E Se Ela Soubesse?

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Prólogo

Deixei os faróis baixos, não era preciso ele saber que eu estava aqui. Há tempos esperava por isso, cada segundo era sagrado; de hoje não passaria. Estacionei o carro no meio de um matagal alto e pouco iluminado, logo em seguida desci, coloquei a touca, luvas e botas pre- tas. Eu só não podia esquecer o principal. Segurei a lâmina com força, sem me importar com o corte, senti o ódio novamente tomando conta de mim e respirei fundo.

Escondido entre as árvores, vi a luz do seu quarto se acender, essa era a hora. Corri com passos silenciosos pelo gramado até a entrada principal da casa, a porta rangeu ao ser aberta. Esperei pelo momento certo e então entrei.

A casa estava escura e quieta, eu ouvia apenas meu coração batendo rapidamente. Um cheiro pútrido entrou por minhas narinas e segurei a ânsia de vômito. Subi as escadas; ela também rangia, mas fui obrigado a parar de andar para controlar a respiração. Eu suava frio, o coração palpitava em um ritmo descompassado. Continuei a subir, caminhei um, dois, três passos e parei em frente à porta do quarto principal. Tudo parecia calmo, mas eu sabia que ele estava lá, então empurrei a porta lentamente e me preparei para o golpe, mas ele nunca veio. A luz estava acesa, ele estava esticado na cama, respirava fundo, uma garrafa de Whisky no chão. O quarto inteiro cheirava a álcool, seria muito fácil acabar com a vida dele, o fato, porém, é que eu não queria uma morte fácil. Maldito imundo.

Aproximei-me, lentamente, e quando tropecei em uma garrafa vazia, seu corpo sequer se moveu com o barulho.

– Vamos, seu porco, se levante – puxei-o com truculência pelos braços, ciente de que o machucava. O joguei no chão e ele resmungou sem abrir os olhos. Quando a lâmina afiada fez um corte em sua mão, ele gemeu de dor, mas não parecia querer se levantar.

– Acorde! – gritei, alto e impaciente, e mesmo assim ele não se moveu.

Peguei em seus braços, o arrastando pelo corredor. A luva ficou molhada com o sangue que escorria da sua mão. Continuei arrastando seu corpo até o banheiro e o larguei no chão gelado, enquanto a banheira se enchia de água fervente. Passei a lâmina por sua camisa, sabendo que machucava também sua pele. Ele se contorceu, finalmente abrindo os olhos pasmos.

– Mas que merda é essa? – perguntou ele, aos gritos e se debatendo.

– Cale essa boca. – gritei, ríspido.

Rasguei o restante de sua roupa por completo. Agora suas pernas também sangravam, cheias de cortes.

– Por que está fazendo isso? Q-quem é você? – sua voz saiu trêmula. – Eu não tenho dinheiro, mas pode levar tudo que encontrar de valioso. Lancei-lhe um sorriso irônico.

– Mandei calar a boca. – segurei seu queixo com força, seu hálito me causava náusea, assim como todo o resto dele.

A banheira exalava o vapor quente, mas eu precisava pensar em algo mais doloroso. No entanto, nada parecia o suficiente. Abri os armários do banheiro, não encontrando nada. Voltei a encará-lo, olho no olho.

– Se você se mover um centímetro, eu farei você implorar para que eu o mate o mais rápido que puder. – falei, seriamente – Mas saiba de uma coisa, – segurei seus ombros com força, sabendo que iria infligir-lhe dor – Eu não sou piedoso nem quando sou bom, então se te restar ao menos um neurônio você vai ser obediente e fazer o que eu mandar.

Esperei por um aceno de cabeça, como de confirmação, e saí do banheiro. Revirei todo seu quarto, que não era muita coisa. Novamente tropecei na garrafa de Whisky. Fiquei por um tempo encarando-a.

– Isso é uma ótima ideia. – disse a mim mesmo, agachando para pegar a garrafa. Voltei ao banheiro e esvaziei o resto do álcool dentro da banheira.

– O que você vai fazer? – gritou ele, se arrastando pelo chão.

– Qualquer burro entenderia. – soltei, ríspido, sem encarar minha vitima.

– Não, por favor – implorou, agarrando minha perna – Quanto você quer? Me diz, eu pago quanto for.

– Você já vai dar exatamente o que quero. – lhe lancei um sorriso duro.

Joguei a garrafa no chão, observando enquanto ela se estilhaçava toda. Ele se levantou rapidamente, indo em direção à porta, mas eu fui mais rápido e cravei a lâmina em suas costas, trazendo-o de volta. Seu grito foi alto e desesperador.

– Alguém deixou você se mover? – sussurrei no seu ouvido e ele continuava a gritar. – Responda!

N-ão... Não – gaguejou.

– Bêbado imundo! – o joguei de volta no chão, vendo-o se contorcer de um lado para o outro, mudando o branco do piso para uma cor avermelhada de sangue. Agachei para pegar sua camisa rasgada e recebi um forte chute no rosto. Meu maxilar estalou e eu chacoalhei a cabeça, sentindo a veia pulsar no pescoço, mas não fiz nada, apenas o puxei pelos braços, fazendo com que ele se sentasse.

– A polícia vai chegar. – falou, quase que incompreensível.

Não respondi, fui por de trás e amarrei sua boca, dando duas voltas com a camisa e apertando forte. Ele tentava falar, mas eu não entendia, ou simplesmente não queria entender. Fui para seus pés e o puxei, fazendo com que ele se deitasse. Antes que isso acontecesse, ele bateu a cabeça na banheira. Desacordou. Amarrei suas mãos com sua calça rasgada, sabendo que isso não seria preciso, já que ele não aguentava nem se mexer. Voltei a pegar a lâmina que havia deixado no chão, deslizei com ela por suas pernas, formando novos cortes, porém ele não se mexeu. Apertei ainda mais fundo. Ele gemeu, quase sem voz. Subi com a lâmina por seu corpo, apertando ainda mais forte, e ele vomitou. Continuei subindo por sua barriga, traçando caminhos de sangue. Vomitou outra vez, mexendo suas pernas lentamente, sem forças.

O peguei no colo, meus pelos se arrepiavam, sentindo nojo. O soltei dentro da banheira fervente. Sua cabeça se afundou, logo ele subiu para a superfície procurando por ar, seus olhos abertos em desespero, e tossindo, cuspindo a água. Afundei sua cabeça outra vez, sem precisar colocar muita força. Seus cortes profundos provavelmente ardiam. Ele subiu novamente para superfície, seu rosto irreconhecível. Ele lutava por sua sobrevivência, enquanto eu me sentia cada vez mais satisfeito com sua morte, seu gemido implorava para que eu parasse. Não lhe dei ouvidos, eu apenas queria que ele pagasse caro por tudo que ha- via feito. Nossos olhos se encontraram pela última vez antes que ele afundasse e seu coração parasse de bater. Eu sorri, deixando-o afundar.

E se ela soubesse?Onde histórias criam vida. Descubra agora