5 - Virus

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- Ele está atrasado.- Marcy comentou enquanto apoiava as mãos na janela. Um vento forte passou pelo local, fazendo seus cabelos ruivos balançarem.

- Deve estar morto, talvez.- respondeu Christopher, rindo em seguida. Sentou-se no chão com cuidado, as pernas ainda estavam doloridas depois de tanto correr.- Se bem que não é a cara do Louis ser pego por um deles.

- Aconteceu alguma coisa, mas ele ainda está vivo. Eu sei que está.- a ruiva olhou em volta. Nem sinal do amigo. Tudo o que havia na rua eram os corpos dos zumbis que eles mataram mais cedo. Marcy começou a se sentir mal e decidiu se afastar da janela.

Ela viu o irmão mais novo dormindo no chão em completo silêncio. A franja loira caía por seus olhos azuis, agora fechados. As roupas dele não estavam diferentes das suas, ambas rasgadas e manchadas de sangue. E, apesar de estar deitado num chão frio e sujo, ele parecia confortável, feliz por estar sonhando com alguma coisa boa. Marcy sentiu pena dor irmão.

- Gavin vai ficar bem.- disse Chris, tentando confortá-la.- Pode ser apenas um garoto de 13 anos, mas sabe se virar.

A ruiva deu um longo suspiro.

- Eu também estou preocupada com a gente, sabia?

- Bem, a gente ainda não morreu, certo?- o moreno sorriu.

~*~

Amaya procurou não olhar para o corpo de Gunter caído no chão. A porta do apartamento estava completamente manchada com o sangue do adolescente, e isso já a deixava enjoada.

- Hannah, abra a porta, sou eu!- ela chamou. A loira abriu a porta logo em seguida, ainda segurando o taco de beisebol com força em uma das mãos. Sorriu aliviada, deixando o objeto cair.

- Ai, meu Deus!- ela puxou a amiga para um abraço apertado.- Pensei que ia me largar aqui.

- Claro que não.- a morena riu, apertando-a ainda mais contra si.

Elas se separaram quando Louis se aproximou. Os olhos azuis do rapaz observaram Hannah de cima a baixo, e ele chegou a conclusão de que era uma garota tão bonita quanto Amaya. Talvez até mais. Porém, ela não tem cara de quem duraria muito tempo em um apocalipse zumbi.

- Quem é o boniti...- Hannah se interrompeu assim que avistou o corpo de Gunter caído atrás da amiga, ou pelo menos, o que restou dele.- Merda.- ela pôs uma das mãos na frente da boca, tentando não vomitar.

- É melhor a gente entrar.- Amaya empurrou a loira para o apartamento, puxando Louis consigo.

- O que aconteceu, Amy?- Louis ouviu Hannah perguntar. "Amy". Então, esse é o apelido dela? O moreno acabou sorrindo, mas nenhuma das duas percebeu.

- O seu vizinho era um zumbi, então eu atirei nele.- ele foi direto.- E acho que todos do prédio vão ficar iguais a ele.- Hannah franziu a testa em confusão.- A propósito, me chamo Louis Tomlinson.

- Louis me ajudou hoje cedo.- Amaya interveio.- Sei que parece loucura, mas é verdade. Todos estão morrendo e voltando a vida.

- O que deu em você? Espera que eu acredito nisso?- a loira bufou, irritada.- Hoje de manhã estava tudo normal e, de repente, um apocalipse acontece? Amaya, não acredito que trouxe esse cara aqui, primeiro ele atira no meu vizinho e agora, começa a falar um monte de merda!

- É um vírus.- Louis disse enquanto se sentava em uma das poltronas brancas na sala, para ter o seu merecido descanso.- E a culpa é do meu pai. Ele era cientista e procurava sempre agradar as pessoas, não importa como. Há três meses, ele e uns amigos decidiram criar a tão desejada "cura pra velhice".- ele fez aspas com as mãos e revirou os olhos.- Vocês sabem que as pessoas não gostam de envelhecer e até gastam dinheiro pra tentar impedir uma coisa tão natural. Então, meu pai, bom do jeito que era, decidiu resolver isso.

Amaya e Hannah prestavam atenção em cada palavra.

- Mas algo deu errado. Ao invés de criar algo que deixasse as pessoas mais bonitas, ele criou isso.- Louis apontou para o corpo de Gunter na entrada do apartamento.- Eu estava lá quando ele testou a fórmula nela... Minha mãe havia se oferecido. Ela sempre confiou em tudo que ele fazia, achando que seria um sucesso.- o moreno ficou em silêncio por alguns segundos ao lembrar-se da mãe. Sentiu uma vontade imensa de chorar, mas não o fez.

- Ela se tornou um deles... Certo?- Amaya sussurrou. Ele assentiu.

- Ela atacou todo mundo que estava lá. Foi horrível... Eu vi transformarem minha própria mãe em um monstro.- Louis franziu a testa.- Um dos amigos do meu pai conseguiu me tirar de lá. Ele disse que ia ligar pra polícia, mas eu sabia que não adiantaria nada. Eu fui embora e contei pros meus amigos o que tinha acontecido, inclusive para o Kevin.- Louis cruzou os braços e encarou as meninas a sua frente.- Eles incendiaram aquele lugar, achando que tudo estava resolvido. Mas eu sabia que não. Algum zumbi conseguiu escapar e agora, todos estão morrendo. Tudo por culpa desse maldito desejo do ser humano que é ser jovem pra sempre.

Louis se levantou da poltrona e ajeitou a mochila nos ombros. Sentia-se disposto novamente, apesar da tristeza que lhe apareceu. Ele olhou para Hannah antes de sair pela porta.

- Você não precisa acreditar em nós. Se quiser, lute pela sua vida. Se não, fique aqui e morra.- o moreno pegou a mão de Amy e simplesmente foi embora, a levando junto.- Nós vamos salvar o seu irmão.

Amaya olhou para ele, preocupada. Ela nunca imaginou que aquele garoto teria passado por algo tão horrível como perder os próprios pais. Ela se lembrou de sua família e perguntou a si mesma se os seus estariam vivos. Nessas horas, não se pode ter certeza de nada.

Hannah, completamente assustada e sem ter o que fazer, decidiu segui-los. A história ainda parecia loucura, mas a forma como Louis contou, a impedia de não acreditar.

~*~

O corpo novamente sem vida de Helena bateu no asfalto com força. Amaya sentiu pena da pobre vizinha. Era uma senhora tão gentil, não merecia ter morrido como um deles.

- Sabe, tá na hora de vocês atirarem também.- Louis comentou, tirando duas armas da mochila.- Peguem e façam alguma coisa, por favor.- sorriu malicioso.

- Você quer que a gente mate?- Hannah arregalou os olhos. Nunca em toda a sua vida, ela pensou que tocaria em uma arma. E agora, terá que apertar o gatilho também?

- Na verdade, eles já estão mortos.- Louis deu de ombros.- Você só vai estar fazendo um favor. Deixe eles descansarem em paz.

A loira engoliu em seco quando pegou a arma da mão de Louis. Amaya examinou a pistola e a colocou no bolso da calça jeans, onde pode alcançar com facilidade. A ideia de atirar nos outros fazia ela se sentir estranha. Mas sabia que era necessário.

- Vamos logo com isso.- disse a morena e tirou um maço de chaves de seu outro bolso. Ela procurava a chave correta enquanto Louis e Hannah olhavam em volta, dando cobertura. Amaya destrancou a porta de entrada e sentiu o coração acelerar ao ver sangue no chão.

- Ai, meu Deus...- ela deixou escapar.

O chão estava encoberto de sangue, assim como a porta e o tapete branco de sua mãe. Parecia que um furacão tinha invadido a casa, pois tudo estava revirado. Um rastro de sangue levava da entrada até a janela da sala, que por sinal, estava quebrada. Também havia pegadas vermelhas.

Amaya sentiu os olhos se encherem de lágrimas de um segundo para o outro.

- O-o Dennis... foi pego?- a voz saiu trêmula.

Hannah não pensou duas vezes antes de abraçar a amiga, fazendo ela parar de ver o que restou de sua sala após seu irmãozinho ter lutado pela vida.

- Eu deixei isso acontecer?- ela se perguntava enquanto as lágrimas caíam.- Eu deixei ele sozinho?

Louis esperava um escândalo, mas isso não aconteceu. Era como se Amaya já esperasse que seu irmão não estivesse vivo.

Isso doeu nele.

Battle Cry |L.T|Onde histórias criam vida. Descubra agora