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Passei a tarde toda pensando no que falar para meus pais, quando eles viessem até mim, e seria a seguinte história:

"Oi mãe, oi pai. Sim tudo bem, e com vocês? Isso no meu rosto? Ah, eu caí na aula de educação física. Uma queda cabulosa. Me quebrei todo."

Diálogo simples, discreto, inovador e convicente.

Mas não foi bem isso que aconteceu. Quando a noite chegou, os dois entraram no meu quarto, fingi que estava dormindo, mas eles me chacoalharam, e eu abri os olhos, resmungando e choramingando. Eu sou um ótimo ator.

Minha mãe encarava meu olho roxo, mas não quis perguntar. Já meu pai...

-O que aconteceu no teu olho? Se meteu em briga?

-Que? Não. Eu bati na porta...- desviei o olhar para o canto do quarto, fingi tosse, mas não adiantou.

Eles ficaram lá.

Me olhando como se esperassem algo.

"Bati na porta."? Que porcaria foi essa?

Eles continuaram lá.

-Vocês já podem ir...- tentei parecer o mais alegre possível, mas talvez eu não seja um ator bom assim, e tive certeza disso quando minha mãe se sentou em minha cama, me olhando, e pegou minha mão.

- Querido, pode falar pra gente - Ela massageava meus dedos com os polegares macios dela, e isso sempre é acompanhado daquele olhar penetrante como se estivesse lendo minha alma e meus pecados. Um por um.

Limpei a garganta e olhei para as nossas mãos.

Ela continuou esperando.

Esperando.

Meu pai saiu quando leu o olhar de minha mãe.

- Agora fala, Zayn. A verdade.

- Mas eu já fa-

-Não ouse mentir para sua mãe.

- Eu não estou men-

- Filho, te carreguei na barriga pra cima e pra baixo por nove meses, te amamentei até seus quatro anos, te dei amor e carinho. Então não venha me falar que não estava mentindo, porque se tem uma coisa que você não está, é falando a verdade. Então, fale logo. O que aconteceu?

Olhei no fundo dos olhos dela e senti os meus encherem de lágrimas.

Preciso descobrir quem ensinou minha mãe essa técnica de me fazer falar a verdade, chorando. Eu meio que já entendi como funciona: 1) ela pega minha mão e fica me encarando e 2) faz perguntas mas sempre interrompe as respostas e 3) termina com esse discurso de "Eu sou sua mãe, te conheço, e sei quando você está mentindo". Vou começar a usar isso nas pessoas mentirosas, exceto a parte do discurso.

Ignorei as chamadas do meu celular e comecei então a contar tudo o que estava acontecendo, o que fizeram comigo, sobre o Sr. Ruggiero, o conselheiro e, após insistência, sobre Colin. Me senti tão envergonhado em falar sobre Colin e eu para mamãe... não foi legal.

Notei que seus olhos perderam um tanto do brilho quando contei sobre minha relação escondida. Sinto que a decepcionei.

- Desculpa mãe... eu não queria te desapontar. Sei o quanto você e papai lutaram por mim... se eu pudesse, eu juro mãe, eu juro que não ia escolher ser assim.

- Meu amor, você é meu bebê, nunca me desapontaria. - ela colocou as mãos em minhas bochechas.- Eu te amo tanto, Zayn. Não querido, você é perfeito... do jeito que é.

Por fim, me abraçou. Um abraço apertado.

Eu sei que decepcionei ela.

Então ela saiu do quarto, falando para eu ir dormir e que ela conversaria com meu pai antes de fechar a porta.

No meio da noite pude ouvir alguns barulhos e levantei.

Abri um pouquinho da porta e ouvi a voz do meu pai. Ele estava com raiva. Fala alto. Fiquei imaginando como ele estava: andando de um lado pra o outro, sem saber para onde ir ou fazer.

- GAY? COMO ASSIM? ZAYN? MEU ZAYN?

-Não fale alto. Vai acordar ele!

Tive vontade de descer as escadas e falar que não estava dormindo, mas só pioraria as coisas.
Minha mãe tentava acalmar ele. Eu apenas ouvia, me sentei de costas para a porta, e continuei ali ouvindo a discussão dos dois.

-CALMA? VOCÊ NÃO PODE ME PEDIR CALMA DIANTE DE UMA SITUAÇÃO DESSA!

-Querido, por favor, entenda o lado dele. Não está sendo fácil para Zayn. Ele não vai mudar por ser gay.

-Não diga essa palavra em voz alta, Trisha, por favor. N-não dig...

Ouvi a voz dele fraquejar. Ele estava chorando?

Levantei do chão e segurei a maçaneta, fiquei encarando minha mão nela por algum tempo, não sabia o que fazer. Desço ou não? Será que consigo encarar meu pai nesse momento?

Fechei os olhos e respirei o mais fundo que podia, girei a maçaneta. Agora já foi. Coloquei o pé para fora e quando fui me preparar pra descer as escadas ouvi o toque do meu celular. Merda.

Desbloqueio a tela e atendo a chamada sem ver o contato.

-Alô?

-Porque você não atende a droga do celular, porra?

•~•

Passei os sete dias mais longos da minha vida.
Sem celular, sem notebook.

Estava quase morrendo sem contato com o mundo.

Escrevi esse capitulo por três dias, pensei que daria mais palavras, mas não foi o imaginado, pois é.
Minha cabeça uma bosta. faço merda. Só falo merda. Falando em merda, aliás, acabei de pisar em uma e quase vomitei aqui no carro com o cheiro dessa cretina.
Ew
Que nojo.
Vocês não precisavam saber disso.

Vou procurar um jeito de limpar essa sapatilha.
Tchau (。・ω・。)

Somebody To Love - ZiamOnde histórias criam vida. Descubra agora