Não passava das três da tarde. O trem estava indo para a estação de Newland, e lá estava ela. Depois das agitadas festas de fim de ano, Nina retornava para casa. Um pouco cansada talvez, mas certamente cheia de histórias para contar. Na bagagem algumas lembranças da casa dos padrinhos que só via em datas como estas e vez ou outra em seu aniversário. A viagem tinha sido longa, e faltava poucos minutos para desembarcar. Uns livros, fones de ouvido tocando um jazz qualquer e a cabeça longe. Era hora de voltar a velha e pacata Newland, a sua vidinha de ir para a escola e ajudar a avó em casa. Mas dessa vez, ela queria fazer diferente. Era o último ano escolar afinal, e desde o ano passado havia comentado em trabalhar com alguns de seus amigos na papelaria central. Dona Judite ficou preocupada de início, mas quando as dívidas começaram a triplicar ela por fim aceitou a ideia. Uma voz robótica anunciava a chegada no destino. Ela colocou a mochila quase maior que seu corpo nas costas e se levantou com certa dificuldade. Saiu dali diretamente as escadas com passos calmos e respiração ofegante. Assim que saiu da estação, acenou para o primeiro taxista que viu. Um senhor gorducho e de bochechas caídas. Um bigode gorduroso e uma fala que certamente pertencia a algum personagem de desenho animado:
– Deixa eu te ajudar. – A voz rouca e envelhecida dele lhe fez abrir um sorriso aliviado.
– Obrigada. – Ela sorriu novamente, sem que pudesse mostrar os dentes e o auto deslizou rua a fora.
Minutos depois avistou a frente de casa. Tons pastéis, algumas flores e a cuidadosa Judite na varanda. Desceu do automóvel bem depois do taxista que pegou com facilidade as tralhas dela. Acertaram o valor da viagem e depois de agradecer ela arrastou a mochila sem se dar o trabalho de colocá-la em um dos ombros:
– Nina! – A senhora deu um riso e desceu as escadas lentamente. Nina chegou um pouco mais depressa perto dela e então abraçaram-se depois de uns dias distante. – Venha, entre. Preparei aqueles biscoitos que você gosta. – Ela puxou a menina pelo braço e ao entrar dentro de casa ela pode sentir a sensação boa de estar de volta.
Apesar de gostar bastante da cidade vizinha (Foxland) ela queria mesmo era estar ali. Ouvindo aqueles passarinhos, o telejornal no fim de tarde, as amigas contando as mesmas novidades milhões de vezes. Era ali que deveria estar, e nenhum luxo de foxland iria mudar isso. Depois de se entupir de biscoitos de polvilho, ela arrastou a mochila pelos degraus mais uma vez. Precisava tomar um banho, descansar e claro, rever os amigos. Saturno seu gato de estimação entrelaçava-se em suas pernas toda vez que ela chegava da rua e dessa vez não foi diferente. Ele se contorceu por entre as pernas da dona como quem implora um carinho e sem resistir ela deu algumas acariciadas no pelo escuro e brilhante dele. Foi tirando os sapatos enquanto chegava no quarto e como sempre, deixava-os pelo corredor. Largou a mochila na porta e correu pra cama. Ela podia sentir o corpo cansado, os pés inchados por ter ficado em média meia hora a espera do trem e os olhos pesados de sono. Foi adormecendo aos poucos, até ter um sonho um tanto esquisito.
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Perfeito Cafajeste.
RandomConfira aqui a Sinopse: https://www.youtube.com/watch?v=w5i4hFJK1Fo