Margarida

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Lá estava eu, a caminho de mais um semestre sendo obrigada a aguentar aquela diversidade de personalidades (ou da falta dela) que é o ensino médio. Na verdade, se você encontrar alguém com realmente uma personalidade própria lá, me avise, eu realmente gostaria de saber mais de como é a magnifica vida desse ser e de como ele conseguiu tal feito sem cometer suicídio.

Porque, basicamente, o que se encontra no colégio são aqueles típicos grupinhos, os quais não descreverei aqui pois tenho certeza de que você sabe do que estou falando, e são basicamente eles que ditam o modo que você deve se comportar.

Nesse ponto você deve estar se perguntando de que grupo eu sou, para estar falando com tanta autoridade do que pode ser ou não considerado personalidade. Bem, resumindo, não sou uma daquelas garotas que só falam de roupas e namorar, nem daquelas extremamente tímidas que acabam com o cara mais bonito da escola por motivos inexplicáveis, ou ainda das nerds. A questão é que eu ainda não consegui encontrar um rótulo para mim mesma.

"Ah, então você é uma daquelas garotas desinteressantes que andam por aí com suas amigas sussurrando coisas umas para as outras e rindo" é o que você me diz. Ok, você não me disse isso, mas vamos fingir que você disse e que você está realmente interessado em minha personalidade e em conhece-la. Se você dissesse isso, diria que você também está errado, pelo simples fato de eu não ter um grupinho de amigas para sussurrar no ouvido. Tudo o que eu tinha era o que estava correndo em minha direção de braços abertos e gritando o meu nome desesperadamente, me fazendo querer sutilmente enfiar meu rosto no chão e nunca mais tirar.

Em questão de segundos eu estava quase caindo e literalmente sendo forçada a enterrar minha cabeça no chão enquanto era envolvida pelos braços de Alexandre, meu melhor amigo, que parecia bem mais entusiasmado com o fato de acordar as 6 da manhã e rever todas aquelas mesmas pessoas do semestre passado do que qualquer um naquele lugar, principalmente eu.

"Ah, já entendi, você é daquelas garotas que se apaixonam pelo melhor amigo e acaba casando com ele no final. Felizes para sempre" é o que você supostamente me diz, mas vou ter que negar novamente. Principalmente pelo fato de que mesmo que eu gostasse dele desse jeito, nada nunca poderia acontecer entre nós. Por que? Ham, simplesmente porque ele gosta das pessoas do mesmo gênero que eu, resumindo, ele é gay. E ter um melhor amigo gay foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo naquele ensino médio.

A questão é que ele é o extremo oposto de mim. Ele conversa com todo mundo, sempre parece estar tão feliz e não tem a menor vergonha de sair dançando no meio da rua. Já eu, com minhas roupas de cores não chamativas, minha alma introvertida, cara de sono e vontade de matar todo mundo daquele lugar, quase sumia quando ele estava do meu lado.

Eu olhei em volta e vi todas aquelas pessoas gritando umas com as outras sobre como suas férias de meio de ano tinham sido incríveis e maravilhosas, isso por si já me deu vontade de voltar para casa e ficar na internet o dia inteiro não fazendo nada de útil pra sociedade, mas o olhar que o Alexandre me lançava por ter me revisto me passava tanta alegria que por alguns segundos eu juro que senti uma certa esperança na sociedade, que foi simplesmente quebrada pela mulher que pegou o microfone, também conhecida como coordenadora, e começou a falar todas aquelas coisas de como ela espera que o resto do ano seja muito produtivo e cheio de aprendizado, e logo após daquele discurso todo ela começou a ler os nomes de cada aluno de cada classe, basicamente mandando todos logo para a sala de aula para o início da seção de surpresas, normalmente desagradáveis, que é a volta ás aulas.

Assim que ouvi "Amanda Mello" me juntei ao pequeno grupo de alunos perto do professor de química, até que uma coisa chama minha atenção, ou melhor, um nome. Laura "Algumacoisaqueeunãoseipronunciar" Ferraz. Uma aluna nova.

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