Não sabia para onde estava indo e nem se queria ir para algum lugar. Forçou em sua mente em busca de lembranças mais recentes, mas nada pode preencher a lacuna de onde estivera horas atrás. Apenas clarões surgiam em sua mente e se tornavam menos nítidas cada vez que surgia. Olhou mais uma vez para trás, Apenas se lembrara de estar do lado de fora de uma grande área de prédio com vários andares e compridos. Se lembrou também de ser jogada do lado de fora por um grupo de pessoas que gritavam para ela correr. A princípio não se moveu relutante e sem saber o que fazer, mas criaturas nem um pouco amigáveis o fizeram mudar de ideia. Agora uma vantagem aparente os distanciava.
Percorreu uma longa ravina, parecendo então que o grande complexo de prédio se localizava em uma parte alta de algum lugar, sabendo apenas que era longe e isolado. Logo atrás tinha montanhas altas e baixas, cinzentas e negras. Se lembrou também de haver carros flutuando a poucos centímetros do chão, com vidros escuros e geometricamente com ângulos retos, partiu em vistoria ao redor do complexo, aonde as mesmas pessoas correram para longe da sua vista e para longe de sua preocupação. Para longe da sua preocupação, pois agora se via em um problema maior. Após a descida da ravina seguiu o que parecia o fóssil de um rio que secara, com margens inclinadas que permitiram uma rápida subida para a terra. Sentia-se um pouco desconfortável com a roupa que não fora feita para correr. O mundo parecia novo para ela e a cada paisagem nova que se formava diante de seus olhos, ele parecia mais estranho.
Seus pensamentos fugiram um pouco daquele momento para se questionar o que fazia naquele lugar. Certamente não era um lugar agradável de se estar, nem de querer voltar. Um olhar calmo partia daquelas pessoas, a maioria velhas. Não...todas eram velhas. Cabelos brancos, mal trapidos e estranhamente nervosos. Mas não importava as respostas, concluiu. Estava prestes a morrer sem o mínimo sentido ou explicação e isso a fez cair em desolação. "Pararia para perguntar?", pensou, "Acho que é meio tarde agora". Seria então uma prisioneira e estaria fugindo? Sugestões apareciam em sua mente e isso demonstrava o quão incerta estava seu raciocínio.
O som da sua respiração ofegante já era maior que seus pensamentos. A sua frente um terreno com árvores negras e altas, espinhentas e distorcidas. Vez ou outra esbarrava em alguns galhos dessas árvores e a dor fazia murmurar silenciosamente. Seu corpo ainda se mostrava enferrujado em algumas partes, mas isso fora ignorado no momento em que a adrenalina passou a correr por seu corpo. Era noite, se questionou observando o ambiente estranho ao seu redor. Nada mudava ao raio de quilômetros até atingir uma montanha de picos altos e pontudos. Apenas uma fraca e opaca luz escarlate subia por de trás da montanha e ia se perdendo com a altura até dar lugar ao negro céu, sem estrelas e nuvens. Passou os olhos por todos os lados mas via que a montanha os cercava e uma hora outra iria chegar no fim da linha. O solo estava seco e solto e alguns pontos no escuro, o que ocasionava em uma série de topadas e levantando poeira. Estava tentando seguir o mais silenciosamente possível, mas estava com medo. Medo de cair, medo de ser pega, medo de uma mão gelada e fria segurá-la pelo ombro Sabia que não poderia correr pra sempre e isso a fez mudar de direção e forçar sua visão para ver mais a frente.
Olhou novamente para trás e a imagem que teve de seus perseguidores fez eriçar os pelos do seu corpo, do seu pé até sua nuca. Agora a imagem nítida de seus perseguidores. O rosto oculto pela sombra de uma protuberante capa negra que parecia (ou que ela se lembrava, já que não ficaria o tempo todo curvando a cabeça para trás) se estender em um vestido e tampar todo o corpo até os pés. Não andavam e nem estavam montados, simplesmente flutuavam, e a borda final do vestido balançava ao vento. E eram assustadoramente silenciosos, como as sombras da noite que chegam de surpresa e inevitavelmente.
Não conseguia ter noção de quanto tempo havia de ter corrido, apenas de quanto tempo lhe restava para correr. E era zero. Tropeçou com o pé esquerdo próximo a uma pedra reta (como se uma grande pedra redonda tivesse sido cortada ao meio e apenas uma parte restara) e o seu corpo foi junto, de encontro à parede da pedra. Tentou se encolher mas não havia mais espaço ou para onde correr, e o mais importante, não havia mais tempo. Mas agora se aproximavam, mais lentamente e agora emanando um barulho estranho ( como alguém que fala sussurando, só que mais alto). Pareciam estar conversando.
E então as criaturas avançaram mais a frente a fim de acabar logo com aquilo. O pequeno abrigo se tornou seu túmulo. As mãos ossudas saíram pelas suas mangas largas e lentamente se dirigiram a ela. Se tivessem olhos estariam certamente olhando para o seu pescoço. Começava a fechar lentamente os olhos inundados de lágrimas, vendo apenas um borram claro, quando a silhueta de um homem se formou em sua frente. Estava contra a luz e apenas sua silhueta negra era visível a quem estava atrás dele. Era alto e repentinamente abriu grandes asas em sua costa, mas apenas sua silhueta a fizeram perceber que tinha asas, para seu espanto. Um leve vento formou-se nessa ação, varrendo o chão e isso a fez cegar por alguns instantes.
O que se passou em seguida não foi deslumbrado por ela. O homem fez se formar em sua mão uma bola que continha algum tipo de magia, e ela era da cor púrpura, com listas opacas e finas da cor branco. Emitia uma luz muito forte a ponto de deixar um rastro de luz desde o homem até as criaturas. Mas as criaturas se assustaram em primeiro momento com aquela estranha luz, ousaram recuar, mas ao invés disso se viraram na direção do homem. Silenciosamente e com um movimento rápido e cuidadoso, o homem jogou a bola no meio das criaturas, com uma extrema força que parecia que a bola iria passar a adiante. Mas isso não aconteceu. Ela parou exatamente no meio das duas criaturas e emitiu um brilho maior ainda. feixes de luz saltaram para fora, como raios que cortam o céu, A luz foi forte o bastante para fazer a magia acontecer e aquelas criaturas se transformarem em pedra. Por estarem acima do solo, o corpo de pedra das tais criaturas foram de encontro ao chão e se fizeram em pedaços e depois carregadas pelo vento.
Agora não estava mais escuro. Um fresta do que parecia ser o sol alaranjado invadia a terra, passando pelas nuvens negras logo a cima. A névoa pairava branca agora por entre as árvores. Estava amanhecendo. Agora se podia perceber a terra branca e as árvores negras sem folhas e espalhadas até o começo da montanha cinzenta, O ceu alaranjado dava lugar a um azul céu claro.. O homem estudou a paisagem ao redor procurando algo e só parou ao avistar uma passagem por entre a montanha, um pouco acima do solo. Olhou para o corpo caído da garota por um tempo. Estava vestida em uma camisa e calça do mesmo material, cor e detalhes, quase que um macacão. Era azul, com detalhes pretos. Seu cabelo era curto, negro e mal aparado nas pontas. Uma visão bela naqueles dias e ele disseram para si mesmo que poderia ficar o dia inteiro ali a observá-la. Mas não nesses dias, concluiu tristemente. Seus lábios se esticaram em um leve sorriso enquanto organizava seus pensamentos, tentando traçar um caminho pelo qual seguir. Abaixou seus olhos para as costas do seu pulso onde o que parecia um relógio de pulso, só que com uma pulseira mais grossa e uma caixa bem maior. Mas não era um relógio, era um computador integrado e a tela redonda estava agora exibindo uma grade branca em um fundo verde claro. Desejou ter estado com o outro a base de holografia, mas quebrou-o uma vez fugindo de alguma coisa. Um ponto piscava na tela, parado, e indicava sua atual posição. Alguns dados como latitude, longitude e posições geográficas brilhavam fixas no topo da pequena tela. Apertou alguns botões e a tela mudou para um mapa do terreno, agora com colorações indicando certas informações. Girou o aro em volta da tela até obter uma imagem mais detalhada. “Pronto”, falou em voz baixa com uma visível animação, “Só mais alguns dias a pé e chegaremos. Acho que terei que ir até alguma cidade morta e pegar algum veículo.”. Agora seu rosto adquirira feições serenas e preocupantes. Será que seria arriscado ou imprudente se arriscar para tal coisa? Desejou ter uma resposta imediata, mas tempo não era do que dispunha. Ao olhar a garota no chão não viu outra resposta se não a de ter que se arriscar. Se dirigiu até a garota e a suspendeu gentilmente, colocando-a sobre o seu ombro. Era leve e parecia estar em um sono pesado. Olhou para os quatro cantos antes de partir em uma caminhada silenciosa.
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Murmúrio nas sombras
Science FictionAno de 2194. O mundo ainda se encontra sobre a fase pós-apocalíptica. A batalha dos deuses do Panteão contra as forças do mal e os Gigantes, no planeta de Dor Kareen, não acabou com a vitória da força do bem. Os gigantes, despertados e ajudados pel...