A Colecionadora de Segredos

Capítulo 10- Liso ou Cacheado?

Era manhã de sexta feira e tudo o que
Ananda conseguia pensar era em que roupa iria
usar, a cor dos sapatos ou o que iria fazer com o
cabelo "cacheado ou liso?" Era a dúvida que
pairava durante a aula de matemática. Peter
estava sentado algumas carteiras atrás dela já
que tinham a aula juntos e de vez em quando ele
olhava para ela por alguns segundos e podia ver-
la o olhando de rabo de olho.
A manhã e a tarde passaram muito
lentamente já que Ananda queria que a noite
chegasse logo.
(...)
Kathy estava no quarto de Ananda a
ajudando a escolher uma roupa para o encontro.
Kathy tinha passado a tarde inteira tentando usar
maneiras de convencer Ananda que sair com
Peter era um erro mas quando viu que nenhuma
funcionava ela decidiu apelar para outra coisa.
-Ai, ele está demorando! -Ananda disse
olhando pela janela pela terceira vez e depois
voltando a cabeça para dentro do quarto. Ela se
olhou no espelho e murmurou -Acha que ele vai
gostar? -Kathy torceu o nariz fazendo uma
careta.
-Está linda, mas ele vai vir de moto então
acho que é melhor colocar uma calça... -Ananda
estava usando uma blusinha turquesa com
pontos dourados por dentro de uma saia rodada
num tom creme com dourado na barra, seus
cabelos estavam soltos e cacheados de leve.
-Mas se eu colocar uma calça vai
estregar tudo! -Kathy sorriu falsa sem que
Ananda percebesse.
-Claro que não... -Kathy disse e se virou
para a amiga indo até a porta -Nem se
preocupe já que não está indo para lugar
nenhum... -Ela murmurou e Ananda não ouviu
direito.
-O que disse?
-Que vou pegar uma xícara de chá para
você... Já que está tão ansiosa! -Ananda sorriu.
-Obrigada! -Ananda disse abrindo a porta
do closet e procurando uma roupa que
combinasse com um passeio de moto numa
noite quente.
Kathy desceu até a cozinha que estava
silenciosa já que os pais de Ananda ainda não
tinham voltado do trabalho. Ela fez um chá de
camomila para Ananda e enquanto mexia um
pouco tirou um pequeno frasco do bolso com pó
branco dentro e despejou o pó no chá mexendo
um pouco. Uma espécie de boa noite cinderela
que faria com que Ananda perdesse o encontro.
Kathy voltou para o andar de cima e entrou no
quarto de Ananda, ela terminava de passar o
rímel quando viu a caneca azul com o desenho
de uma coruja colorida sendo colocada ao seu
lado.
-Ah Kathy, sério, não precisava ter feito
isso! -Katy sorriu e se sentou na cama enquanto
Ananda ainda estava sentada de frente a
penteadeira.
-Acredite, precisava sim! -Kathy disse e
esperou que Ananda desse um gole no chá.
-Camomila? -Kathy assentiu e Ananda
voltou a beber tranquila confiando totalmente na
amiga e achando que estava fazendo aquilo para
seu bem. Any começou a se sentir um pouco
tonta, a visão ficou turva em pouco tempo e
Kathy a ajudou a chegar até a cama.
-Que foi Any? Não tá se sentindo bem? -
Ananda estava sentindo o corpo pesado e uma
sensação horrível tomou conta dela.
-Eu estou meio tonta... -Ela sentiu a
cabeça pesar sobre os ombros como se fosse
feita de chumbo, Kathy continuou esperando até
que Ananda fechasse os olhos e caísse em sono
profundo. Ela pegou o celular de Ananda e
colocando no modo avião o deixou ao lado da
amiga na cama.
-Parece que o motoqueiro vai ficar
esperando... -Kathy disse se levantando e
pegando o casaco na cadeira em frente a
escrivaninha de Ananda. Ela se olhou no espelho
e pegou um dos brilhos labiais da amiga
passando o mesmo, depois admirou a própria
imagem por alguns instantes. Os cabelos loiros
caíam sobre os ombros ondulados e brilhantes,
perfeitamente hidratados, a pele macia e clara
fazia contraste com as bochechas levemente
rosadas e olhos verdes -Sabe Any, até que eu
queria que desse certo entre você e esse tal
Peter... Ai quem sabe eu fico com o Josh só pra
mim e todo mundo fica feliz? -Ela suspirou e
engoliu em seco -Bom sonhos BFF!
Ananda continuava dormindo em cima da
cama sem se mover. Kathy saiu do quarto,
desceu as escadas e foi embora pela porta
principal.
Já tinham se passado 10 minutos que
Ananda estava dormindo quando Peter chegou
na frente da casa dela em sua moto preta com
alguns detalhes em cinza, ele usava sua típica
jaqueta preta de couro mas estava mais
arrumado, obviamente, ele tirou o capacete
olhando no retrovisor e reparou que o cabelo
tinha bagunçado um pouco.
-Será que ela vai gostar? -Perguntou a si
mesmo baixinho e suspirou olhando para a janela
no segundo andar, a luz estava apagada mas o
sol ainda não tinha indo embora então ele
imaginou que ela estava sendo ecológica ou
coisa do tipo. Ele buzinou umas duas vezes e
nada dela, nem apareceu na janela para pedir
que ele esperasse, Peter buzinou mais uma vez
mas nem ouvia nenhum barulho indicando que
ela realmente estava ali.
-Só pode estar brincando... -Ele disse
pegando o celular e procurando Ananda nos
contatos, quando começou a chamar ele colocou
o celular no ouvido -Atende! Por favor! -Ele
bufou, nada dela atender. O celular só dava na
caixa postal e Peter continuava buzinando mas
ela ainda estava completamente sobre o efeito
da droga colocada em seu chá. Peter buzinou
uma última vez e depois colocou o capacete -Eu
devia saber que não daria certo! -Ele deu
partida e saiu de lá voltando para casa.
(...)
-Oi filho, esqueceu alguma coisa? -Lucy
perguntou quando viu Peter entrando pela porta
da cozinha. Ele tirou a jaqueta de couro e
suspirou olhando para a mãe.
-Minha dignidade! -Lucy ergueu a
sobrancelha -Meu orgulho, minha marra e
principalmente a minha frieza! -A mãe
continuava sem entender, Peter colocou o
capacete no balcão da cozinha e bufou -Ela não
apareceu! -Lucy suspirou e se aproximou do
filho.
-Tenho certeza que ela tem um bom
motivo filho, ela foi a primeira pessoa decente
que você trouxe para casa, deve haver uma
explicação! -Peter deu um riso abafado.
-Não a trouxe para casa, ela veio porque
não tinha outra opção! E eu, idiota achei que
tinha alguma chance com ela... -Ele murmurou
saindo da cozinha.
-Você é um garoto incrível Peter! -Ele
assentiu e pegou no corrimão da escada
tomando impulso para subir. Quando chegou no
quarto se jogou na cama e afundou a cabeça no
travesseiro.
-Depois ela vem com o papo de que posso
confiar nela! -Ele disse com a voz abafada por
causa do travesseiro -Garota falsa, quem ela
pensa que é pra me dar um bolo? -Ele bufou e
sentiu um vento frio sobre o corpo o fazendo se
arrepiar então levantou para fechar a janela.
Peter olhou para a janela de Josh e viu que o
quarto estava bem iluminado e as cortinas
fechadas mas ele conseguia ver que Josh tinha
companhia.
-Não acredito! -Peter disse pegando um
binóculo de dentro da gaveta da mesinha ao lado
da janela. Ele começou a olhar através do
binóculo e viu a silhueta da garota que beijava
Josh constantemente, Peter não conseguia
distinguir quem era mas ele pensou em Ananda
no mesmo momento -Aquela garota não vale
nada! -Ele disse fechando os punhos e se
odiando por ter "caído no joguinho dela".
Enquanto isso Josh e Kathy
comemoravam o encontro falho de Peter e
Ananda. Josh segurava Kathy pela cintura até
que a jogou na cama ficando em cima dela.
-Melhor que você não existe! -Ele
sussurrou e ela sorriu -Incrivelmente má...
-Eu sei! -Ela disse rindo um pouco e ele
sorriu beijando seu pescoço.
-Sabe, acha que a Any vai voltar pra mim
tão fácil assim? -Ele perguntou se sentando na
cama
-Quer mesmo que ela volte? -Kathy
perguntou como quem não quer nada.
-Como assim?
-Ah... sei lá... -Ela desviou o olhar do dele
-E se ela ficasse com o Peter? Não ia ficar tudo
mais fácil?
-O que tá querendo dizer?
-Eles felizes, nós felizes... Fora que a
Ananda nunca iria descobrir que nós dois
estamos juntos e eu não ia perder a amizade de
ninguém e ela também não ia te tirar do time! -
Josh pensou no assunto por um instante.
-Acho que não... Eu gosto dela! -Kathy
engoliu em seco.
-Ah... -Ela tentou mudar de assunto -Não
acredito que ela vai ficar com aquele gato! Como
ele poderia gosta dela? -Josh riu e eles
continuaram falando sobre as próprias vidas mas
acharam melhor o caso deles ficar de lado até
que Peter e Ananda estivessem juntos assim
Ananda não iria nem suspeitar que o caso deles
já existia enquanto Josh e ela estavam juntos.