Nocturnal Symphony

Bunny

  —Ebony... Posso te chamar de Bunny? — completou a fala com um sorriso no rosto. 

Não pude deixar de notar a maneira "alternativa" na qual ele acendeu um cigarro, tocando seu indicador na ponta do cigarro, que se acendeu no mesmo instante e logo começou a esfumaçar. Isso não me incomodou, de maneira nenhuma. Mas me angustiava, de certa forma, perceber que as pessoas não se contraiam ao ter certas propensões. Todavia, talvez eu apenas estivesse desacostumada com tudo aquilo que contrariava o que condizia com esse meu gênio quadrado. Aceitei, contudo, o cigarro que fora oferecido, colocando-o entre os lábios logo de seguida. Não estava em meus melhores momentos, mas não iria fazer desfeita.  

  —Bunny? — repeti, segurando-me para não tossir no mesmo instante. Fui-me surpreendida por um apelido bobo, de um completo estranho. —És meio apressado, senhor Lucian.  

  —Vejo que está meio ''perdida'' por aqui, nem sequer tocou direito no seu copo... 

  Ouvi o que mais ele tinha para dizer, mas não o respondi. Levei como certo desaforo, mas não expressei nada que exibisse meu julgamento precipitado. Apesar de eu querer me passar por despercebida, jamais amaria ouvir que estava exercendo isso com tamanho sucesso.  

— Mas ainda assim manteve interesse nos amantes que devem estar se divertindo agora. Aqueles lá são Abigail e Connor. De certa forma, são membros importantes para o clube. Seus atos não são mais segredo pra ninguém. Ao menos não pra quem está aqui desde o começo. Essa história vem se estendendo faz um bom tempo.    

Mordi a língua ao ser descoberta. No fim das contas eu já havia passado do ponto de ser discreta — ou Lucian que me vigiara o tempo todo. Mas como dizer que eu já sabia de tudo? Talvez nem fosse preciso, já que ele começara à falar um tanto quanto rápido. Podia dizer que meu ego estava um tanto quanto ferido, já que estava sendo forçada à me passar pela pessoa que "acabara de chegar e de nada sabia".

—Compreendo.

Traguei o cigarro uma ultima vez, intensamente, deixando a fumaça escapar logo depois numa figura que se assemelhava à uma argola delgada. 'Virei' todo o resto da bebida que havia em meu copo, agora já com os pés no chão. Já estava pronta para sair dali, faltava apenas despedir-me da figura viril que acabara de "conhecer".  

—Huh? Já vai? Nem sequer 'esquentou' os pés ainda. Bem, não posso deixar que vá embora sem que coma alguma coisa.  

Entreabri a boca para dizer-lhe palavras doces de despedida, mas fui-me interrompida novamente, era desgastante e divertido — talvez eu sempre almejasse que alguém me impedisse de sair de algum lugar, alegando querer minha companhia. Minha sobrancelha arqueou-se, enquanto eu expressava um ar pensativo. E por um momento me passou pela cabeça que aquilo havia se tornado um trabalho para ele.

—Ora, mas não estou com fome.

Tarde demais, entretanto. Ele se dirigiu ao barman  pedindo "o de sempre". Mantive um sorriso no rosto para não parecer indelicada e apenas aguardei. Era, de certa forma, incômoda a sensação que senti, deixando-me 'desligada' e sendo guiada por um desconhecido. Mas que baboseira! No máximo eu estava esperando por uma porção de rissoles... "Com vinho?!" pensei um tanto alto, mas em um tom ameno e baixo demais para Lucian ouvir. Talvez tivesse notado minha expressão de surpresa, mas eu desejaria que não.

—O que faz aqui em Nocturnal Symphony? Talvez o ambiente diferenciado... As bebidas e comidas... Ou quem sabe a música? Bem, uma coisa é certa. Muitos vem aqui com um objetivos em comum ou meramente semelhantes: encontrar amigos, fugir um pouco dos costumes rotineiros, se divertir... Tantos rostos novos, para mim, essa é realmente uma cena agradável.  

Esperei que ele terminasse de falar para que eu pudesse respondê-lo, afinal, não queria ter de refazer ou explicar alguma de minhas falas. Aparentemente, todas as alternativas propostas não me eram cabíveis. Talvez apenas a música, já que eu havia reparado e gostado do modo como tocavam. Até pensei, nas poucas horas que fiquei ali, em começar a tocar algum instrumento — mas tenho certeza que, quando saísse de lá, mudaria de ideia e passaria a amar outra coisa.

—Eu apenas estava cansada de ver o seriado 'Gravida aos Dezesseis', erroneamente o programei para reprisar domingo à noite. — calei-me por fim, ao dar conta do que ele acabara de falar, não pude deixar de sorrir com um certo tom brincalhão e irônico. —Fui teu 'rosto novo' de hoje?