IV

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- Meu rei... - balbuciou Lord Churchill ao ver o rei Jorge e, tal era sua surpresa que apenas o braço forte de Sir Talion o impediu da cair no chão. - Folgo em vê-lo com saúde mas o que fazes aqui? E como se curastes?
- Eu devo tudo à Sir Talion, Winston. Ele me tirou da clínica onde os capangas de meu primo me dopavam e me trouxe para Mayville, onde os médicos da corte conseguiram reestabelecer prontamente minha saúde.
- Você já sabia de tudo quando me procurou, não é mesmo Lex?
- Digamos, meu caro amigo, que tinha bons indícios mas não tinha certeza absoluta. Certeza mesmo só tive quando invadi a clínica e tive acesso à medicação que estava sendo oferecida ao Rei. Ah, meus agentes conseguiram algo que você vai adorar, Winston.

O jovem cavaleiro pegou um pequeno conteiner metálico, no formato de um bastão, que estava preso na sua cintura e o jogou para o político inglês. Curioso, Lord Churchill abriu este e começou a tirar de dentro deste varias fotos que pareciam fotos de registros bancários.

- O que é isso?
- Isto? São fotos de registros bancários de membros do parlamento que meus espiões conseguiram - respondeu Lex.
- Se analizares com calma, Winston, verás que essas fotos provam que a sessão do parlamento que levou o meu primo ao poder foi comprada - complementou o rei Jorge.
- E o que estamos esperando para divulgar isso, meu rei?
- Foi a primeira pergunta que eu fiz à Sir Lex, meu amigo, pois eu desconhecia a situação do meu pais mas ele me mostrou que Pinkerton controla a mídia - respondeu Jorge.
- Sem falar na Scotland Yard, nas tropas paramilitares de Pinkerton e parte dos militares - acrescentou Lex.
- E é por isso que o senhor falou em uma revolução gloriosa, majestade - concluiu Churchill.
- Exatamente. As tropas de Duralan e Mayville não são o suficiente para me colocar no poder embora as rainhas as tenham colocado ao meu dispor.
- Agora, se as forças militares não se levantarem para defender Pinkerton... - disse Winston, finalmente compreendendo o plano do rei.
- Eu conseguirei marchar em segurança até Londres e as tropas cedidas pelas duas rainhas serão mais do que suficiente para lidar com a Scotland Yard e os paramilitares do meu primo.
- É, de fato me parece um bom plano, na verdade o único a ser utilizado no momento. Pois bem, no que esse velho político pode lhe ajudar, majestade?
- Precisamos que use seus contatos da época que fostes o Lord do Almirantado, Winston, para saber em quais militares podemos confiar. E para passar as provas que Sir Talion conseguiu para eles. Alias, aqueles em quem confiares cegamente, mandeis aqui para o meu encontro, como mais uma prova da verdade.
- Perfeitamente, meu rei.
- Enquanto isso, usarei minha rede de espionagem para conseguir mais provas - disse Lex, se intrometendo na conversa. - E já usei alguns contatos meus em Washington para conseguir o apoio dos yankees para o nosso pequeno golpe. Os yankees não gostam muito de se meter em assuntos externos mas gostam menos ainda de Lord Pinkerton. Eles ficaram de mandar um pequeno contigente de agentes especiais para nos ajudar.

Uma semana depois, os tais agentes americanos já haviam chegado porém a presença deles criou certo reboliço porque o capitão responsável pelo grupo exigia ter total controle das operações ou ao menos do setor de inteligência, uma vez que ele afirmava ter "mais experiência que todo pequeno exercito de Duralan e de Mayville" junto.

Winston Churchill, que se encontrava, casualmente, em Mayville, visitando o rei Jorge e traçando planos com este, tentou argumentar porém, diante da intransigência do yankee, acabou deixando a tarefa de lidar com ele para Lex, afinal este era o comandante militar de toda a operação.

- Quer dizer que deixastes para mim a missão de lidar com o yankee, Winston?
- Desculpe, rapaz, mas já não tenho mais idade para lidar com frangotes que acham que são galos e, ademais, é o seu cargo que ele ambiciona e não o meu.
- Ok, ok, deixa que eu amanso a fera.
- Cuidado, ele diz ter sangue duraliano nas veias e, de fato, é grande como um touro.
- Ele pode ter sangue duraliano, mas não mais do que eu - sorriu Lex. - E quando criança eu pegava touro à unha.
- Disso eu não duvido, meu rapaz, disso eu não duvido...

Estufando o peito e pisando forte, Lex abriu as portas do alojamento cedido por Mayville para a hospedagem dos americanos. Estes se encontravam reunidos em torno de uma mesa de pôquer. Enquanto quatro deles jogavam, os outros assistiam a partida e apostavam para ver quem venceria. O cavaleiro de Duralan não teve dificuldade para reconhecer o líder deles: Charles Armstrong era um negro alto, de quase dois metros, oriundo da Louisiana, largo como uma porta e um dos raros negros a alcançar um posto de oficial no exercito americano.

- Você é aquele que deseja o meu cargo? - disse Lex, seco, para Charles.
- Quem é você? - retrucou o americano.
- Eu sou Lex Talion, conselheiro militar de Duralan, General das Forças de Autodefesa de Duralan e comandante desta operação.
- General? A Guarda Costeira dos Estados Unidos tem mais membros que vocês, minto, a polícia de New Orleans tem mais membros que vocês e vocês ainda tem um general? - gargalhou Charles.

Lex deu um tapa na mesa usada para a partida de carteado que rachou esta e espalhou as fichas usadas pelos jogadores por esta e pelo chão.

- Se esperava me impressionar com este tapinha, "general", infelizmente você falhou. Já fiz coisas bem mais impressionantes, que assombrariam gente como vocês.
- Se tens tanto desprezo assim por nós, porque estas aqui, Armstrong?
- Meu avô era de Duralan e foi ele que me criou. Quando o resto da família me rejeitou por ser negro, ele me acolheu e me criou. E ele amava o país dele. Por isso não deixarei amadores como você porêm tudo em risco.
- Quem está sendo um amador aqui, pondo tudo em risco é você, Armstong. Mas já estou acostumado a lidar com mulas teimosas como você. Já que só entende a força, vamos resolver na força.
- O que sugeres?
- Uma simples queda de braço. Ou será que tens medo de perder?
- De perder para um fracote como você? Nunca. Mas o que eu ganho em troca?
- Bem, é simples: se você ganhar, a liderança da operação é sua. Se eu ganhar, você tem duas escolhas: ficar quieto e seguir minhas ordens ou voltar para o seu país. Aceitas?
- Claro.
- Ótimo.

O cavaleiro foi até um canto onde jazia uma pequena mesa metálica quadrada de armar. Catou esta, montou-a no meio do alojamento, puxou uma cadeira, sentou-se à mesa, arregaçou a manga da camisa e apoiou o cotovelo na mesa. Ao ver a calma dele e a quantidade de cicatrizes no braço, Charles mentalmente se questionou se tinha feito um bom acordo mas sabia que não havia volta: era isso ou ficar com a fama de covarde perante os seus homens.

Armstrong puxou outra cadeira, arregaçou a camisa e sentou-se diante do cavaleiro. Apoiou o cotovelo na mesa e deu a mão a este. Winston, que se mantivera calado até então, se aproximou da mesa e, agindo como um juiz, pôs suas duas mãos em cima das mãos dos adversários. Perguntou se ambos estavam prontos e, diante de uma resposta afirmativa de ambos, soltou as mãos deles para que o duelo começasse.

Quase todos ali esperavam um duelo longo, os soldados americanos apostavam para ver quanto tempo o líder deles levaria para ganhar. Lord Churchill, embora conhecesse bem Lex, temia que este pudesse ter posto tudo a perder se levando por provocações baratas mas o resultado acabou deixando quase todos ali sem resposta.

Sem suar, sem demonstrar qualquer esforço, Lex virou a mão de Charles na mesa com tal força que a mão deste afundou na mesa, deixando o formato dela marcado no tampo de metal desta.

- Creio que acabamos por aqui, não? - disse, sorrindo, Lex. - Às 18 horas teremos uma reunião para discutir planos estratégicos. Serás bem-vindo se quiseres comparecer, Capitão Armstrong.

Sir Lex e Lord Churchill saíram do alojamento, deixando para trás os americanos, surpresos com o que ocorrera.

- Lex, meu rapaz, eu conhecia a sua força mas não sabia que era tanta.
- Acredite, Winston, não vistes nem metade do que sou capaz, tive que me conter afinal um Armstrong de braço quebrado não nos seria útil.
- Se é que ele vai permanecer.
- Ah, ele vai, conheço bem este tipo, orgulho acima de tudo. Ir embora é admitir medo.
- Espero que estejas certo pois acredito, como você, que ele poderá ser bem útil.

De fato, como Lex previra, às 18 horas, Charles, de uniforme completo e uma tala no pulso direito, compareceu à sala onde se daria a reunião estratégica.

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⏰ Última atualização: Jan 31, 2016 ⏰

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