Dois

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Os três saíram da casa e uma nuvem cobriu a sol quando Cezar olhou ao seu redor. O chão parecia cinza, seco e sem vida, assim como o céu. Ele lembrou-se de sua vida e de como ela parecia mais colorida agora. Realmente só se sente falta do que se tem quando se prova a sua ausência. Cezar não se conteve, caiu de joelhos. Lívia e Lix olharam para trás sem entender, ele começou a chorar e uma fina chuva começou a cair do céu.

- Nossa! A quanto tempo não chovia?

- Bastante tempo. – Disse Lix. 

Quando ele se recompôs levaram-no ao velho Sodan. Chegando lá Cezar lhe contou tudo o que sabia e esperava uma solução. O velho cego disse:

- Então... Cezar. Posso ver claramente que você não é o mesmo de ontem. Há outro Cezar aí dentro.

- Consegue ver isso? – Perguntou, Lix.

- Pequeno ser, eu vejo muito, vejo mais que você porque não vejo com os olhos. Os olhos enganam, fazem acreditar que vemos a verdade quando só vemos o disfarce da verdade. O mundo nos engana todos os dias. – Ele falava de um jeito engraçado, muito enfático gesticulando em sua cadeira de balanço. – Eu vejo com os ouvidos e com o coração. Eu sinto pela forma como ele fala, pelo jeito com ele pisa e respira. Se vocês não enxergam isso vocês é que são os cegos. Ele é o predestinado!...

- A que? – O velho parou para pensar e fechou os olhos até que começou a respirar forte e...

- Ele está dormindo?

- Ei! Vamos em embora. – Disse Lix, indignada.

Ao chegar em casa Abgail estava esperando-os enrolada em uma toalha. Cezar olhou para o seu corpo musculoso e escultural e ela perguntou:

- O que foi? – Até que ele entendeu, O Cezar de Tiamat era gay. Por isso vivia com duas garotas.

- Não é nada. Eu... Gosto de garotos mesmo. Esse seu corpo não me faz... Inveja. – Ela entortou as sobrancelhas.

- Você está estranho mesmo. Vamos logo que não podemos gastar muita água.

No banho, entre lapsos de concentração e lutas internas com ele mesmo, Cezar tentava entender esse planeta enquanto tentava não olhar para onde não devia e era uma luta árdua já que só tinha um chuveiro feito de uma lata furada para os três tomarem o único banho do dia.

- Então aqui em Tiamat os humanos são escravos, mas de quem?

- Os Anshara. Minha avó dizia que o dia mais negro de Tiamat foi quando os habitantes de Anshar vieram em seus barcos que viajavam no ar.

- Saturno. Anshar é saturno.

- Chame como quiser. Em sua inocência nossos antepassados lhes falaram do ouro e todos os minerais existentes na terra. No início eles pareciam pacíficos e davam artefatos baratos pelos metais precisos. Algum tempo depois eles começaram a vir armados exigir os metais sem nada em troca, como se pagassem algo que valesse anteriormente. Em pouco tempo nos tornamos escravos deles. Eles nos sugam até as últimas forças nas minas trabalhando para eles. Todos os dias eles vêm. Eles não são tão diferentes de nós fisicamente, são altos, fortes, brancos e sem pelos nem orelhas ou narizes. No resto são iguais, inclusive levam humanas para Anshar para servirem de suas prostitutas. Nossos ancestrais até tentaram, mas não temos mais esperança para lutar.

Logo o dia acabou e a noite chegou, com ela Cezar demora a dormir pensando em tudo aquilo e algo ecoa em sua mente "O predestinado", que o velho havia falado. Pensou muito até que adormeceu e no dia seguinte foi a casa do velho. Mas quando chegou lá ele ainda estava sentado na mesma cadeira de ontem, sentiu sua pulsação e constatou: estava morto. Sentiu o cheiro em sua boca, era veneno. Mal teve tempo para pensar:

- Vamos, Cezar! – Chegou Abgail e as outras chamando-o para o trabalho.




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