Parte 6 - Surpresa Final

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Todas as noites me vem a cabeça o quanto eu poderia ter aproveitado minha vida. Poderia ter me declarado ao Oliver, poderia ter enfrentado meu pai, poderia ter salvado minha mãe da vida que ela leva. Mas não. Eu nunca fiz nada que realmente valesse a pena ser lembrando. 

Quando eu morrer na Arena, vai ser a primeira e ultima vez que alguém vai me notar. E, apesar de tudo, meu momento de fama sera curto. O distrito 3 vai sentir e lamentar minha morte por dias, mas logo depois retomarão suas vidas e esperarão até que seu próximo fruto seja levado ao abate pela Capital. 

Não é que eu esteja infeliz de estar aqui. Muito pelo contrário. Minha existência nessa terra não significou nada, e agora eu tenho uma chance de mudar isso. Você pode estar rindo agora, mas eu tenho esperanças ,SIM, de ganhar esse bagulho aqui. 

Imagine só, minha família e amigos morando sob o mesmo teto em um conforto digno da Capital?! Além de não precisar mais do bolsa família, minha casa teria comida a qualquer hora do dia pra quem quisesse comer. Um jardim e uma vista linda do distrito 3, fariam parte de um lindo condomínio construído para os vitoriosos ao longo dos anos. Tudo seria maravilhoso. 

E o que eu tenho que fazer? Ganhar os Jogos. Onde outros 23 tributos querem sua cabeça rolando para o norte enquanto tem uma lança empalada no seu corpo. Talvez eu esteja sendo muito otimista em relação a ganhar. Mas se eu mesmo não torcer por mim, quem vai torcer?

(...)

3 dias se passaram desde que eu conheci Tiles, o garoto moreno com cabelos prateados. Seu avô é prefeito distrito 4 e Tiles ficou sob sua responsabilidade quando perdeu os pais em um naufrágio. Tem 16 anos e leva uma vida bem tranquila como todo Beta. Conversamos muito sobre nossas vidas. Contei pra ele que eu era um Omega, sobre o drama da minha família, e sobre como sempre amei Oliver Rainha.

- Você acha que tem espaço pra viver mais um, e talvez o ultimo, amor? - Ele me perguntou quando falei sobre Olie.

- Só se essa pessoa tiver cabelos de cimento e for do distrito 4.

Brinquei com ele e rimos bastante. Mas sabia que ele estava falando sério. Então quando estávamos sozinhos no centro de treinamento, eu o beijei. O mais simples e puro beijo que alguém pode dar. Seus lábios eram secos e com gosto de uva. Ficamos rindo disso por horas.

 Foi a primeira vez que eu tomo alguma atitude em relação a alguém. Fora da Capital meus status de Omega não deixavam eu controlar qualquer que fosse  situação. Eu era sempre controlado. 

Posse dizer que o que estou vivendo com Tiles é amor. Mas nunca vou deixar de amar Oliver. Nunca.

(...)

Minha estilista entra na sala e diz que tudo já esta pronto pra eu ser lançado na Arena. Ela da uns últimos retoques na minha roupa de batalha e me manda entrar no tubo. Obedeço de imediato. A roupa é, simplesmente, uma peça unica da cor preta com buraco para os pés, mãos e pescoço.

- Tome cuidado, Tommy. - Ela diz - Não se mova antes do sinal e boa sorte. - Seu discurso é curto, mas agradeço. Sinceridade e objetividade é o que eu mais gosto. 

O tubo começa a subir e penso em tudo que combinei com Tiles. Enquanto todos vão correr pra frente pra pegar os suprimentos, nós vamos correr para trás e nos esconder. O ar puro invade meus pulmões. Sinto o vento em minha pele. A Arena é uma cidade em ruínas. 

Olho nos olhos de cada tributo. Todos parecem estar com muito medo, e alguns parecem desmaiar. Rapidamente encontro o olhar de Tiles e ele acena com a cabeça de maneira rápida. Faltando 34 segundos pro sinal soar, uma explosão acontece a minha esquerda. Quem foi o animal que saiu do prato antes da hora? Logo em seguida, mais duas explosões simultâneas e depois mais outra. Evito olhar para os restos dos corpos e nem procuro saber quem são. 4 tributos simplesmente desistiram dos jogos antes que a Capital os forçassem a fazer coisas horríveis. Gesto bonito, até. 

O sinal soa e vejo vultos saindo em direção ao centro da Arena. Corro o mais veloz possível para longe deles, olhando para os lados. Enquanto procuro por Tiles, vejo muita gente morrendo e muita gente matando. Uma menina magra e muito branca perece diante um garoto alto. Aria morre pelas mãos dos amigos que fizera. 

Paro de correr ao me esconder atrás de um poste e busco Tiles em todas as direções, mas nada do garoto. Penso na pior das hipóteses, ele esta morto. Mas logo o menino aparece pelas minhas costas com o maior sorriso do mundo.

- Onde voc...

Sinto o sangue quente escorrer pela minha barriga. O sorriso de Tiles se transforma em uma linha reta e sem expressão. Ele puxa a adaga e enfia novamente, novamente, novamente e novamente. Uma dor e um vazio horrível toma conta de mim. Uma ardência quente grita em meu abdômen. E um Tommy incrédulo cai ao chão.

Tudo que eu queria era ter forças pra perguntar o porquê daquela atitude.

Uma fúria de lobo sobe pelas minhas narinas, meus dentes crescem afastando minha boca.

Meus olhos encontram o de Tiles, ele parece triste. Mas não triste o suficiente para evitar de dar a ultima investida. Só que dessa vez... no meu olho. 



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