Deixe que eu me apresente: meu nome é Carl.
Fui assassinado no meu 19° aniversário.
Sei que não é uma forma doce de nos conhecermos, mas não vejo um outro meio de começar a te contar tudo.
Estava confuso. Eu realmente não conseguia sentir meu corpo, dor ou senso de direção. Era apenas o vazio; sem gravidade. Para onde eu irei agora? Ali, sobre o chão, o sangue tomando praticamente todo o lugar, mas a única coisa que eu queria dizer era que amava muito a Mary. O engraçado é que eu sempre tive medo de ser esquecido e nunca mais ver as pessoas que amo. De certa forma, acredito que nunca pensamos que o fim da vida chega para nós tão cedo. Não tive tempo de dizer adeus. A morte é dolorida para aqueles que perdem de verdade. Aqueles que apenas vão no seu velório e jogam algumas rosas vermelhas sobre o seu caixão, amanhã nem lembrará que você existiu.A bala está alojada no cérebro, está em mim.
Meu último aniversário... Como irei escrever sobre meus sentimentos?
Eu só queria poder escrever algo que um dia alguém pudesse ler e gostasse. Contar sobre mim, sobre meus dias e talvez escrever poesias. Escrever histórias, e quem sabe estar no jornal. Eu poderia mandar cartas de amor sem remetente ou entregar mensagens a desconhecidos. Poderia escrever um diário ou talvez eu ficasse no meu canto, quieto. Eu imaginava as pessoas lendo e pensassem que aquilo realmente havia sido escrito para elas; "Isto é tudo o que estou sentindo agora", "Era disto que eu precisava". Agora não vou saber mais a reação delas. Todas as expressões perdidas no tempo que não vão mais acontecer.
Nas palavras criei coragem para dizer tudo o que sinto e passar para alguém algo de bom. E agora, quem fará o discurso fúnebre em velórios? Quem fará no meu? Não escrevi nada sobre este dia - sobre a minha partida. Como estará meus pais? Meus avôs? E meus amigos?
Enquanto eu ruminava sobre tudo isso, alguém me levava para fora dali em cima de uma maca. Eles me colocaram dentro da van e fizeram o possível para que eu voltasse a respirar. Eu definitivamente não voltaria, mas mesmo assim eles não desistiram.Vejo meu pai chorando e minha mãe de joelhos. Peter vem correndo de encontro a van e não consegue chegar até mim. Seus olhos ficam marejados e com um leve piscar, as lágrimas escorrem pela sua face. Ele logo vê meus pais e sai correndo para o lugar que eu já imaginava; a ponte. Por que será que Mary não viera com ele?
Para onde vamos após adentrar na luz?
Tenho escolha? Não poderei mais voltar?
Não quero partir.
Torrentes de lágrimas caem dos meus olhos.
Queria poder voltar no tempo e poder fazer mais. Os momentos e as lembranças passam e tudo se perderá no tempo, tornando-se frio. Guarde-me em seu coração. Será o suficiente. Você pode não está me vendo, mas conseguirá me sentir em suas lembranças.A morte não é dolorida. Ela é tênue e quando você se dá por si, ela já te levou. A morte é sombria, solitária e fria. Nunca saberemos como lidar com ela. Ou talvez isto é algo que descobriremos com o tempo. A dor de perder alguém é imensurável. Só estamos certos de uma coisa: nós nascemos para morrer.
Posso sentir os braços da imensidão me levando. O paraíso é demais para alguém como eu. Por favor, não me deixe ir!
De repente o abraço se desfaz e me sinto livre.
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Para Aby
RomanceA mãe de Peter morrera quando este era criança. Seu pai casara novamente e resolveram adotar Mary Welch. Carl, fugindo de seu passado, se esbarra com Peter e Mary. É hora de enfrentar o passado. Nós nascemos, aprendemos a dar os primeiros passos...