Capítulo 1

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Eram 8:00 horas da manhã quando seu despertador começou a tocar. Algumas sonecas depois, Arthur resolveu que deveria se levantar. Lavou seu rosto e pensou no estresse que teria no seu trabalho nessa quarta feira.

Seus pais estavam sentados ao redor da mesa tomando café, Arthur ficou parado no corredor observando eles. Se alguém perguntasse, ele não teria palavras para explicar o por que achava tão engraçado ver seu pai beber café.

O pai de Arthur era um homem alto e bem magro, era o oposto de sua mãe, uma senhora baixinha e acima do peso.

Ele tentou passar despercebido pela reunião familiar.

- Filho, você não vai tomar nem um cafezinho antes de sair se casa? Faz mal sair sem comer. A voz de sua mãe reberverava pela casa preocupada com sua alimentação.
- Vou tomar café no trabalho, mãe, e além disso não acordei com fome hoje.
Na realidade ele estava morrendo de fome, só estava sem paciência para sentar ali e ouvir seu pai narrar as notícias do jornal. Arthur não suportava quando ele fazia isso, cada notícia, cada nota de rodapé seu pai narrava com tal entusiasmo que mais parecia um narrador de futebol.

Sua mãe se levantou as pressas, segurando ele pelo braço o levou até a cozinha.

- Arthur, você sabe muito bem da sua hipoglicemia, não tem condições de você sair de casa sem comer alguma coisa.
Naquele momento sua mãe já estava exigindo sua máxima paciência.
- Toma, Arthur, pega essa maçã e não me enche mais o saco...
As palavras dela rasgaram o ar e penetraram no seu ouvido como navalha, apenas para terminar de irritá-lo. Arthur pegou a maçã muito a contra gosto, embrulhou em um papel toalha e largou dentro de sua mochila.

Já eram quase 9:00 horas da manhã e o verão carioca mostrava a que veio. Arthur levava 7 minutos andando até o ponto de ônibus. Por diversas vezes ele contava o tempo da saída da portaria do seu prédio até a placa do ponto. As vezes ele marcava o tempo contando quantas músicas conseguia ouvir até chegar no ponto. Quando ouvia a rádio, contava quantas piadas sem graça os radialistas iriam contar, ou quantas propagandas do mercado Guanabara iria ouvir.

It's this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide
No escape from reality
Open your eyes
Look up to the skies and see...

Freddie Mercury começou a cantar dentro de sua mente, por alguma razão estranha aquelas palavras pareciam pulsar e faziam um sentido inexplicável.

Bohemian Rhapsody ja estava quase terminando quando Arthur chegou na esquina da sua rua. Entre o final da música do Queen e o início da próxima música aleatória, Arthur tirou um fone do ouvido para escutar com mais clareza o barulho de sirene que imaginou ter ouvido. Ato contínuo, um carro vindo na contra mão em alta velocidade se chocou contra um poste do outro lado da rua. As pessoas que estavam em volta ficaram perplexa, não demorou muito e dois carros da polícia surgiram, os polícias saltaram dos carros já com suas armas em punho, instantaneamente os curiosos que ali estavam correram para buscar algum tipo de refúgio. Tudo na sequência aconteceu muito rápido, um homem moreno, magro, com o rosto todo ensanguentado saiu do carro com uma pistola na mão, seu parceiro, que estava no banco do carona, desceu do carro segurando uma sub-metralhadora. Eles e os policiais começaram uma intensa troca de tiros.

Arthur estava paralisado, não só ele, tudo a sua volta estava lento, ele conseguiu ver quando o policial puxou o gatilho, viu o projétil sair de sua arma e ir em sua direção...

Ele pode sentir cada centímetro de seu corpo arder, seu corpo estava tão quente quanto brasa, um calor abafado, sufocante, claustrofóbico, ele podia sentir todo seu peso e a gravidade puxando em direção ao meio fio. Estava leve, era uma sensação gostosa, se sentia planando.

Quando sua cabeça se chocou contra o chão, Arthur ficou torcendo para que não tivesse quebrado nenhum dente. "Numa hora dessas eu deveria estar pensando na minha família, nos meus amigos e nos amores que tive, em tudo de bom que vivi, por que só consigo me preocupar se quebrei ou não um dente...". Certamente se sobrevivesse mentiria para todos, afirmaria que não parou de pensar neles, nem por um segundo.

Seu peito estava quente e molhado pelo sangue... Nesse momento Arthur começou a prestar atenção na música que estava iniciando no fone que ficou em sua orelha.

And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain
I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Bem conveniente para a ocasião...
Porém, antes do final da música tudo se transformou num breu silencioso...

Uma voz macia sussurrou no pé do seu ouvido " Não... Ainda não... Levanta, vem jogar comigo".

Caverna MutávelOnde histórias criam vida. Descubra agora