- (Parte 02) -

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Um pesadelo era tudo o que não precisava naquela hora. Acordou aos gritos e a respiração descompassada. Um fio de suor lhe caía da lateral do rosto e quando olhou pela janela percebeu que dormiu a tarde inteira. Saturno lhe olhava de cima da penteadeira, silencioso, olhos grandes e esverdeados e um ar de tédio.  Ela sentou-se na cama e ficou ali imóvel até retomar o estado normal. Enxugou aquele suor e levantou. Olhou pro relógio de parede, faltava quinze pras sete da noite. Apressou-se ou Jean lhe mataria. Sim, seu amigo nerd de óculos arredondados e cara fina tinha coragem de assassinar alguém, principalmente se esse alguém não fosse pontual. Ela se apressou no banho. A roupa escolhida caiu perfeitamente no corpo magro e pequenino dela e com o celular em mãos ela saiu deixando claro que voltaria antes das onze por conta do cansaço. Judite concordou e deu mais mil e uma orientações que toda vó costuma dar: "Leva casaco" "Não aceite  nada de estranhos" "Não coma muitos doces" "Volte cedo" e etc. A pracinha ficava algumas ruas depois, ela tinha de ser rápida. Jean, Penny e Jesse já deviam estar bufando e batendo os pés porque o filme estava prestes a começar.  Os passos foram ficando mais largos e rápidos e numa corrida contra o relógio ela estava a poucos metros da praça central. Pôs os pés pra fora da calçada e um clarão se formou ao seu lado. Os olhos assustados e um barulho de freada brusca, ela foi ao chão:

– Nina? Amiga? Oi, fala comigo! – Jesse dizia com a voz trêmula. Cheiro de pneu queimado, barulho de alarme e claro, uma roda de curiosos. Ela foi abrindo os olhos com dificuldade e podia ouvir ao longe uma discussão:

– Você é imbecil cara? Não viu a garota? – Jean esbravejou.

– Eu tenho culpa da cidade estar mal iluminada? Ela deveria olhar pros lados antes de atravessar, não acha?

–Você deveria andar com farol alto nesses casos, e usar algo chamado buzina, já ouviu falar? – Jesse abriu um sorriso irônico e Jean ao seu lado observava as expressões irritadas do playboy que acabara de provocar tudo aquilo.

– Saiam da frente, deixa eu ver ela. – Ele passou entre os curiosos e então parou a frente dela. Dobrou um dos joelhos e aproximou o rosto do coração da menina e tornou a olhá-la. Ambos ficaram ali se olhando alguns segundos até ela murmurar:

– Tô viva, não tá vendo? – Ela arriscou dar um sorriso que logo desapareceu por conta das dores que lhe incomodavam o rosto.

– Além de cega é sarcástica, vou te levar prum médico. – Ele ergueu uma das sobrancelhas e olhou penny que lhe interrompeu:

– Será que você também não sabe que não se pode mexer em alguém acidentado?

– Não vê que uma ambulância vai demorar muito mais pra chegar nesse fim de mundo e que assim ela corre muito mais perigo do que eu leva-la por conta própria no médico? – Ele balançou a cabeça em tom negativo e voltou a olha-la. – Chamem um táxi. – Jesse argumentou de início, mas vendo as caretas de dor da melhor amiga cedeu a ordem do garoto. O táxi chegou uns minutos depois do chamado e com a ajuda do taxista ele colocou a garota no banco de trás: – Direto pro médico por favor, não quero ter que ser culpado se algo de pior acontecer com ela. – Ele revirou os olhos depois de ser encarado de cima a baixo pelo trio de amigos de Nina e o auto saiu dali diretamente para o HCN (Hospital Central de Newland).

Chegando lá ela foi rapidamente atendida e levada para tomar medicação. Já passava das dez e meia quando Jesse, Penny e Jean chegaram a recepção. Deram de cara com o garoto e Penny disse:

– Já avisamos a avó dela. ela está vindo para cá. – Ele estava com as mãos enfiadas no jeans escuro.

– Já avisei ao meu irmão, vou arcar com os remédios dela. – Ouvindo isso Jesse arregalou os olhos:

– Remédios? Foi muito grave? – Ela se aproximou furiosa.

– Fala baixo, não percebe que tá num ambiente que exige silêncio? – Jean murmurou.

– Não. não foi grave. Ela está sonolenta por conta dos remédios. Vai ter que tomar um anti-inflamatório, comprar gases pro machucado da testa e algumas pomadas. – Ela respirou um pouco mais calma. As portas do hospital se abriram e Judite correu ao encontro deles:

– E então, como está minha menina? – Penny deu um jeito de explicar toda a situação de uma forma simples e rápida e foram interrompidos pelo médico:

– Quem é George Adams? – O menino levantou a mão. Todos o olharam atentamente. – Poderia me acompanhar por favor? Preciso que assine uns papeis e pegue as receitas.

– Ele não vai pagar nada, já basta o estrago que fez na minha neta. – Judite interrompeu a conversa e ele retrucou:

– Desculpa, mas é o mínimo que eu posso fazer pelo estrago que eu fiz a sua neta, não acha? – Ele girou os calcanhares e acompanhou o médico.  Quando retornou digitava rapidamente no celular. Um silêncio na recepção, apenas o barulho do telefone e das recepcionistas que faziam as mesmas perguntas de sempre aos visitantes. A porta se abriu mais uma vez e surgiu um homem alto, de cabelos arrepiados e jaqueta de couro preta. O maxilar largo, o nariz pontudo e uns olhos que certamente hipnotizariam qualquer um. Ele se aproximou de George e disse:

– Tá tudo certo por aqui? – George confirmou e ele olhou para as outras pessoas:

– Quem é você? – Judite olhou com ar curioso.

– Prazer, sou Deims Adams, o irmão de George. – Ele cumprimentou a senhora com um aperto de mãos e um sorriso que fez Jesse tremer as pernas.


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