II- A sereia e seu canto

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  No dia seguinte, Aiyra foi acordada por trovões. Ela mal via o sol, pois o mesmo estava coberto por nuvens cinzas, carregadas de ódio. Mal sabia que horas eram, mas provavelmente era final da tarde.
  Ela corre para fora e vê os adultos reunidos envolta do pé de banana.

  - O que aconteceu? - Ela pergunta para a pessoa mais próxima.

  A pessoa analisa Aiyra antes de responder:

  - Deceparam um cacho da bananeira, e agora as frutas estão caindo podres das árvores... - A pessoa não termina, já que quis seguir o resto em direção ao rio.

  Aiyra foi atrás, e logo viram os peixes mortos na beira do rio. O clima era pura tristeza, e abatia a todos. Os xamãs tinham um emblema de cansados. Na percepção de Aiyra, ela achava que todo mundo estava sentindo a risada travessa, demoníaca.

  - Iremos descobrir o responsável por isso! - Esbravejou o xamã.
 
  Aiyra chamou a atenção do xamã com o olhar, e gesticulou a boca em silêncio "precisamos conversar".

  Théo sai da oca, tentando espairecer um pouco.
  Ele se preocupa um pouco com o tempo, vendo que os relâmpagos não param.
  O caçador, ainda com as roupas rasgadas do dia anterior, começa a caminhar sem rumo, tentando fazer algo para se distrair.
  Théo logo chega a margem do rio, a noite ali parece mais calma do que deveria estar. Uma paz invade o local e ele se esquece do que está acontecendo na aldeia. Um melodia enche seus ouvidos e ele se deleita com a voz serena que vem em seguida. Um pouco longe de sua visão ele vê uma silhueta esbelta sentada em uma pedra que imerge da água.
  Os cabelos longos e negros estão sendo escovados calmamente enquanto a música é cantada. Théo se aproxima, com curiosidade e fascínio.
  Ele logo fica cara a cara com a musa, e sorri, encantado, extasiado.
 
  - Olá jovem caçador - A mulher na pedra sorri, fazendo as pernas de Théo tremerem.
 
  - Olá...
 
  - Qual seu nome?

  - Th-Théo. E o seu?

  - Théo é nome muito bonito. Prazer, Iara. O que fazes aqui a essa hora da noite? - Ela pergunta, fazendo o coração do jovem bater mais rápido.

  Ele sente uma sensação diferente, a respiração fica descompassada, mas ele atribui isso a beleza daquela mulher.

  - Sua voz... - Théo fica sem palavras por um momento, andando involuntariamente até a mulher - maravilhosa...

  - Obrigada - Ela ri, convencida. - Por que não entra no rio comigo?

  Théo demora a entender e pergunta:
 
  - A essa hora da noite? Não está frio ai?

  - A noite é uma criança...
 
  Ela tira os cabelos do peito, fazendo seu busto descoberto ficar a mostra. O caçador não pensa mais em nada.

  - Pode apostar que aqui está quente - Ela diz, nadando mais pro fundo.

  Théo entra devagar no rio, ele sente as pernas serem molhadas. A lua brilha incessantemente e a mulher volta a cantar, baixo e sereno.
  Quando seus corpos estão colados, Iara começa a mordiscar a orelha de Théo, fazendo-o ficar arrepiado.

  - Delicioso... - Ela fala, induzindo-o a tirar a camisa. - Eu poderia te levar para o fundo agora mesmo.

  Ele ri, achando tudo aquilo muito bom, até o momento que ela morde seu pescoço com vontade, o caçador se afasta com um pulo e a mulher perde todo o encanto.
  Théo sente algo puxando seus pés, algo como a pele de um peixe, ele começa a se debater e engolir água. Ele vê por alguns segundos a face da mulher. Seus olhos estão completamente negros e as orelhas repuxadas, como as de um elfo. O caçador toma consciência de que aquilo não passava de uma ilusão. Iara era uma sereia.
  Théo puxa a adaga que guarda no cinto e tenta acertar a mulher. Iara dessa vez grita, é um grito estridente que faz Théo soltar a adaga para tampar os ouvidos.
  O caçador tenta mergulhar até o fundo para procurar a adaga. Ele tateia o chão mas nada encontra. A sereia puxa mais uma vez seu tornozelo e Théo engole uma grande quantidade de água.
  Ele sente a morte próxima "é o fim".
  O homem tenta fazer força com os braços e dessa vez tem retorno. Ele consegue ir para o raso, mas Iara não desiste. Ela arranha barriga de Théo e ele se contorce. O caçador começa a chutar a calda de peixe e Iara grita de novo. Com o calcanhar, ele da impulso na terra. Finalmente ele sente algo o perfurando e pega. A ponta afiada da adaga vai diretamente na mão de Théo, mas ele não sente dor nesse momento e já segura certo. Iara vem devagar em sua direção e Théo joga novamente a adaga, acertando a sereia na cabeça. Ela começa a se contorcer e gritar sem parar, enquanto o sangue escorre por seu rosto. A lua para de iluminar a mulher e Théo começa a correr de volta para a aldeia, cambaleando.

  Ele entra na oca de Aiyra gritando por ajuda, logo se faz uma roda de pessoas envolta. Aiyra olha assustada para o colega e pede para o mesmo parar de gritar.

  - ELA VEM ATRAS DE MIM! AJUDA AJUDA!

  - Théo! Quem vem atrás de você? - Aiyra tenta acalma-lo.
 
  - AQUELE MONSTRO - Ele olha para a barriga, e vê que os arranhões são mais profundos do que pareciam - ELA VEZ ISSO!
 
  - THÉO - Aiyra grita, e ele para por um momento - QUEM VEM ATRAS DE VOCÊ?
 
  - IARA! SEREIA

  Théo se joga no chão e se encolhe, começando a chorar enquanto grita coisas sem sentido. Aiyra manda Naiá chamar os xamãs, que chegam rápido.

  - Ele foi atacado pela Iara...

  - Ele está passando pela fase da loucura. É raro alguém voltar - O xamã explica.

  - O que vai acontecer com ele? - Aiyra descansa o olhar em Théo, que agora não para de andar em círculos.

  - Terá que passar por encantamentos.
 
  - Mas é perigoso!

  - Então era melhor ter morrido. - O xamã fala duro, fazendo Aiyra aceitar.

  Eles carregam Théo até a oca dos xamãs, mas o caçador não colabora, e começa a se debater

  - PAREM, PAREM! EU PRECISO CORRER - Seus olhos não focam.

  O Xamã junta o indicador com o dedo no meio, e bate em alguns pontos alvos de Théo, fazendo-o desmaiar.

 

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2016 ⏰

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