Herrmann deu duas voltas na frente da casa escura antes de apear o cavalo. Sabia que, no momento em que batesse à porta daquela mulher, sua reputação estaria no lixo. Como a dela. Todos diziam que ela era uma bruxa, e desde que começaram as investigações do Santo Ofício na região do Harz, no norte da Alemanha, ele sabia que seria uma questão de tempo até que ela e muitas outras fossem condenadas à fogueira.
Mas ele não tinha alternativa. Sua filha estava morrendo, e ele, o melhor médico da região, conhecido pela maioria das pessoas de Goslar como curandeiro, devido aos seus métodos de cura envolverem medicina e religião, não podia salvá-la. Como não pode salvar sua esposa, que havia falecido há dois anos e deixara a menina pequena aos cuidados do pai.
Apeou finalmente o cavalo e caminhou nervoso até a porta. Não sabia o que encontraria por lá, poucas pessoas haviam visto a bruxa. Ela vivia uma vida quase reclusa no alto do monte, aonde no inverno ninguém conseguia chegar com uma carruagem. Poucos se atreviam a cavalgar até lá, como ele. Por isso, um fio de esperança invadiu seu coração. Talvez ninguém houvesse visto quando ele passara pelo vilarejo, há duas horas. Pode ser que ele ainda tivesse a chance de ter sua reputação salva. Mas nada disso era tão importante quanto sua filha Ellen: as notícias de que a bruxaria de Stella havia salvado a vida de várias pessoas desenganadas pela medicina se espalhavam como folhas ao vento, e a visão de sua filhinha delirando na cama cortou o seu coração e lhe encheu de coragem para bater à porta.
Logo um pequeno vão se abriu e, antes que a fraca luz do lampião mostrasse o rosto da mulher, ele avistou o brilho reluzente de um anel multicolorido, com pedras que tinham a forma de um pássaro exótico. Por alguns instantes, ele não conseguiu tirar os olhos do anel, e foi tudo o que viu, pois a mulher não saiu de trás da porta:
"Quem bate à porta de uma bruxa não tem medo de encontrar o seu destino", afirmou, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. E continuou:"Ficareis ou dareis meia volta?".
"Eu ficarei". Hermann estava decidido. Preciso conversar convosco".
A mulher continuou atrás da porta, mas foi resoluta:
"Então, entrai, doutor. Eu estava esperando por vós. Sei que vossa filha precisa de ajuda".
Hermann empalideceu. Como ela sabia?
"Senhora, estou desesperado. Já tentei de tudo, mas o quadro não melhora. Tenho medo de perder minha Ellen! Depois que sua mãe se foi não tenho mais ninguém, não posso deixar minha filha partir". Ele encarou o anel de novo, sentindo pela primeira vez desde muito tempo uma pontada de remorso por não ter amado sua esposa. Aquela joia parecia exercer algum tipo de poder sobre ele, despertando sentimentos ocultos dentro de seu coração. E ele não conseguia parar de encará-la. Que pássaro seria aquele, formado pelas pedras?
Calmamente a mulher empurrou a porta para o médico entrar e segurou o lampião à sua frente, para que ele pudesse vê-la:
"Vossa filha não partirá agora, Hermann. O destino está ao seu lado. A história ainda precisa ser escrita. Por todos nós." Stella encarou os olhos azuis de Herrmann e sorriu.
Hermann não ouviu mais nada. Ao ver o rosto daquela mulher, ele sabia que estava preso. Uma força invisível o paralisara. Seus olhos não desviavam do olhar da feiticeira, do seu sorriso, da sua beleza. Ela não parecia uma bruxa, mas sim um anjo. Que irradiava calma, beleza, harmonia e amor. Logo teve certeza de que Ellen estaria bem. E de que ali havia encontrado o par de olhos por que procurara a vida inteira. Uma corrente atravessou o seu corpo, como se passado, presente e futuro fossem uma coisa só, no mesmo espaço onde fogo, água, luz e ar coabitavam.
"Entrai, curandeiro. Venha encontrar vosso destino". Stella apagou o lampião com um sopro, mas a luz de seus olhos podia iluminar Goslar inteira.
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Oi pessoal, no próximo capítulo vocês conhecerão a Marina!
Estrelinhas e comentários serão bem-vindos e me deixarão muito feliz! :)
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O anel do colibri (DEGUSTAÇÃO)
FantasyDurante a Santa Inquisição na Alemanha, um clã de bruxas perdeu a posse do símbolo de seu poder, o Anel do Colibri - e sem ele suas seguidoras ficaram à mercê do clã inimigo. 500 anos depois, uma profecia nomeia Marina, brasileira de 30 anos que nem...