Cecília

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Olho para o teto novamente e digo a mim mesma: vamos lá, Ceci, é apenas terça-feira, você tem mais três dias pela frente. Desligo o despertador, que já estava tocando pela terceira vez e me levanto, indo em direção à cama de Cath.

- Catherine, acorda, já está na hora. – Sacudo minha irmã mais nova e sorrio ao notar que mesmo com o cabelo bagunçado e a cara amassada ela continua linda.

- Estou indo. – Murmura.

Olho o relógio. Já é 6:38, digo a mim mesma e bocejo.

- Vai tomar banho, vou fazer alguma coisa para a gente comer.

Arrasto-me até a cozinha e vejo Pedro dormindo todo desengonçado no sofá. Rio baixinho e o sacudo.

- Pê, está na hora. – Sussurro.

Pedro é meu irmão mais velho, se separou da namorada e voltou a morar aqui em casa. Trabalha na padaria da Sra. Muniz, nos dias de semana e nos finais de semana é voluntário em uma ONG de crianças com câncer. Pedro é a pessoa que mais admiro no mundo; ele é tão doce e gentil com tudo e com todos. Ultimamente ele anda mais para baixo, após o término com sua ex-namorada Letícia (que todos fingiam gostar), mas isso não o impede de levantar sempre com um sorriso no rosto e cumprimentar todos na rua.

Vou em direção à cozinha, preparo o café e um leite para Cath. Observo pela pequena janela da cozinha o sol nascendo e clareando cada canto da grande São Paulo.

- O café vai passar do ponto se você continuar viajando aí. – Ouço a risada de Pedro logo atrás de mim.

Ele veste sua típica calça jeans, uma camiseta que diz "E aí, novinhas?" - na qual eu odeio – e seus velhos Nike surrados. Cath aparece logo atrás, com a mochila nas costas e o uniforme do governo. Em sua mão está uma escola na qual ela penteia o seu longo cabelo cor-de-mel que eu invejo tanto.

- Termina aqui, Pê, vou me vestir. – Ignoro seu comentário, Pedro adorava dizer que eu viajo na maionese, o que certamente é uma mentira. – Vem, Cath. Vou fazer uma trança no seu cabelo.

Pego na mão de Cath e a levo até nosso quarto. Termino de pentear seus cabelos e começo a trançá-lo. Cath abre e fecha os olhos repetidamente.

- Está com sono ainda? – Pergunto.

- Sim, não quero ir à escola hoje.

- Se fosse fácil assim, eu também não iria para a faculdade. – Aperto seu nariz e vou em direção ao guarda-roupa.

- Quando vamos ver o papai? – Pergunta.

- Talvez no próximo feriado. – Digo.

Visto uma calça jeans e uma camiseta simples. Calço meus tênis e coloco um brinco pequeno. Prendo meu cabelo em um rabo-de-cavalo e passo um rímel antes de puxar Cath de volta à cozinha para comermos.

- A mamãe vem para casa hoje? – Pergunta Cath.

- Sim, Catherine. – Falo e beberico um pouco de café.

- Que bom! – Exclama.

Olho o relógio do meu celular: 07:02. Termino meu café e pego minha bolsa em cima do sofá.

- Pê, leva a Cath hoje? Estou atrasada. – Peço. Pedro assente. Dou um beijo na testa de cada um e saio.

Coloco meus fones e a voz de Nando Reis invade meus ouvidos. Caminho pela Cardeal em direção ao metrô Clínicas. O vento está um pouco frio, e me arrependo de não ter pegado um moletom. Passo pelo bar do seu Jorge – já aberto, para o café da manhã – e entro. Avisto Gabriel limpando uma bancada e vou em direção a ele.

Não vá embora...Onde histórias criam vida. Descubra agora