A Colecionadora de Segredos

Capítulo 12- Não vai me Apresentar seu Amigo?

Depois de andar o caminho inteiro calada
Ananda sorriu para Peter quando eles chegaram
no estacionamento do shopping. Eles foram até
o cinema e esperaram na fila conversando sobre
coisas aleatórias. Peter fez questão de pagar
mesmo depois de Ananda insistir muito para ela
mesma pagar os ingressos.
Quando chegaram na sala de cinema que
não estava muito cheia se sentaram no fundo
longe de todos e conversaram em sussurro o
filme todo...
-Me diz algo sobre você que pouca gente
sabe! -Ela perguntou enquanto eles se olhavam.
Peter se mexeu desconfortável na cadeira do
cinema e deu um sorriso torto.
-Mais um segredo para a sua coleção? -
Ela sorriu.
-Quem sabe? -Ele olhou para baixo
tentando evitar com que seus olhares se
cruzassem, Ananda parecia ser boa demais e ele
sabia que ela vivia em um mundo cor de rosa
onde nada dava errado, Peter não queria contar
algo que a fizesse ter a impressão errada dele.
-Eu... Gosto de dançar! -Ela arregalou os
olhos.
-Tá falando sério? -Ele fez que sim com a
cabeça depois suspirou.
-Fazia aula quando era mais novo mas os
garotos começaram a me chamar de bicha, e
algumas coisas piores então eu parei e nunca
mais dancei...
-Mas que tipo de dança? -Ela o olhou
surpresa -Clássica? -Ele assentiu olhando em
volta e se certificando que ninguém tinha ouvido
-Isso é muito legal, devia voltar a dançar!
-Claro que não! Todo mundo iria me zoar
e eu não quero que pensem que eu sou... -Ele
bufou.
-Você tem duvidas da sua masculinidade?
-Ele arregalou os olhos.
-Tá de brincadeira? -Ele cochichou num
tom bravo -Claro que não!
-Então! -Ele balançou a cabeça -Peter,
quem se importa com o que os outros vão falar,
você sabe quem você é! -Ele deu um sorrisinho
mas logo ficou sério de novo.
-Deixa isso pra lá, já até esqueci essa
ideia! -Ela bufou, Peter voltou a olhar para a tela
e então sorriu -Mas e você? Não tem nenhum
segredo pra compartilhar? -Ele olhou para
Ananda de novo que sorriu um pouco sem graça.
-Não tenho segredos! -Ela disse firme e
ele franziu o cenho.
-Todo mundo tem segredos! -Ela sorriu.
-Claro que não! -Ele a encarou fazendo
com que ela suspirasse ao olhar para aqueles
olhos azuis.
-Certeza? -Ele se aproximou dela e sorriu,
Ananda conseguia sentir o cheiro amadeirado de
seu perfume, ele sussurrou bem perto de sua
orelha -Não está me escondendo nada? -Ela
sentiu os pelos da nuca arrepiarem e o coração
começar a bater mais forte, Peter voltou o olhar
para o dela e seus lábios estavam quase se
tocando mas ele recuou devagar a fazendo gritar
em sua mente "por que não me beijou? Como
assim? ME BEIJA!" ele sorriu ao ver o desespero
estampado no rosto dela.
-Tudo bem, eu acho que tenho um
segredo! -Ela disse tentando respirar mais
devagar e se acalmar para o coração voltar a seu
ritmo normal e deixar menos na cara o efeito que
ele exercia sobre ela.
-E qual seria? -Ela se aproximou um
pouco dele, inclinou o pescoço sussurrando ao
pé do ouvido:
-Eu sou muito vingativa! -Ele deu um
sorriso safado e virou o rosto devagar deixando
seus lábios a poucos centímetros dos dela, ela
sorriu -E quando eu danço, eu conduzo meu
parceiro! -Ela disse aproximando mais os lábios
e sorrindo de leve, Peter engoliu em seco, ele ia
beija-la quando ela recuou. Ele deu um sorriso
despreocupado e os dois voltaram a atenção
para o filme.
Quando os créditos já estavam subindo na
tela eles saíram do cinema conversando e rindo.
Peter a levou para comer num restaurante de
comida chinesa. Dessa vez ele deixou com que
ela pagasse pela parte dela já que comida
chinesa é um pouco cara e ele não tinha tanto
dinheiro assim.
-Então... -Ele disse enrolando o macarrão
nos palitinhos. Peter percebeu que ela comia
com garfo e faca -Não vai usar hashi? -Ananda
deu um sorriso sem graça.
-Eu não sei usar hashi! -Ela falou baixo e
ele deu uma risadinha -Tá rindo do que?
-Nada! -Peter pegou o pacote onde
estavam os palitinhos de madeira e abriu. Ele se
inclinou um pouco na mesa já que estavam um
de frente para o outro e pegou a mão direita de
Ananda.
-Peter...
-O que?
-Eu sou canhota! -Ela disse dando um
riso abafado, ele fez o mesmo.
-Ah, foi mal! -Peter soltou a mão direita
dela e pegou a esquerda -Use seu dedo anular
como apoio! -Ele falou posicionando os dedos
dela -E use o dedo indicador e o do meio para
mexer o palitinho! -Ela assentiu e testou mexer
o dedo algumas vezes, dava certo. Peter deu um
sorrisinho e voltou a se sentar.
-Obrigada!
-Imagina! -Eles continuaram comendo em
silencio por alguns minutos.
-O que você faz da vida? -Ela perguntou
do nada e ele riu, Ananda o olhou com a
sobrancelha erguida.
-Falou sério? -Ela fez que sim e ele
colocou um pouco de macarrão na boca
pensando em uma resposta, depois que engoliu
tomou um gole de suco e disse -Eu estudo e no
tempo livre leio...
-Lê... o que? -Peter olhou em volta
analisando o restaurante não muito cheio com
uma iluminação baixa.
-Poesia, e livros antigos -Ele falou,
Ananda arregalou os olhos.
-Algo como Shakespeare? -Ele assentiu -
Não acredito! Você lendo Shakespeare?
-Só porque eu uso jaqueta de couro não
posso ter um lado romântico? -Ela riu.
-Não foi o que eu quis dizer! -Ele
assentiu.
-E o que você faz da vida? Ou gostaria de
fazer? -Ela suspirou.
-Eu gostaria de ser fotógrafa! -Ele ergueu
a sobrancelha.
-Bacana! -Ela sorriu.
-No ano passado eu economizei o ano
inteiro para comprar uma câmera mas quando
finalmente comprei eu não tinha do que tirar
foto... -Ele franziu o cenho -As aulas tinham
acabado de voltar e aqui não tem muitas
paisagens, tive que me contentar com tirar fotos
de aniversários dos meus primos e dia dos pais...
-E o que você queria fotografar?
-Não sei... -Ela parou um instante e
enquanto tomava um gole do suco de laranja se
lembrou de uma coisa -Ah, eu sempre quis
fotografar animais, tipo leões, tigres,
especialmente tigres!
-Por que?
-Eles são lindos! -Ele riu -To falando
sério, são maravilhosos! -Peter assentiu.
-É uma coisa bem diferente vindo de
você...
-Só porque pareço ser uma patricinha?
-Não... -Ela sorriu aliviada -Só porque
você é uma patricinha! -Ela fez cara de ofendida
e deu um tapa em seu braço, ele começou a rir -
É mentira?
-Bobo!
(...)
Ananda tirou o capacete quando eles
chegaram na frente de sua casa, ela desceu da
moto e Peter também desceu deixando os dois
capacetes no guidão da moto. Eles foram até a
frente da casa, na varanda e ficaram olhando um
para o outro de frente a porta de entrada.
-A noite foi maravilhosa... -Ela disse e
ele sorriu, Peter queria beija-la mas sabia que
estava sendo muito apressado, queria que dessa
vez valesse a pena já que tinha quebrado a cara
várias vezes por causa de garotas.
-Podemos repetir se quiser! -Ele disse
evitando cruzar o olhar com o dela e reparando
no banco de vime no canto direito da varanda
com algumas luzinhas brancas do tipo pisca-
pisca mas sem piscar percorrendo toda a
extensão do parapeito da varanda em ambos os
lados dando um ar bem aconchegante ao lugar,
na hora ele imaginou que aquilo tinha sido ideia
dela.
-Você realmente dirige melhor do que eu
pensei! -Ela disse tentando achar algum assunto
"Por que ele não me beija logo?" ela se
perguntava constantemente "será que não sou
tão bonita quanto deveria? Ele não quer algo
mais comigo? Só saiu por sair?" Peter lembrava
de todas as vezes que ele já tinha visto aquela
cena acontecer, nesse momento ele beijaria a
garota, diria boa noite e iria embora mas no dia
seguinte quando se vissem na escola o clima iria
ficar chato ou algo daria errado "Ah não! Dessa
vez vou fazer certo!"
-Obrigado, Any! -Ela sorriu sem graça.
Peter se aproximou dela devagar acabando com
a distância que os separava. Ananda sorriu de
lado. Quando eles estavam se aproximando,
seus lábios se tocaram de leve Ananda fechou
os olhos e sentiu o coração disparar.
-Boa noite, crianças! -Disse Charlie
abrindo a porta bruscamente e dando um susto
no casal prestes a se beijar, eles se separaram
rapidamente.
-Pai! -Ananda disse ainda assustada.
-Não vai me apresentar seu amigo? -
Charlie perguntou com um sorriso falso na cara.