16. Um achado inesperado

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Manuel olhou para o topo da árvore, mas os galhos e a densidade das folhas formavam um verdadeiro cogumelo com a fumaça, que dificultava a visibilidade. Francisco montou guarda próximo ao tronco, enquanto Manuel e Shadá iniciaram a subida. Shadá era mais rápido que o português, e levava uma corda transpassada pelo corpo e o facão preso à cintura. A árvore era muito grande, e proporcional era a quantidade de galhos. A poucos metros do chão, a fumaça já era asfixiante e ambos não conseguiam enxergar mais do que dois metros acima de onde estavam. Já tinham alcançado o meio da árvore e os galhos continuavam muito grossos, quando Manuel se apoiou em uma das ramificações e viu um homem. Gritou por Shadá, que retornou para ajudá-lo. Amarraram a corda no indivíduo e começaram a descê-lo, tinha a respiração fraca e o corpo gelado. Francisco se assustou ao visualizar um vulto que descia sem apoiar-se nos galhos. A sombra aumentava conforme se aproximava do solo, até que o observador em terra pôde entender do que se tratava. Era um índio e parecia morto. Quando tocou o solo, o corpo tombou para um dos lados, vagarosamente, até ficar deitado. Manuel e Shadá desceram tão rápido como dois raios.

- O que é isto? - indagou Francisco.

- Um índio – respondeu, sarcasticamente, Manuel.

- Isso eu sei! Ele nos espionava?

- Creio que não, está quase morto. Shadá, vamos deixá-lo próximo ao fogo e arrumar um cobertor para aquecê-lo.

A peça executou as ordens prontamente.

- Não acredito - falou Francisco - que o comandante vai perder tempo com o selvagem...

- Ele pode nos ser útil. Você fala a língua dele, não?

- Depende de sua tribo.

- Prepararei algo quente para ele tomar. - falou Manuel.

- Era só o que faltava! - respondeu Francisco.

Manuel preparou rapidamente uma sopa, enquanto Shadá alimentava o fogo. Quando ficou pronta, o comandante misturou um pouco de aguardente ao caldo e deu ao índio semiconsciente.

- Isso deve ajudá-lo. É melhor também descansarmos, pois a jornada começará cedo amanhã. Devemos manter o revezamento para a vigilância, pois a fumaça já está muito alta e também para o caso do índio despertar. Eu farei o primeiro turno - ordenou Manuel.

Três descansando e Manuel ficou acordado até o início da noite, quando cearam a sopa e deram uma nova dose ao filho da terra. A noite passou tranquila, assim como as trocas dos vigilantes. Pouco antes do nascer do sol, Manuel já estava de pé e alimentou o fogo. Shadá despertou logo em seguida e começou o preparo da refeição matinal. O índio continuava no mesmo estado, mas a febre havia cedido e a cor pálida das faces havia dado lugar a um leve corado. Enquanto Francisco comia o desjejum, Manuel escrevia no diário e Shadá terminava de arrumar as bagagens nos animais. Foi Francisco quem quebrou o gelo naquela manhã.

- Espero que faça sol durante vários dias.

- O vento está vindo do norte e, enquanto estiver assim, não haverá chuva - respondeu o comandante ao conterrâneo.

O silêncio voltou a reinar durante alguns minutos, até Manuel dar uma ordem:

- Shadá, prenda o índio em um dos cavalos e assegure-se de que ele não vá cair durante o trote.

Francisco, com cara de espanto, perguntou:

- O senhor vai levá-lo?

O comandante ignorou a pergunta e dirigiu-se até a montaria que usava. Francisco ficou parado, olhando o português se afastar e, para não ficar para trás, tomou o lugar junto ao animal que o carregava. Shadá prendeu o índio em uma mula e redistribuiu a carga dessa entre os demais. A peça, antes de montar, escondeu todos os resquícios do acampamento do grupo. Partiram rumo à vila. À esquerda, podiam ver o morro que contornavam, ao longe; à direita, uma grande serra que também parecia cruzar-lhes a frente. Era um dia limpo de forte calor. Decidiram que não fariam paradas, para ganharem tempo. A disposição da tropa havia sido alterada: na frente ia Manuel, seguido pelo índio. Já era meio da tarde, quando encontraram mais um rio. Quando o sol já estava se pondo, chegaram a um local ideal para montarem acampamento. Desmontaram e acamparam, desceram o índio e o acomodaram próximo ao local destinado à fogueira. Shadá saiu para buscar lenha enquanto Manuel consultava a leitura dos instrumentos que trazia na bagagem. Francisco sentou em uma pedra e aproveitou o momento para sondar o comandante:

Heróis Tropicais, o inícioOnde histórias criam vida. Descubra agora