Capítulo 4 - Uma nova missão

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O negrume dos túneis cinzentos voltou a rodear Camille enquanto ela seguia em direção ao alojamento. A incerteza e a indecisão a acompanhavam, de modo singelo, espreitando cada uma de suas suposições a respeito de Adam. Um enigma o circundava, tão confuso quanto aquele labirinto de corredores, e ela precisava decifrá-lo para garantir a segurança de todos os seus companheiros.

Necessitava começar a agir sem demora. Como Sarah e Will estavam pesquisando os relatórios das missões já realizadas ao longo dos anos, ela decidiu dar uma olhada nos diários de seu pai. Ao contrário dos relatórios, os diários eram objetos pessoais do pai de Camille e somente ela tinha acesso ao que estava escrito ali. Ela os considerava seus bens mais valiosos e os consultava com frequência, na esperança de encontrar alguma informação capaz de ajudá–los a alterar os rumos impostos pelo governo da Fortaleza.

O movimento no esconderijo continuava seguindo um ritmo progressivo, concentrando–se na área de treinamento. O espaço lembrava uma arena extensa e circular, cuja pavimentação de poeira e cascalho avermelhados era quase plana. Enquanto atravessava o lugar, Camille observou vários de seus amigos paraticando táticas de defesa e ataque, técnicas de imobilização e até mesmo estratégias de luta com vários agressores simultâneos. O grupo estava cada vez mais organizado e isso não era surpresa para a moça. A natureza humana é baseada no instinto de sobrevivência e esse é o mais forte e primitivo impulsor em tempos de guerra. Nas palavras simplórias de seu pai, era matar ou morrer...

De volta ao alojamento, antes de chegar até seu quarto e iniciar sua procura por respostas, a Capitã encontrou–se com Jessica e sua enorme barriga de grávida. A protuberância em seu ventre estava muito maior do que Camille se lembrava e ela ainda não conseguia entender como as pessoas continuavam a ter filhos em um mundo tão sombrio quanto aquele.

– Camille! Que prazer ver você querida! – cumprimentou a mulher.

– Oi, Jess! Também é bom ver você. Como vai a dor nas costas?

– Um pouco melhor. Gabriel finalmente me deixou levantar e esticar as pernas um pouco. Ele está tão preocupado. – Jessica revirou os olhos.

Camille sorriu com aquele gesto. Ela mesma já tivera tal reação diversas vezes, inclusive sem perceber.

– Ele só quer cuidar de vocês. Alguma previsão para o nascimento?

A capitã pousou sua mão direita na barriga enorme de Jessica e sentiu uma movimentação. Pelo jeito o bebê estava inquieto.

– Ainda faltam seis semanas, mas nunca se sabe, né. Essas coisas acontecem de uma hora para outra.

– Tem razão – concordou Camille. – De qualquer forma, quando chegar a hora estaremos aqui com você.

– Obrigado, querida! Por tudo que faz por nós.

Em uma aproximação inesperada pela capitã, antes de seguir em frente, Jessica deu um passo até ela e depositou um beijo afetuoso em sua bochecha, num gesto cálido e maternal. Camille sentiu em seu âmago uma emoção intensa, carregada por palavras não ditas e esperanças veladas. Aquele gesto puro e gentil falava por si só, muito mais do que qualquer frase poderia expressar no momento. Representava gratidão, reconhecimento, fé, confiança... A jovem ficara profundamente emocionada e uma lágrima silenciosa rolou por sua face. Estava feliz e sentia-se grata por fazer parte da vida daquelas pessoas e protegê-las de alguma forma.

Com um sorriso no rosto e o coração acalentado, Camille continuou seu caminho até o quarto e acendeu a vela assim que entrou. A luz serpenteante iluminou o cômodo novamente, com sua claridade contida. Antes de se sentar na cadeira de metal, a capitã esticou suas pernas e braços, constatando que a dor muscular de seus membros já havia amenizado. Observou ainda, com alívio, que as roupas deixadas ali depois do banho estavam secas e prontas para o uso outra vez. Ela as recolheu e guardou-as dentro de sua mochila preta, juntamente com algumas outras peças.

A Fortaleza: Mundo Sombrio - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora