Capítulo 4

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Abro os olhos e a luz incomoda, de tal forma, que e os fecho. Volto a abri-los, só que dessa vez, lentamente e observo o lugar em que estou repousando, mas não o identifico, parecia uma espécie de hospital. Sei que não é, pois meus pais jamais arriscariam, os humanos são imprevisíveis e não podemos nos expor a tal ponto.

Levanto a cabeça e vejo Emily dormindo em uma poltrona de couro.

Tento movimentar o corpo, mas sem nenhum sucesso, parecia que tinha um colchão de ferro em cima de mim! Faço esforço para tentar levantar, mas não surtiu efeito, me sentia cansado e os olhos a todo instante queriam fechar, estavam pesados e mantê-los abertos é quase como um sacrifício.

Zack?

Tentei falar, mas a boca não obedecia, parecia que naquele momento não pudesse controlá-la. Estou tão debilitado, que só sinto vontade de dormir, algo que jamais havia acontecido antes.

É normal que você não consiga falar Zack. Tente descansar um pouco. - Disse passando a mão pelos meus cabelos.

Meu pai adentrou a sala com um carrinho cheio de medicamentos, ele se manteve quieto e nenhum instante olhou para mim.

Emily dê isso a ele. - Disse Eron com uma tigela em suas mãos.

Emily deu-me um caldo, que deveria ter algo muito forte e eficaz, pois senti o corpo reagir um pouco, a voz também, já conseguia pronunciar algumas palavras.

Emy. – Falei ainda fraco.

Poupe suas forças Zack, por favor, não podemos nos dar ao luxo de ser teimosos nessa hora, você precisa obedecer pelo menos dessa vez. - Disse Emily séria.

Fechei os olhos por um instante e senti como se voltasse aquele lugar em que me vi antes, porém agora, era um mero expectador. Olhava para mim mesmo com pena por estar naquele estado. Meu corpo começa a receber uma grande energia, era um misto de positiva e negativa, meus sentidos me incomodavam e me deixavam em alerta total, como se algo fosse acontecer.

Olho para a jaula onde estava e o lobo branco de olhos dourados está parado me observando. Aquela cena se repetia, só que dessa vez eu via tudo, mas nada podia fazer.

Tento me aproximar, mas sou impedido pelo campo de força, era ali, naquele momento, eu no passado tentando me manter vivo para o futuro. Meu corpo sentia todas as dores daquele instante. Sabia por que estava deste modo, meus poderes quase haviam sumido, mas consegui sobreviver, a questão é: o que realmente estou fazendo aqui?

O corpo arrepia e uma sensação de medo me toma, olho para o lobo branco e o lobo negro gigante surge por trás dele, com olhos vermelhos cor de sangue. Ele exalava terror e medo, astuto, com um "Q" da morte em sua presença. A cada centímetro que avançava, mais o meu "eu", que apesar de preso, recuava.

Era como se ali estivesse partido ao meio, um lado bom e o lado ruim. Era meu Yin e Yang. Não imaginei que isso pudesse influenciar tanto em mim, mas pelo jeito, quando me descontrolava, com certeza, seria esse lobo negro que tentava se sobressair.

O lobo negro se aproxima, ultrapassa a jaula e vem em minha direção, como se quisesse me fazer algo. Seus olhos brilham e, de repente, invade o meu ser, algo assustador, ser tomado daquela forma, mas também, extraordinário! Nunca senti algo parecido... sentia me render, mesmo relutando. O lobo estava sendo mais forte do que eu. De repente meu corpo treme, vibrando de um jeito diferente, como se aquilo me ajudasse a não ser possuído, estava relutando e isso é fruto de todo meu treinamento, minha resistência, meu foco.

Sigo até o campo de força, mas sou impedido novamente, percebo alguém chegando, mas não me é familiar, é uma loba que aparece da escuridão e fez com que o lobo negro recuasse. Ela veio devagar até a jaula e a quebrou, como se estivesse amassando papel. O lobo negro sumiu e o lobo branco, que até agora estava parado, começa a brilhar junto com a loba branca, seus olhos são azuis como a água. A luz irradiada e o meu eu que antes estava preso, foi saindo aos poucos e me veio à sensação de estar livre daquele lugar, senti-me tonto e a luz ficar mais forte. Fecho os olhos por alguns segundos e, quando os abro, estou no quarto junto à Emily novamente.

Emily chega perto de mim e não está com uma cara nada boa, tento falar, mas quase nada sai da minha boca, sinto um vento gelado percorrer todo o corpo e constato, que só minha parte intima está coberta. Tento falar algo, mas em vão. Observo uma velhinha chegando e ela traz consigo um pote e uma colher ou outro objeto, que não consigo identificar.

Começa a mexer a coisa que estava no pote, mais parecido com um musgo verde e, então, começa a passar em corpo. A mistura era gelada! Tentei fazer algo para impedir, mas não tinha forças. A pasta fica cada vez mais gelada me deixando constrangido por tal cena, mas nada podia fazer.

Fecho os olhos e um feixe de luz irradia por todo meu corpo, volto aquela cena, em que o lobo branco brilha junto com a loba branca, vou de encontro aos dois e sou impedido pelo campo invisível. Forço para ultrapassar e sou arremessado para trás. Olho para eles e, agora, a luz que emana de seus corpos, já não é tão intensa e vejo o meu eu se tornar um lobo e se juntar a eles. A luz se intensifica e não consigo ver mais nada, dou uns passos para trás, meu corpo começa a formigar e sinto o rosto gelado e sinto vir uma força descomunal dentro de mim e me deixar seguro. Abro os olhos e estou no quarto e a senhora que antes passava a pasta em mim, agora, se encontra parada à direita da minha cama. Logo sorriu quando viu que abri os olhos, pegou sua pequena sacola que, antes não tinha visto, e saiu do quarto.

Quem era essa mulher? - Perguntei ainda fraco.

Isso é uma longa história. - Disse Bernardo colocando a mão sobre minha testa.

O que está acontecendo comigo? - Pergunto olhando para ele.

Zack fique quieto logo estará melhor, se você ficar forçando seus movimentos talvez nunca mais consiga se movimentar. - Fala Bernardo me olhando.

Sinto meus olhos encherem de lágrimas e escorrem por meu rosto. Encaro o teto, com os pensamentos tumultuados, imaginando como será minha vida se nunca mais voltar a andar. Sempre fui ativo e nunca gostei de ficar parado, nunca neguei ação e olha onde estou agora...

As lágrimas escorrem por meu rosto e sinto uma mão passar em minhas pernas, mas o estranho é que não era para eu sentir nada... Olho para minhas pernas e é minha mãe que estava ali, não minha mãe adotiva Ema, mas sim minha mãe de sangue Lara! Não sabia como era possível, mas ela estava ali linda com um sorriso imenso no rosto. Quando a olho, sua imagem desaparece lentamente, mas seu sorriso continua intacto. Tento levantar para abraçá-la, queria beijá-la, queria fazer muitas coisas ao seu lado.

Levantei me esforçando ao máximo, fiz força e consegui ficar sentado na cama, mas quando fui abraçá-la, ela sumiu e pude ouvir um grito, não qualquer grito, um grito de emoção. Abri os olhos, que até agora não tinha percebido que estavam fechados e tive a decepção de perceber que tudo aquilo não passava de uma ilusão.

O Aprendiz de Guardião (Trilogia Guardião) EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora