Vinho, flores e, talvez, um romance

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Parecia que tudo havia sido real, e meus braços estavam realmente doloridos, como se tivessem sido apertados fortemente. Ao menos eu não havia atacado ninguém, o que era bom e ao mesmo tempo ruim. Se eu não reagisse, poderia ser morta facilmente.  

 —Bunny... O que houve? No final das contas, dançar não me parece ser uma boa ideia. 

Mas tentei retirar o péssimo pensamento da minha mente, seguindo, ainda atônita, Lucian. Eu não tinha outra escolha, aliás.Lucian me apoiou em seu ombro, me conduzindo para qualquer lugar que fosse isolado e tranquilo dali. Eu não tinha outra escolha, aliás. Todavia, se eu tivesse oportunidade, não iria querer deixá-lo.  Ajudou-me a sentar, e arrastou uma cadeira para perto de onde eu estava acomodando. Não demorou para que um dos funcionários que presenciou a situação aparecesse com uma jarra d'água e um copo com gelo. Retrai-me na cadeira, exitando na primeira tentativa de Lucian ao tentar me fazer segurar o copo.

—Ei, beba pelo menos um pouco.

—Eu fiz de novo...

Sussurrei, mas não era minha intenção fazer com que fosse audível para o homem. Finalmente bebi a água, que desceu rapidamente pela minha garganta quente, quase que me causando um ligeiro desconforto.

—Não pense que vou esquecer por causa do que aconteceu. Você ainda me deve uma dança, mas... E se deixarmos para uma outra ocasião?

Eu olhei uma ultima vez para Lucian, sorrindo fraca e quase imperceptivelmente para ele. Ele buscava ser atencioso a todo instante, mas seu senso de humor era algo que não podia faltar. Nos poucos minutos em que o conheci, poderia afirmar que, ele não seria ele, sem suas piadas de ultima hora.

—Me desculpe por isso. Creio que teremos que dançar à sós, então.

Não estava em meu ápice de raciocínio, e nem compreendi como tantas palavras conseguiram sair de minha boca, mescladas com certo tom de ousadia. A surpresa foi tanta que tirou aquele ar de espanto de outrora, e agora os músculos de minha face encontravam-se relaxados, procurando apenas entender como eu havia dito tudo aquilo, que soou também como uma certeza para um próximo encontro.

A comida ainda parecia demorar, mas o vinho estava sendo posto sobre a mesa. Eu desviei o olhar para a bebida, pensando no coquetel que se formaria dentro de mim — não surtiria efeito algum, mas eu gostava de pensar que no dia seguinte acordaria muito mal e com uma dor de cabeça horrível, sem lembrar-me o que havia ingerido o usado. Era um tom escuro,mas ainda lembrava-me algo rubro. Não exitei em bebê-lo, contudo, não o tomei por completo.

—Apesar de tudo, você ainda quer dançar? Bem... Sei de um bom lugar. — ele sorriu, como de costume.

 —Espero que seja realmente um bom lugar, senhor Lucian.  

Minha voz ainda estava falha, mas mais audível que antes. O sorriso agora se fez perceptível, e eu, por pura dedução e força de vontade, — em acreditar que aquilo nada mais fora que um pequeno sonho criado por meu medo, e nada além disso — concluí que a dor em meus braços tivera origem da forte contração dos músculos, e o nervosismo que passei.

Acompanhei-o, seguindo agora para uma escadaria, segurando num pequeno corrimão que havia na extremidade esquerda da escada, apenas por precaução e força do hábito. Não foram muitos degraus, contudo, visto que já estávamos em uma área mais elevada. Tão poucos que eu nem me dei ao trabalho de contá-los.

Surpreendi-me quando o 'pequeno' local fora aberto e ficara visível aos meus olhos. Jardins realmente me encantavam, e eu poderia passar horas ali, olhando até mesmo uma pequena joaninha se locomovendo entre as folhas, contrastando sua cor rúbea entre a folhagem esverdeada. Além das tulipas e fuchsias semi-abertas, claro. Gostaria de poder ficar ali o tempo que fosse necessário para vê-las abertas por completo, analisando cada milimetro que se abriam com o passar dos dias, e a curvatura que suas pétalas iam tomando ao decorrer do envelhecimento.

Mas Lucian novamente tirara-me daquele transe, tão bom quanto qualquer outro. Ele passou sua mão em meu cabelo, colocando uma flor atrás de minha orelha. A música ainda se fazia audível. Lentamente foi segurando a minha mão e entrelaçando nossos dedos e envolveu seu braço em torno de minha cintura.A princípio pensei em me esquivar, precipitada do jeito que era, já imaginava o pior. Mas rapidamente percebi que não era nada daquilo, e internamente estava envergonhada por ser tão... Não sei a palavra correta para descrever-me, eu estava realmente nervosa naquele instante.

Novamente senti o suave toque de Lucian, o que me fez estremecer. Estávamos ainda bem perto da porta, e eu, ingênua e erroneamente, tentei ir para frente, mas sequer tinha força para empurrar Lucian junto, ou sequer havia lhe avisado que almejava ir mais para frente. Tudo o que consegui fazer foi apenas ficar mais próxima dele, o que para mim era desconfortável — embaraçoso seria a palavra correta. Agora sabia que ele não me deixaria sair dali, e um curto suspiro rompeu meus lábios. Teria de me acostumar com a ideia, mas não seria agora, logo de início.


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⏰ Last updated: Jan 19, 2016 ⏰

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Nocturnal SymphonyWhere stories live. Discover now