O linho dizia á água
muito baixo num lamento:
" - Quisera ser como tu...
ter asas como as do vento...
correr montes, correr vales,
batido nas penedias,
ir contando minhas mágoas...
num rosário de agonias."
Diz-lhe a água num sussurro:
" - Vais ser feliz vou jurar...
rica toalha de mesa,
branca toalha de altar.
Enquanto eu coitadinha,
aqui vivo desprezada...
Não invejes minha sorte,
não a queiras nem por nada."
Responde o linho apressado:
" - Que sina tão bela a tua,
que missão te destinaram,
não te esqueças de correr,
olha...
os campos secaram."
Agora que estão amigos
fartinhos de conversar...
Tiraram o linho da água
e ele saiu a chorar.