Marina voltou para a cama, respirou fundo e juntou todas as forças para pensar rapidamente em como agir dali para frente. Logo a enfermeira voltou ao quarto e Marina entregou o cartão com o número do pai, sorrindo e sendo simpática, como a irmã havia recomendado na carta. A enfermeira pegou o cartão e saiu do quarto, comunicando que logo o doutor Schmidt falaria com ela.
"Ah, o doutor doido. Bonitão o doutor Schmidt!", pensou. Ele tinha aqueles olhos azuis claríssimos, e cabelos negros com uma franja que caia ao lado do rosto. Ele devia ter também uns 30 anos. No meio de toda a confusão, ela sentiu o coração acelerar ao se lembrar do médico, que a atraía de alguma forma e fazia com que ela tivesse aquela sensação de que o conhecia de algum lugar.
Com vergonha ela se lembrou do último encontro entre os dois, de como ela gritara como uma louca. Mas tudo tinha sido tão insano nos últimos momentos, nos últimos dias.... Pelo menos ela o veria de novo, e quem sabe poderia causar nele desta vez uma impressão melhor?
Foi quando pensava nisso que a porta se abriu e o médico entrou, puxando uma cadeira e sentando-se de frente para ela. Ela sentiu o rosto corar, pensando por um segundo em como seria bom passar a mão por aqueles cabelos. Os dois se olharam por um momento sem dizer nada, mas foi o médico que quebrou o silêncio:
"Senhora Souza Meyer, os seus últimos resultados foram muito bons. Com exceção da apatia e do quadro de confusão mental dos últimos dias, não temos nenhum motivo clínico para mantê-la aqui. Mas ainda não temos certeza se sua condição não pode voltar a piorar. Como a senhora está se sentindo?".
"Estou muito bem", mentiu Marina, sorrindo amarelo. "Me sinto muito melhor, muito obrigada!", continuou, percebendo que já conseguia se comunicar melhor, que seu conhecimento em alemão voltava paulatinamente.
"Muito bom", o médico anotou novamente alguma coisa nos seus relatórios. "O seu pai está a caminho, e vamos observá-la nas próximas horas e se tudo continuar bem, a senhora poderá ir para casa hoje mesmo. A senhora mora em Berne, não é mesmo?"
"Berne?", perguntou Marina embaraçada, mas lembrando-se de não parecer louca, concordou rapidamente. "Sim, em Berne."
"E, sendo brasileira, já se acostumou à vida fora do Brasil?".
"Na verdade, não", Marina foi sincera. "Parece que chegou.... que cheguei aqui ontem!".
"Imagino! Gosto muito do Brasil, já estive uma vez lá, me interesso muito pela fauna, principalmente me fascinam os colibris. Como eles são chamados no Brasil? Beija-árvores?"
"Beija-Flor", corrigiu Marina, achando graça, mas logo depois foi ela quem ficou séria e mudou de assunto: "O senhor falar com meu pai?", perguntou com cuidado. "Ele vem me buscar?".
"Sim, e ele se desculpou por não ter se identificado ao chegar ao hospital, e também por não ter entrado em contato nos últimos dias. Mas disse que vai esclarecer isso diretamente com a senhora ao chegar, ele deve estar aqui a qualquer momento". Não conseguindo conter a curiosidade, Ralf indagou: "Mas uma coisa nos intrigou aqui no hospital: a senhora recebeu uma carta, do Brasil, datada de um dia antes de sua chegada aqui no hospital.... Como o remetente sabia que a senhora estaria aqui, nesse hospital, nesse quarto?".
"Não tenho ideia doutor", Marina estava sendo mais do que sincera..
"Bruxaria? Talvez uma bola de cristal?", o médico riu.
"Quem sabe?", ela deu de ombros e esboçou um sorriso.
"Enfim, gosto de bruxaria. Mas bruxaria brasileira eu não conhecia, só li alguns livros de Paulo Coelho".
Marina revirou os olhos. "Ah, Paulo Coelho não. Detesto Paulo Coelho. Muita fantasia, pouca realição".
"Realidade", corrigiu o médico sorrindo. "Mas um pouco de fantasia é sempre bom, senão a vida fica muito chata".
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O anel do colibri (DEGUSTAÇÃO)
FantasyDurante a Santa Inquisição na Alemanha, um clã de bruxas perdeu a posse do símbolo de seu poder, o Anel do Colibri - e sem ele suas seguidoras ficaram à mercê do clã inimigo. 500 anos depois, uma profecia nomeia Marina, brasileira de 30 anos que nem...