Existem inúmeros motivos que podem levar uma pessoa a decidir negociar a própria alma. A idéia é que desde que a humanidade soube da existência do diabo, apareceram aqueles que decidiram negociar com ele correto?
Errado! Nada mais longe da verdade.
É fato que com a criação das religiões monoteístas, especialmente aqueles com origem no judaísmo (como o cristianismo e o islamismo), os pactos ganharam uma imagem horrível. Ocultistas e estudiosos chegaram a repudiar tal prática e a espalhar o medo sobre todos que decidissem negociar com o diabo para proveito próprio. Muitos como Emmanuel Swedenborg chegaram a escrever:
"Quando os demônios insinuam-se aos iniciados, começam por ceder às mais distintas vontades de seu pretensioso manipulador: com a única intenção de atraí-lo - fingem obediência, submissão e subordinação. Ele acredita, inocentemente que está no controle da situação. Com os ponteiros do relógio acelerados, o homem passa a ter a noção de que ele é o elo mais fraco dessa corrente; o lado mais frágil desta corda intitulada de pacto; que há de arrebentar-se e o levará pelo pescoço ao fundo de um poço da qual jamais ninguém encontrou o caminho de volta."
E ainda Eliphas Levi, em Dogma e Ritual da Alta Magia, desaconselha, despreza e até ridiculariza práticas de pactos. Deixa registrado:
"Os evocadores do diabo devem, antes de tudo, ser da religião que admite um diabo criador e rival de Deus. Eis como procederá um firme crente na religião do diabo, para corresponder-se com seu pseudodeus (falso-deus)."
Ainda segundo Levi, para ser bem sucedido nas evocações infernais, é preciso ter: uma teimosia invencível, uma consciência ao mesmo tempo endurecida no crime e muito acessível ao remorso e ao medo, uma ignorância parente ou natural, uma fé cega em tudo o que não é crível e uma idéia completamente falsa de Deus.
Em todos os textos medievais e de raiz judaico-cristã é patente a necessidade de renegar a Deus posto que o Diabo é o principal adversário do Criador. A fim de efetivar esse ato de rejeição, o autor enumera complexos procedimentos tais como: PROFANAR as cerimônias do culto ou religião de origem e desrespeitar seus símbolos sagrados; JEJEUM: durante quinze dias fazer somente uma refeição, sem sal e depois do crepúsculo: "esta refeição será de pão preto e sangue temperados com molho, também sem sal, de favas pretas, ervas leitosas e narcóticas; EMBEBEDAR-SE: A cada cinco dias, depois do crepúsculo, além da refeição, é preciso embebedar-se com vinho preparado com uma INFUSÃO feita com 5 cabeças de papoulas negras e cinco onças de linhaça triturada; entre muitas outras.
Tudo isto é claro, resultado da ignorância criada pela fé em Deus e pela suposição de que: "Se possuo cultura e conhecimento, é obvio que aquilo em que acredito (a fé) é correto". Esta atitude foi criada por muitos estudos desenvolvidos por pessoas que se tornaram expoentes do cristianismo dentro da igreja católica, e tiravam sua crença de textos bíblicos e apócrifos que exaltavam a obediência em um Deus judaico único (Jeová - IHVH).
A idéia de que lidar com qualquer coisa que não fosse Deus era errada está estampada no Velho Testamento: Que em teu meio não se encontre alguém [...] que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável a Yaveh, e é por causa dessas abominações que Yaveh, teu Deus as desalojará em teu favor [...] Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido por Yaveh teu Deus.
(deuteronômio 18: 10-14)Apesar de ser extremamente abrangente esse era um ótimo mandamento se levássemos em conta que a idéia era de que o povo confiasse apenas em Deus e naquilo que Ele dissesse, sem deixar qualquer margem para a intervenção de outras entidades. O que é curioso se nos lembrarmos de Salomão, o homem que ergueu o Grande Templo, e que se utilizava de demônios em suas práticas.
No século IV o sínodo de Elvira pronuncia a feitiçaria como um dos pecados canônicos - apostasia - que deveria ser punido com a recusa da comunhão, mesmo àqueles que se encontrassem no seu leito de morte. Nos anos 397 a 426 Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho, escreve o seu tratado Da Doutrina Cristã, onde estabelece que a feitiçaria dependia de um pacto com o diabo (De Doct. Chr. II.22). Para São Tomas de Aquino (1225-1274), "o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios", qualquer ser humano que aceita a ajuda de um demônio, na esperança de conseguir alguma coisa que ultrapassa o limite dos poderes da natureza, já entrou num pacto com aquele demônio e o maior pecado nisto está em dar ao demônio uma adoração maior do que aquela dada a Deus.
A partir do Sec. XIII a igreja começa a comparar a prática da magia à heresia. Todo e qualquer ritual de magia era considerado vinculado a algum tipo de pacto com o demônio. E esses pactos significavam a apostasia em relação ao único Deus verdadeiro, o pior de todos os tipos de heresia. Convencendo o braço secular dos países da Europa de que o crime de necromancia era comparável às práticas de perversidade contra a população geral a igreja ganha o apoio legal dos países para punir aqueles que se envolviam em pactos.
Agora como pudemos ver esta foi a visão sobre pactos criada pela Igreja Católica e mesmo que a religião se torne cada vez mais morna e que a cada dia vejamos mais clara a divisão entre frequentadores que beiram o fanatismo e um número cada vez maior de religiosos não praticantes, essa visão permanece. Quando você pensa em vender a sua alma para o demônio sente que está fazendo algo errado ou correto? Como acha que as pessoas que te cercam, mesmo as que não frequentam igrejas e templos reagiriam se você lhes dissesse que gostaria de vender sua alma?
Agora, como dissemos mais acima, isto não poderia estar mais longe da verdade.