Terceiro - Maeve

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- Calma, irmãzinha! - Giulio disse, com as mãos para o alto, sem a mínima intenção de proteger suas partes. A loira, no entanto, se agarrava fortemente às almofadas do sofá, e tive a impressão que tremia. - O que faz por aqui? - ele me encarou, confuso, agora erguendo as calças. - Quando veio?
- Estou aqui há duas semanas, e sinceramente não esperava encontrar esta cena na minha sala! - cruzo os braços, e de soslaio observo a garota tentando recuperar as peças de roupa. - Ei, garota! Belo traseiro, hein!
Ela me encara, confusa, e continua recolhendo as roupas. De repente, reparo que há duas calcinhas por ali, e nenhuma é minha. "Patife ordinário! Duas?! Encaro meu irmão, e pergunto:
- Onde está a outra?
- Outra? - ele finge que não entendeu.
- Ora Giulio, a não ser que sua garota aqui use roupa íntima em excesso ou você esteja adorando um fio dental separando suas bolas, há outra garota nessa casa.
A que estava na sala, agora já de blusa e roupa íntima soltou um risinho, e logo em seguida uma ruiva peituda aparece vindo da cozinha, usando o meu avental (Grrr!) para se cobrir.
- Ah, aqui está a nossa segunda participante, que aliás, tem uma comissão de frente de primeira, hein? - o encaro, meu sorriso cínico quase destilando veneno.
- Venha, não se acanhe, querida. Eu só mordo quando me pedem. - pisco pra ela, que me dirige um olhar sombrio, que em seguida aponta para Giulio.
- Hey, vamos nos acalmar aqui! - ele diz, erguendo as mãos como que para evitar que alguma de nós pule no pescoço da outra, e logo depois vem tentar me abraçar. - Maninha, quanto tempo!
- Nem ouse tocar em mim, verme asqueroso!
Ele abaixa as mãos, e se afasta. Logo a ruiva mostra a voz, os braços cruzados fazendo com que seu busto fique mais avantajado do que já é.
- Pare com essa farsa, Giulio! Está na cara que ela é sua esposa.
- Deus me livre! - gritei, exasperada. - Sou irmã dele, e já me é um tormento. Claro, vocês duas não tem culpa de meu irmão ser um sedutor barato e provavelmente bom de cama, já que conseguiu lidar com duas de uma vez só. Portanto, se puderem e quiserem, o meu quarto é a segunda porta do corredor. Tenho um banheiro e dois guarda roupas, o que está perto da porta deve ter roupas limpas para vocês duas. Tomem banho e fiquem à vontade para se vestirem - suspiro, olhando para minha encomenda jogada aos pés da porta. - Agora, vou ter uma conversinha com meu irmão.
As duas me olharam espantadas, depois se entreolharam e fizeram que sim com a cabeça. Agarrei meu irmão pela orelha e o puxei até lá fora, ouvindo as risadas contidas das garotas e os protestos dele.

***

- Você só pode ter tesão por me humilhar na frente de todas as garotas que eu saio. Parece a mamãe, credo! - meu adorável irmão reclama, esfregando a própria orelha.
- Ora ora, olha só quem está falando! - eu grito, sentindo meu rosto esquentar. - Não é nada humilhante ser pego no sofá da casa da irmã de alguém, né? É até honrado e cavalheiro da sua parte! - ok, já estou ficando ácida demais, mas ele me dá nos nervos. - Não está nem de noite pra você ter a desculpa de que estava de pileque.
- Ah, ta bom, já entendi, foi mal ok?
- Foi sim, péssimo, desprezível, horrível, horrendo, terrível.. e você me deve uma remessa de potes de vidro, pra essa semana.
- O quê? - ele fecha a cara. - Qual é, eu sei que foi um vacilo de merda, mas você vai me extorquir por causa disso?
Abro uma cara de espanto que penso que não caberia na minha própria cara.
- Canalha! Você viu o estado da caixa na sala? Se eu tiver sorte ainda vou conseguir salvar alguma coisa do que encomendei, e você me acusa de extorsão? É mesmo um desaforo monumental, não acha? - às vezes eu tenho a sensação de ser uma bomba prestes a explodir quando discuto com meu irmão, e agora a contagem está acabando.
- Mana, você está com aquele olhar assassino de novo. - ele diz e se afasta alguns passos, a voz baixa e os olhos quase saltando de tão arregalados.
- É claro que estou, esta é a minha casa, e não um bordel, porra! - grito, como se não houvesse amanhã. - Se não tivesse vindo pra cá, nenhum de nós teria algo de que reclamar. Você teria sua boa foda e eu teria meus potes de vidro intactos.
- Mas eu nem sabia que você estava aqui, Mae. Eu não imaginava...
- Não imaginava porque não entra em contato com mais ninguém depois que se mudou pra sei lá onde é que você está morando agora. Só lembra da família quando a grana encurta e sua farra é ameaçada de acabar. - eu sento na mureta do jardim, e estou tremendo. Esse é apenas o 2º estágio do nervosismo, e espero que o 3º não esteja próximo.

Pequena observação:

Tenho 3 estágios de nervosismo:

- A gritaria
- A tremedeira
- O choro (que por vezes me dá dores de cabeça, o que eu carinhosamente chamo de "ressaca nervosa")
...

- Ei, eu não sou assim esse monstro que você está moldando.
- Então me diga como é que vai a saúde de papai. - eu olho nos olhos dele, e sei que se enveredar por esse assunto não vou conter as lágrimas. Ainda estou tremendo como se estivesse levando um choque, o que por um lado é bom, já que não quero chorar agora.
- Eu... ok, eu não sei. - ele abaixa a cabeça. - Você tem mesmo mais juízo que eu, mesmo sendo mais nova. - ele solta uma risada amarga e segura meu ombro. Eu reparo em seu rosto, os mesmos olhos verdes de papai e o mesmo formato de rosto, os lábios um pouco mais cheios e um nariz afilado que me lembra mamãe. Sim, meu irmão é um gato selvagem, mas ele bem que podia sossegar.
- É, eu sou, mas isso não serve nem de desculpa pra continuar assim. Vamos, quero que me apresente a ruiva bravia, ela parece ser quente! - levanto uma sobrancelha pra ele com um sorriso torto, e ele dá risada.
- Estou começando a achar que não foi tão ruim pra você, maninha.

***

- Maeve Sanchez Muniz, mas me chamem de Mae se quiserem. - estendo os braços, como se aguardasse um abraço ou estivesse mostrando um lugar turístico.
- Suzanne Mendes - diz a loira me estendendo a mão, agora de trança no cabelo. Eu a aperto e ela me sorri de um jeito nada recatado. Enquanto isso sinto o olhar de puro escrutínio da ruiva em meu corpo.
- Giselle Rothschild. - ela aperta minha mão também, me encarando... com desejo? Não sei dizer.
- Vocês são namoradas? - eu pergunto, e a loira enrubesce de imediato. Não posso conter minha língua curiosa, oras!
- Está tão na cara assim? - ela me pergunta, enquanto Giselle apenas me observa.
- Na verdade eu não desconfiava, mas tenho que me previnir antes de tentar flertar com vocês, certo? - eu pisco pra Giselle, que também cora sendo descoberta na sua pequena aventura visual.
- Temos um relacionamento aberto, pois eu sou bissexual - ela comenta. - Anne e eu somos muito amigas, além da relação que temos.
- Ora, mas isso é muito bom! Mas me diga, como é perder a virgindade? - eu pergunto, e as duas me olham como se eu tivesse me transformado num pelicano colorido.
- Desculpe, não entendemos a pergunta. - Giselle olha pra Suzanne, e então pra mim de novo, balançando a cabeça negativamente.
- Ué, você sabe melhor que eu, hum? A primeira vez que você abriu sua.. hâm.. garagem pra algum cara. - eu faço um sinal de mão bem indecente, e agora o pelicano colorido virou um pégaso com listras fluorescentes.
- Não, você não está nos dizendo isso! - a loira me diz, a boca tão aberta que talvez ela tenha que fechar apoiando o queixo com as mãos.
- Quantos anos você tem? - Giselle me pergunta, na mesma situação.
- Faço 21 daqui três semanas. - abano a mão, como se fosse algo irrelevante, e agora tenho certeza que virei um anjo translúcido descido do céu. Tem um misto de admiração e surpresa e confusão estampado em cada parte de seus rostos, e eu realmente me sinto incomodada com a reação. - Mas o que há de estranho nisso, oras?
- Bom.. é que... hum, pelo menos eu não conheço ninguém virgem com essa idade. Elle? - Suzanne pergunta.
- Também não. Mas, enfim, como eu poderia lhe explicar...
- Ah, esqueça! - eu balanço as mãos na minha frente, e de repente percebo que meu irmão ainda não voltou da "ducha rápida". - Giulio! - grito, e em um piscar de olhos ele está ali, todo empertigado.
- Sim, Mae.
- Ah, nada, só achei que tinha se afogado na "ducha" - faço uma voz engraçada pra evidenciar que não foi uma ducha, e ele faz uma careta enquanto as garotas riem.
- Então, se me der licença eu já estou...
- 350, na minha mão. - eu estendo a mão na direção dele, e ele semicerra os olhos enfiando a mão no bolso da calça. Tira da carteira algumas notas e me entrega.
- Bom menino! - eu aperto a bochecha dele, seu rosto refletindo o quanto ele detesta isso. - Oh, não faça cara feia, temos companhia, lembra?
- Com licença, garotas... - ele sai pisando duro, e todas nós rimos ruidosamente.
- Voltando ao que interessa... - Giselle diz. - Tem algum problema em ficarmos com as roupas?
- Ah não, são um presente. - eu digo, e as duas sorriem. - Tia Inácia nunca acerta meus números, mesmo eu lhe mandando as medidas, então estão sem usar. É como às vezes acontecia com algumas amigas minhas de precisar de algo, o guarda roupa é meio que um bazar donativo para necessitadas. - pisco, e elas sorriem novamente. - Mas agora vocês vão me desculpar, eu necessito da casa só para mim. Vocês podem voltar qualquer outra hora, ok?
- Ah sim, com certeza, nós ligamos avisando. - Suzanne me olha daquele jeito de novo, e cumplicemente para Giselle. Então sem aviso, as duas me beijam na boca, ao mesmo tempo. Humm... beijo triplo.

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⏰ Última atualização: Mar 24, 2016 ⏰

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