Vulto na Ponte

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Eu nasci e morei em São Paulo a minha vida toda e nunca vi nada de sobrenatural ou algo que eu não pudesse explicar, até um certo dia.

Eu moro e trabalho na região do Campo Belo, e como eu trabalho perto de casa eu vou todo dia para o trabalho a pé, e também volto a pé, e parte do meu caminho é atravessar o viaduto vereador José Diniz, que passa por cima da avenida águas espraiadas.
Pode não ser um lugar muito seguro, mas nunca vi nada de sobrenatural ali.

Como eu moro perto do trabalho, é normal pro chefe me pedir para ficar até mais tarde pra terminar alguns serviços.
Só que um dia a coisa extrapolou.
Nesse dia, eu tive que ficar até mais tarde para resolver uma coisa que tinha que estar pronta para o dia seguinte até nove horas da manhã. Então acabei ficando lá até três e meia da madrugada.
E lá fui eu pra casa no meio da madrugada.
Quando eu chego na ponte eu olho pra um lado, olho pro outro, tento ver se tem alguém vindo mas não vejo ninguém.

Então lá fui eu atravessar a ponte. Quando eu andei um pedaço da ponte eu vejo alguém vindo na outra direção.
Como ali não é um lugar muito seguro eu hesitei um pouco pensando se eu dava a volta e fazia um outro caminho mais comprido ou se ia em frente.
No que eu dei uma parada a outra pessoa também deu.
Ai eu pensei "Deve ser outro pobre coitado voltando do trabalho", então fui em frente.
Quando eu comecei a andar a outra pessoa também começou a andar.
Eu falei comigo mesmo "Não se preocupa, é só alguém indo pra casa, só passa reto e nem olha pra ele".

Então apertei o passo e fui. No que eu olho pra frente ele esta correndo na minha direção.
Isso realmente me assustou, por que um cara correndo na sua direção, na rua, no meio da madrugada não é uma coisa muito agradável.
Mas ele parou no meio da ponte e encostou no corrimão. Eu continuei andando normalmente.
Conforme eu fui chegando perto, era para começar a ver como o cara era, mas a única coisa que eu percebi é que o cara parecia estar com uma espécie de capa que cobria o corpo todo e ela não ficava parada, era como se fosse feita de fumaça.

Eu pensei comigo mesmo "é o sono que ta te fazendo ver coisas", e "só continuar em frente, não olha pro cara e se ele falar algo não da trela e nem para".
No que eu tava chegando perto, uns vinte metros pelo menos, o cara deu um pulo e ficou de pé no corrimão.
Mas ele não estava segurado em nada, não dava para ver os braços ou as mãos dele.
Ele estava se equilibrando em cima do corrimão. Eu só conseguia ver aquela coisa que parecia uma capa preta de fumaça em volta dele.
Quando ele fez isso, (pulou no corrimão sem usar as mãos) eu fiquei sem reação, e a única coisa que eu pensei foi "passa reto e finge que o cara não ta ai", mas quando eu ia chegando perto bateu um cheiro tão ruim, mas tão ruim que eu fiquei totalmente nauseado.

Um cheiro de coisa podre, mofada, meio asfixiante. E o som que aquilo fazia, era um som de ossos estalando, com uma respiração chiada.
No que eu estava passando por ele (até hoje eu não sei por que raios eu resolvi continuar em frente) eu só pensava "Não olha pra ele, não olha pra ele, não olha pra ele".
Mas a curiosidade foi tão grande que eu não resisti e olhei pro rosto dele.
No que eu fiz isso eu não consegui ver o rosto dele, só os olhos. Mais nada.

Eu não consegui olhar pro resto, só aqueles olhos negros e penetrantes que davam uma agonia só de olhar.
Ele soltou uma gargalhada estridente quase que insana. Eu cai pra trás, indo parar na via e sai correndo.
No que eu olhei pra trás, pra ver se ele estava me seguindo, ele simplesmente não estava mais lá.
Eu estava sozinho na aponte agora. Eu voltei para a calçada e olhei lá embaixo na avenida águas espraiadas e não tinha nada.
De repente aquele cheiro nauseante começou a aparecer, bem fraco.
Eu não esperei o cheiro ficar mais forte para sair correndo.
Eu nunca cheguei em casa tão rápido.

Não sei o que era aquilo, mas daquela noite em diante, eu sempre faço o caminho mais comprido para ir de casa pro trabalho e voltar.

Fatos DesconhecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora