Eu me lembro de sentar na beirada de mármore do jazigo e fechar os olhos. Eu sentia que se meus olhos estivessem fechados, eu poderia fingir que nada daquilo estava acontecendo.
- Alexander – Sra. Babineaux – me chamou devagar.
Eu podia sentir seus dedos correndo pelo tecido do terno sob meus ombros e costas, mas eu não queria responder. Eu sabia que assim que eu me levantasse e a deixasse ali, tudo ia acabar. Ela ia acabar e eu teria que recomeçar.
- Alex, meu querido – a mulher continuou, mas gentil dessa vez – sei que é difícil, mon petit, mas você precisa continuar. Selene gostaria disso.
Respirei fundo, apertando-me contra meus joelhos – eu não queria continuar. Queria ficar ali. E eu não me importava com o que ela gostaria. Ela havia me deixado. Não fazia mais diferença o que ela gostaria ou não. Nunca mais faria diferença.
- Quer que eu o deixe um pouco mais aqui? – A Sra. Babineaux perguntou acariciando meus ombros.
Assenti sem dizer nada. Sem encarar seu olhar. Poucos minutos depois, ouvi seus passos ecoando no piso de tijolos.
Não sei quanto tempo eu fiquei ali, parado no tempo, perdido e sozinho, mas quando abri meus olhos, a tarde já começava a cair.
Eu sabia que tinha que ir. Eu tinha mesmo que ir. Não podia me comportar como um garoto mimado. Esse não era eu e mamãe não merecia que eu me tornasse imaturo e bobo exatamente quando ela não estava lá para cuidar de mim.
Apoiei minhas mãos sobre o mármore e fiquei em pé, correndo meus dedos pela superfície recém molhada, até as letras douradas na parte de cima.
Angeline Marrie Dubois – era o primeiro nome ali. O segundo, era o nome do meu avô Jean Pierre Dubois. Vovó havia morrido cerca de um ano antes dele e vovô ficou tão triste com sua partida, que morreu pouco depois. Mamãe sempre me contava essa história com orgulho.
Eu não sabia como era ter um pai. Eu não conhecia o meu pai, mas eu sabia como era ter uma mãe e eu sabia que ninguém no mundo poderia ocupar o lugar dela.
Selene Marrie Dubois – era o ultimo nome que se lia sobre o mármore. Selene, ou simplesmente mamãe, estava ali, junto da família dela, descansado no colo da sua mãe, depois de tantos anos.
Respirei fundo e corri os dedos pela lapide mais uma vez. O terno ainda estava lá, como mamãe gostava de me ver, mas esse era mais bem cortado e o tecido era mais caro. Eu havia me tornado o homem que ela sonhava. O destino havia sido bom comigo. Eu tinha uma família. Tinha um pai zeloso, tinha uma irmã gentil e amorosa e tinha uma filha linda que precisava de mim. Era por ela que eu vivia agora. Louise, minha pequena borboletinha, mas eu não tinha mais mamãe e a falta que ela me fazia eu não podia suprir.
- Senti sua falta esse tempo todo, mãe – eu disse enquanto depositava o buquê de flores de lis sobre o mármore.
Mamãe amava flores. Ela gostava de passear pelas Estufas Reais. Sentava-se nos jardins e passava horas e horas lendo, enquanto eu brincava no gramado.
- Você teria adorado conhece-la, mãe – eu disse, referindo-me á Louise – ela é tão linda. Tão cheia de vida – suspirei – Sei que sou um homem de sorte, mas eu mais um dia com você.
Senti a primeira lágrima escorrer pelo meu rosto, mas eu não a limpei. Deixei que caísse. Eu queria sentir. Queria chorar.
Fiquei ali, contando a ela coisas da minha vida, dividindo um pouco da carga, da felicidade, imaginando como seria se eu estivesse tomando um chá com ela, em nossa pequena casinha.
Quando o apito do vigia soou, eu soube que era hora de deixar o cemitério. A noite já havia caído e eu precisava retornar à realidade. Ajeitei minha gravata e segui pelo corredor principal.
Bem no meio, marcando o centro do cemitério, havia uma estátua de anjo feita em mármore branco. As pessoas costumavam deixar flores e acender velas aos soldados que morreram na guerra e ás pessoas que por alguma razão não tinham um túmulo. Conforme eu ia me aproximando, a figura foi se tornando mais visível. Era uma moça. Aparentemente jovem, corpo curvado contra à cerca do jardim, cabelos escuros espalhados em torno dos ombros. Ela parecia chorar. Estava profundamente triste.
Meu coração encheu-se da tristeza dela, misturada a minha própria. Eu sentia que precisa apoia-la, ampara-la. Eu nem sabia porque ela chorava, mas algo dentro de mim quebrou-se com o seu sofrimento. Estiquei a mão para tocar seu ombro. Eu queria abraça-la, queria dizer a ela que tudo ficaria bem. Parei no meio do caminho – eu não tinha esse direito. Eu precisava compreender que não poderia salvar o mundo.
Respirei profundamente, encarando a estátua de anjo e fiz uma pequena prece. Se eu puder fazer algo para confortá-la, que ela cruze meu caminho mais uma vez.
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Tão Minha
RomanceO LIVRO FICARÁ COMPLETO ATÉ O DIA 26/06- Depois disso somente degustação!!! Terceiro Livro da Série Homens de Roterdã ***Este livro pode ser lido sozinho, sem que haja perda no entendimento da história*** As vezes nem todo o amor do mundo...