anos. Era seu aniversário, e era por isso que havia tanto alvoroço. Quando o jovem príncipe saiu para o convés, onde os marinheiros estavam dançando, mais de uma centena de foguetes zuniram rumo ao céu e espocaram num esplendor, tornando o céu claro como o dia. A Pequena Sereia ficou tão surpresa que mergulhou, se escondendo sob a água. Mas depressa pôs a cabeça para fora de novo. E veja! Parecia que as estrelas lá do céu estavam caindo sobre ela. Nunca vira fogos de artifício assim. Grandes sóis rodopiavam à sua volta; peixes de fogo refulgentes lançavam-se no ar azul, e todo esse fulgor se refletia nas águas claras e calmas embaixo. O próprio navio estava tão feericamente iluminado que se podiam ver não só todas as pessoas que lá estavam como a corda mais fina. Que garboso parecia o jovem príncipe quando apertava as mãos dos marinheiros! Ele ria e sorria enquanto a música ressoava pelo delicioso ar da noite.
Ficou tarde, mas a Pequena Sereia não conseguia tirar os olhos do navio ou do belo príncipe. As lanternas coloridas haviam sido apagadas; os foguetes não mais subiam no ar; e o canhão cessara de dar tiros. Mas ela estava desassossegada e era possível ouvir um som queixoso, zangado, sob as ondas. Mesmo assim a Pequena Sereia continuou sobre a água, balançando-se para cima e para baixo para poder olhar a cabine. O navio ganhou velocidade; uma após outra as suas velas foram desfraldadas. As ondas cresciam, nuvens pesadas escureciam o céu e relâmpagos faiscavam a distância. Uma tempestade pavorosa estava se armando. Por isso os marinheiros recolheram as velas, enquanto o vento sacudia o grande navio e o arrastava pelo mar furioso. As ondas subiam cada vez mais alto, até se assemelharem a enormes montanhas negras, ameaçando derrubar o mastro. Mas o navio mergulhava como um cisne entre elas e voltava a subir em cristas arrogantes e espumosas. A Pequena Sereia pensou que devia ser divertido para um navio navegar daquele jeito, mas a tripulação pensava diferente. O barco gemia e estalava; suas pranchas sólidas rompiam-se sob as violentas pancadas do mar. Então o mastro partiu-se ruidosamente em dois, como um caniço. O navio adernou quando a água se precipitou no porão.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Pequena Sereia
Fantasy"O sacrifício da vida por amor e o desejo de um romance eterno..." Uma singela e agradável adaptação do conto da sereia que vive em busca do seu verdadeiro amor. ...