ÀS VEZES

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Conto número 09 do livro "Da Fruta Que Você Gosta".

Às vezes eu só quero fechar a tela do seu notebook – por que tirá-lo da tomada não causa efeito algum – e fazer com que você olhe para mim. Aquele mesmo primeiro olhar que demos há alguns anos e que nos levou para a cama na hora seguinte. Quero que você esqueça o seu relatório que está atrasado, sua camisa nova que desbotou e seus compromissos da segunda-feira. Seria interessante se você jogasse o notebook de lado, legando-o ao esquecimento do sofá, e viesse até mim, furioso e dissesse:

Você precisa ser punido.

Daí eu levaria minhas mãos para trás e procuraria a parede para tatear, enquanto te vejo vir em minha direção, feito um animal irracional e raivoso, que foi provocado e não pode deixar barato. Que precisa equilibrar o karma do ambiente, de preferência com alguns tapas – se forem em minha bunda, eu vou ficar momentaneamente satisfeito.

Às vezes eu quero que você comece a fungar forte e tire primeiro a minha roupa, arrancando-a, despindo-me de todo ar cavalheiresco que tenho. Gosto de ser lembrado, entre quatro paredes, que sou um plebeu. Tenho fascínio pelo teu olhar comunista de quem não se importa quanto ganho ao final do mês e o quanto essas roupas que visto são caras. Apenas aproxime suas mãos fortes na direção do meu colarinho, puxe-o em direções opostas, e faça os botões rolarem pelo chão. Belisque os meus mamilos e aproxime seu rosto, deixando que eu sinta seu ar quente e diabólico enquanto diz:

Eu estava fazendo algo importante.

Daí eu inclinaria o meu rosto para a esquerda, sutilmente como sempre faço e você gosta, morderia meu lábio inferior e abaixaria o rosto, como se só por aquele instante eu aceitasse o meu fardo. O fardo de ser consumido pelo seu corpo, o fardo de sentir seus chupões arrancando a minha sanidade, o fardo de te ver de farda, e não querer desacatar sua autoridade. Mas eu gosto, e você sabe. Gosto quando desacato e você está pronto para me punir.

Vejo-te procurar as algemas, talvez pegar o cassetete, só para meter medo, e você bem sabe que eu quero que você meta outra coisa.

Às vezes é ainda melhor quando suas mãos descem de encontro a minha calça jeans, não importa se nova ou velha, e a arranca como se faz com tudo aquilo que não nos serve mais. Seu rosto se aproxima novamente, eu busco seus olhos com cautela e vejo um sorriso cigano crescer. O relógio diz que são sete e meia, a astrologia diz que vênus está em sagitário, e eu só quero acreditar que você possa estar em mim, como um passeio celeste entre um planeta errante e uma posição estrelar que forjam sensações estranhas, como minha súbita vontade de te beijar.

Como fizemos daquela vez, quando antes de entrar no tribunal para defender o meu cliente, você veio me revistar. Eu ergui meus braços e abri bem as pernas, você vasculhou em busca de algo e no fim, não parecia muito satisfeito.

– Algum problema, policial?

– Não encontrei nada.

– Se quer encontrar algo, me encontre no banheiro, ao fim do julgamento.

Você sabe o que aconteceu. Eu ganhei o caso, você não conseguiu conter sua curiosidade e foi ao meu encontro, e descobriu que às vezes, burlar as regras, dá um tcham nesse jogo.

Às vezes, assim como naquele dia, tenho vontade de te encontrar em outro local público, encarar-te pelo grande espelho do banheiro e começar a desmanchar a minha gravata vermelha, tirar o terno preto caro e bem passado e descer as calças até os sapatos lustrosos, deixar-te ver o volume em frente a minha sunga, ou o volume da minha bunda, e deixar que escolha sabiamente.

Da Fruta Que Você Gosta (Contos Eróticos Gays)Onde histórias criam vida. Descubra agora