Eu não sabia distinguir a minha tristeza quando acordei naquela clínica. Eu perdi o meu filho. Não. Ele foi tirado de mim. À força. Eu sentia em mim, uma tristeza enorme, que me consumia, eu ficava dias dentro do quarto, não comia, não bebia nada. Só conseguia chorar pensando no meu filho, a culpa era minha.
ㅡ A culpa é sua, Jenifer. Você é a culpada disso tudo - eu dizia para mim mesma.
Tinha semanas que eu não saía do quarto. Nem para comer. Eu não conseguia. Meu estomago contorcia de fome, mas eu não conseguia comer. Eu só dormia e chorava.
Estava sentada olhando para a janela, quando a porta abriu e o Dr. Roberto entrou.
ㅡ Olá, Jenifer. Como se sente? - ele veio até mim e me observava.
ㅡ O de sempre.
ㅡ Eu soube que você não tem saído do quarto. E nem come. Por que?
ㅡ Simplesmente não tenho vontade - respondo
ㅡ Entendi - ele disse calma e profissionalmente. Eu estava destruída, mas ninguém precisava saber disso. Eu não precisava da pena de ninguém, eu não podia ter ninguém com pena de mim. Eu matei meu filho. - Eu trouxe alguém para ver você.
ㅡ Quem? E para que?
ㅡ Achamos que você esteja com alguma síndrome, ou trauma. Precisamos diagnosticá-la.
ㅡ Por que vocês não me diagnosticam como morta? Porque é como queria estar agora.
Ele arregala os olhos.
ㅡ Pedirei que ela entre. Só um minuto.
Maneio com a cabeça e volto a contemplar a janela, para logo depois ouvir batidas na porta.
ㅡ Posso entrar? - uma voz feminina pediu.
ㅡ Entre.
Uma mulher, na faixa dos 45 anos entra e fecha a porta.
ㅡ Oi, sou a Dr. Maria. Você é a Jenifer, certo?
ㅡ Sim.
ㅡ Bom, quero te dizer que o que dizer aqui, vai ficar aqui.
ㅡ Augusto é senador. Ele consegue arrancar informações de pessoas como você. Eu não tenho nada para falar.
ㅡ Eu sou profissional, Sra Mendes...
ㅡ Jenifer. Me chame de Jenifer. - a interrompi.
ㅡ Como quiser, Jenifer. Como eu estava dizendo, eu sou profissional. Dinheiro não me compra. Não me importa o valor. Eu amo meu trabalho. - ela disse, com tanta veemência, que eu tive vontade de me desculpa, mas não o fiz. - Eu soube do seu caso pelo Dr. Roberto. Você sofreu um aborto recente não é?!
ㅡ Sim.
ㅡ Foi espontâneo ou desejado?
Fiquei calada.
ㅡ Pode me dizer, lhe dou a minha palavra que nada vai sair daqui.
Respirei fundo, era impossível não confiar nela, ela inspirava confiança, eu sentia que podia me abrir com ela.
ㅡ Eu levei chutes na barriga, até desmaiar e quando acordei, estava sangrando. - disse num fio de voz.
ㅡ Por isso tentou o suicídio?
Não me surpreendeu o fato dela saber da tentativa.
ㅡ Sim. Eu... me senti perdida. Como se tivesse perdido um pedaço de mim.
Ela me olhou, e foi como se olhasse minha alma.
ㅡ Eu já sofri violência doméstica.
Aquilo sim me surpreendeu. Como uma mulher, cheia de vida, paciente, que esboçava sorrisos de acalmar a alma, pudesse ter passado por isso?
ㅡ Já? E como se livrou disso? - pergunto, ansiosa por uma resposta que me salvasse.
ㅡ Eu só me livrei dele, quando ele morreu numa briga de bar. Passei anos e anos passando por isso. Mas sempre tive medo de fugir, era uma cidade pequena, eu seria encontrada rápido.
Já apanhei de todos os jeitos possíveis, com todos os objetos possíveis. - Ela se levantou e levantou um pouco da blusa que estava vestindo. Tinham várias cicatrizes pequenininhas, em toda a barriga dela. - Aquele miserável apagava os cigarros em mim. Me mandava levantar a blusa e os apagava em mim.
ㅡ Ele me estuprou. - eu disse de cabeça baixa. - Quer dizer, ele é meu marido. Não sei se pode ser considerado estupro.
ㅡ Você consentiu? - neguei. - Pediu para ele parar?
ㅡ Muito. - doía demais lembrar daquilo.
ㅡ Minha querida, não importa se ele é seu marido, se você disse "não/pare" é estupro sim. Você tem que ser forte. Não pode deixar isso te consumir. Você é jovem. Precisa denunciar ele.
ㅡ Ele é senador, tem influencias, pessoas subornadas. Eu posso entrar numa delegacia, ter tudo contra ele, mas é só ele mostrar o bolso, que sai de lá me arrastando pelos cabelos.
Ela me olhou, me analisou.
ㅡ Você precisa ser forte, não deixe mais ele te bater. Você está sofrendo de um transtorno pós aborto. É como uma depressão. Você sente culpa pela morte do bebê?
ㅡ O tempo todo.
Ela anotou algo num bloco de notas que tirou do bolso traseiro.
ㅡ Falta de sono, de fome... sim. - ela anotou - Você bebe ou fuma constantemente? Usa algum tipo de droga?
Quê?
ㅡ É só o procedimento.
ㅡ Não, nenhuma dessas coisas.
ㅡ Tudo bem. Eu vou lhe dar alguns remédios - ela veio até mim e segurou minha mão. - Não desista. Você pode ter uma vida ainda. Não desista. Eu vou tentar te ajudar, eu prometo.
ㅡ Obrigado, muito obrigado. - ela me abraçou, forte, e era muito aconchegante. Que falta estava sentindo da minha mãe.
ㅡ Nossa sessão acabou, mas eu volto semana que vem para ver como você está. Se alimente, saia para tomar um sol, respire ar fresco. Eu vou arrumar um jeito de tirar você dessa. - ela diz, me dá um beijo na testa. - Até mais.
ㅡ Até.
Depois que ela sai, eu me sinto bem de novo, mas meu bom humor some assim que Augusto entra no quarto.
ㅡ E ai, como foi?
ㅡ Ótimo. - respondo simplesmente.
ㅡ Você... você disse algo sobre... ?
ㅡ Não.
ㅡ Tudo bem. Ótimo. - ele sai.
Suspiro aliviada.
Eu iria sair dessa. De cabeça erguida.
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AMORES, PF, NÃO ESQUEÇAM AS ESTRELINHAS, PF. <3
AMO VCS
Débs
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Até Que A Morte Nos Separe? (CONCLUÍDO/SEM REVISÃO)
ChickLitJenifer Sousa está prestes a se casar com um dos mais prestigiados e recém eleito, Senadores de São Paulo, Augusto Mendes. Aos olhos da comunidade, da mídia, e dos familiares deles eles são um casal maravilhoso, ele sempre atencioso, carinhoso, semp...