Luke franziu o cenho, completamente concentrado no maderia fria do balcão e sequer percebeu que Michael estava concentrado nele. Sim, nele. O jovem de cabelos escuros estava sentado em uma cadeira de frente para o balcão e com os olhos verdes fixos no loiro. O movimento era inexistente na cafeteria e era o momento perfeito para desenhar Luke.
Já fazia uma semana que convivia diariamente com o Luke, e Michael apenas sabia que ele tivera um gato. Só isso. Luke não contava suas experiências estranhas ou quando ficou bêbado pela primeira vez – se é que tenha ficado. Luke era completamente reservado e aquilo deixava Michael agoniado, ele queria conhecer o rapaz.
Ah, como queria.
Luke levou os olhos azuis até Michael, observando o rapaz dividir a atenção entre ele e a folha de papel, rindo em seguida.
“O que está fazendo?” Perguntou Luke, sentindo as bochechas arderem.
“Desenhando” respondeu Michael um pouco grosso e voltando a olhar os traços delicados de Luke, aquilo o fascinava.
“Você 'tá me desenhando, garoto?” Perguntou Luke bufando e cobrindo o rosto, fazendo Michael gargalhar.
Jimmy sai da cozinha mastigando um pedaço de pão e limpa as mãos em seu avental, observando a cena.
“Manda ele parar” murmura Luke para Jimmy, que olha para Michael confuso.
“Você tem rosto tão bonito” diz o dono dos olhos verdes com um leve sorriso brincando nos lábios rosados. Luke o espia por uma brecha entre os dedos magros e fica ainda mais envergonhado. Aquele sentimento tomava conta de Luke cada vez que Michael falava algo sobre ele. Aquele sentimento que Luke não sabia o que era já que nunca tivera sentido antes.
O que era aquilo?
Lizzy Grant gritou por Jimmy na cozinha e o homem correu para a mesma, deixando os dois rapazes sozinhos novamente. Luke deixou-se olhar para Michael e tirou as mãos do rosto lentamente, fazendo assim o outro rabiscar algo no papel.
“Você não me deixa ver seus desenhos” disse Luke timidamente, ignorando a voz que berra em sua cabeça.
“Você é praticamente um estranho, sequer sei seu nome do meio” fala Michael, repousando a caneta sobre a coxa.
Elizabeth.
“Robert” diz Luke quase de imediato, sentindo a garganta coçar.
Michael franze a testa e analisa a feição triste que brota no rosto afilado de Luke. Os olhos azuis se perdem em um vazio enorme e a vontade que Michael tem é levantar e abraçá-lo. Naquela momento Michael percebeu que algo aconteceu com Luke e que não iria forçá-lo a falar sobre sua vida pessoal.
Mesmo querendo participar da vida pessoal de Luke.
“Então, Luke Robert Hemmings” fala Michael divertido, levantando meio sem jeito e andando em direção ao balcão, rodando a caneta entre os dedos. Ele coloca o desenho sobre a madeira e se inclina em direção ao Luke. “Você quer sair hoje?”
Oh, sim. Sim! Sim! Sim!
Naquele momento tudo para, menos Luke. O rapaz observa de perto o rosto bruto de Michael, marcas de acnes e barba para fazer. Perfeições e imperfeições. Os olhos verdes brilhando na sua frente e a boca rosada pedindo por saliva já que estava bastante ressecada. Luke olhou para baixo, vendo o desenho dele feito de rabiscos incertos e riu, observando os dedos do Michael melados de tinta. Poderia ficar vendo aquela imagem a sua frente para sempre. A voz de Lizzy soa longe e o mundo ao redo de Luke volta a mexer, e um grande sorriso se abre nos lábios de Michael.
“Então? Meu amigo vai tocar nesse bar hoje a noite, você quer ir comigo?” Questiona Michael um pouco ansioso pela resposta do dono dos olhos azuis.
Lizzy cerra os olhos parada na porta da cozinha, esperando uma resposta do Luke e torcendo para ouvir um sim. Michael ergue as sobrancelhas enquanto tenta ler a expressão ilegível do rapaz a sua frente.
“Não” responde Luke seco, dando as costas para Mike que apenas guarda a caneta no bolso da calça skinny e volta para a cadeira, sentindo-se estranho.
\\\
Já era quase meia-noite e Luke estava sentado no pequeno sofá de frente para a tevê e com Michael no seu colo. Não o desenhista, e sim o gato. Michael, o gato. O bichano bocejou manhoso e miou em troca de carinho entre as orelhas. Luke encarava a televisão e quem olhasse pensaria que ele estava prestando atenção no aparelho, mas não estava. Luke viajava em um mar de perguntas mas não havia respostas.
O que Michael queria com ele?
O que Michael quer com ele?
O que eles fariam no bar?
O que eles não fariam no bar?
Ele deveria contar a Michael que em poucos dias faria uma cirurgia para tirar os seios?
Ele deveria falar a Michael que no lugar de um pênis tinha uma vagina?
Michael iria chamá-lo para sair mesmo sabendo que Luke nasceu como Lucy?
O que ele queria com Michael?
O que ele sentia por Michael?
O felino miou novamente, acordando Luke de suas perguntas confusas e o fazendo dar atenção para o animal, mesmo ainda com a mente longe. Luke tinha medo da reação de Michael. Luke não sabia o que sentia por Michael. Aquilo era atração? Era pura luxúria? Porque Luke estava ali pensando no Michael enquanto o dono dos olhos verdes estava em um bar se divertindo pra caramba?
Ah, aqueles olhos verdes...
O telefone – que ficava ao lado do pequeno sofá, em uma mesinha esverdeada – tocou e Luke quase berrou, sentindo o coração bater forte. O barulho rouco parou quando o loiro finalmente estendeu a mão e pegou o aparelho, o colocando contra o ouvido. Um chiado gritou no tímpano de Luke e logo depois várias vozes ecoaram longe.
“Alô” a voz grossa de Michael soa do outro lado da linha. “Sou eu”
Luke respira um pouco incerto ainda assustado com o aparelho e franze o cenho quando finalmente percebe quem é.
“Como conseguiu meu número?” Sua voz sai um pouco fina de mais e ele revira os olhos, limpando a garganta.
“Lizzy acabou de me passar, então corri para esse orelhão” responde Michael soltando uma risada sem graça. “Aqui fede”
“O que você quer?” Pergunta Luke sorrindo, olhando o relógio em cima da televisão. “Já passou da meia noite, eu poderia 'tá dormindo”
“Mas não está” diz Michael. “Só queria dizer que você é um ser incrível” proferiu Michael, um pouco alterado. “Já faz uma semana que eu te conheço e parece que faz anos, o que é estranho porque eu não sei nada sobre você”
Luke sente o rosto molhado e percebe que está chorando. Que estúpido. O bichano levanta timidamente e da leves lambidas no rosto do seu dono, fazendo aquele barulho que Luke tanto adorava. Michael estava bêbado, aquilo era um fato, mas Luke nunca tivera ouvido aquilo com tanta firmeza.
“Você está bêbado” fala Luke, isso é a única coisa que seu cérebro raciocina. Ele afasta o gato e enxuga as lágrimas, sentindo as bochechas arderem.
“Eu estou um pouco, talvez muito” diz Michael.
“Eu tenho que ir” mente Luke, trocando o telefone de orelha.
“Okay, então... Te vejo amanhã, Luke”
“Sim” o loiro abre um sorriso, encostando a cabeça no sofá. “Te vejo amanhã, Michael”
n/a: não vejo vcs amanhã :/

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luke ♢ muke [c]
Fanfictionna qual luke nasceu no corpo de uma garota. [transboy] [finished]