CAPÍTULO TRÊS.

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― Relaxe ― disse uma mulher da Abnegação, enquanto eu tentava me ajeitar na cadeira dura de metal.

― Não é tão simples assim ― murmurei.

Ela aproximou-se com uma agulha enorme nas mãos. Contive um gemido ao ver o tamanho daquilo. Não tinha medo de agulhas, mas aquela era terrorífica.

― Relaxe ― repetiu a mulher, passando um pano úmido em um ponto de meu pescoço ― Não doerá.

― Sempre dizem isso ― choraminguei, antes da ponta entrar por minha pele.

A mulher sumiu, assim que separou-se de mim. Seguia sentada na cadeira, mas rodeada de espelhos. Levantei-me, levemente confusa. Olhei em volta, só vendo meu reflexo. Quando me virei novamente, a cadeira tinha sumido. Provavelmente, ficaria tonta por tanto dar voltas, mas virei-me novamente.

À minha frente, tinha duas bandejas. Uma com um pedaço de carne e outra com uma faca.

― Escolha ― uma voz disse.

Olhei em volta, mas não vi ninguém.

― Escolha ― a voz insistiu, urgente.

Senti uma sensação de pânico e peguei a carne, apressadamente, sem parar para pensar no quão ridícula foi minha escolha. Mas não iriam pôr algo que me machucasse, certo?

Logo que peguei o pedaço, as bandejas sumiram. Virei-me, sentindo-me observada, e dei de cara com um grande cachorro. Ele aproximou-se de mim, mostrando os seus dentes com ferocidade. Instintivamente, mostrei-lhe o pedaço de carne, erguendo-a na frente de meu rosto, longe o suficiente dele.

Ao ver a comida, ele fechou a boca, mantendo os olhos nela, sentando-se como um cão adestrado. Contive um sorriso, sempre gostei de cães.

― Fique sentado! ― mandei, aproximando-me dele aos poucos.

Ele parecia querer pular, mas manteve-se como estava. Não quis arriscar muito mais, então dei-lhe na boca. O seu dente canino roçou em meu dedo polegar, rasgando a pele levemente. Afastei-me no mesmo momento, mas ele estava ocupado demais para notar.

Não queria saber o que aconteceria quando ele perdesse sua distração, mas esperava que isso criasse uma empatia entre nós. Não tive tempo para descobrir o que aconteceria.

― Cachorrinho! ― ouvi a voz de uma criança gritar.

― Não! ― gritei para ela, procurando-a com o olhar.

O cachorro esqueceu-se da carne, rosnando e correndo para a direção dela. Corri o mais rápido que pude, ultrapassando-o. Joguei-me na frente da criança, ficando vulnerável ao cachorro, uma verdadeira burrice.

Senti o hálito dele em meu pescoço e, então, tudo sumiu ao meu redor. Não senti mais a criança em meus braços e nem o cão por trás de mim. Fui levada para a frente, e entendi que estava em um ônibus.

― Você conhece a este homem? ― perguntou um homem, seu rosto escondido pelo jornal que segurava. a capa mostrando um rosto familiar, para mim ― O conhece?

Sua raiva alertou-me imediatamente. Eu não queria briga e, revelar que o conhecia de algum lugar, pioraria a situação.

― Não ― respondi.

― Mentira! Por favor ― agora ele suplicava, mas não conseguia ver seu rosto, então não sabia se era real ― Ele fez coisas ruins para mim. Você o conhece?

― Já disse que não o conheço ― insisti.

Tudo ao meu redor sumiu, e eu estava novamente sentada na cadeira.

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