II

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Ao ver a insígnia amassada caída no chão, o sangue subiu à cabeça de Raquel. Normalmente Lex acharia engraçada a cena, pois a rainha ficava com veias saltadas na testa e com o rosto vermelho, mas, naquele momento, não havia espaço para risadas.

- Como eles ousaram? - gritou Raquel. - Isso é, praticamente, uma declaração de guerra. Não quero pensar o que teria acontecido se você não fizesse parte do grupo de 10% do nosso povo que ainda apresenta dons especiais.
- Mas ele faz parte, Raquel. O que importa é que o meu primo está bem - contemporizou Miranda. - Alias, primo, o que sugeres? Por que eu sei que você já tem um plano.
- Você realmente me conhece, prima. - sorriu o cavaleiro. - Se as majestades não se opuserem, tenho uma reunião já agendada com Lord Pinkerton daqui a uma semana em Londres.
- Perfeito. - sorriu Miranda. - Você está sempre um passo à frente, primo. Por mim, vá em frente, eu lhe autorizo para falar em nome de Mayville.
- O mesmo vale para Duralan. - completou Raquel.
- Ótimo, agora, se as duas me dão licença, eu realmente preciso de um banho.

Como as duas rainhas não se opuseram, o cavaleiro se retirou, deixando as duas às sós. Ao ver que estavam realmente sozinhas, Miranda se virou para Rachel e falou:

- Rachel, não está na hora de abrir o jogo com o meu primo?
- Como assim, Miranda?
- Bem, a cada dia os seus sentimentos por ele ficam mais claros. Não seria justo você dizer isso à ele?

A Rainha de Duralan se calou, envergonhada, por alguns minutos. Depois, retomando sua pose usual, retrucou:

- Não sei que você esta falando. E, mesmo que eu sentisse algo por ele, agora não seria o momento certo, não à beira de uma guerra.
- E quando seria? Quando fosse tarde demais?
- Miranda, se você me dá licença, tenho mais o que fazer.

Rachel se levantou e saiu da sala com um ar sério e pensativo, sem olhar para trás momento algum.

Uma semana depois, Lord Pinkerton se encontrava repousando no seu gabinete, apreciando um caro charuto cubano. O seu escritório, que antigamente costumava ser o do primeiro ministro, se encontrava decorado não com as bandeiras do Reino Unido, mas com varias bandeiras vermelhas e brancas com um dragão negro no centro de cada uma, símbolo do seu partido e, ao fundo, em vez de uma pintura do Rei, uma do próprio Lord, de casaca e muitas medalhas no peito.

O pintor a quem Pinkerton encomendara o quadro fizera um excelente trabalho, pois o homem do quadro nem de longe lembrava o verdadeiro lord e era isso que o próprio desejava. O artista pintara um Lord Protetor forte e imponente, um homem a ser temido e respeitado e não o verdadeiro, um homem de meia idade baixinho, gordo, calvo, com a pele oleosa e o que sobrava de cabelo se encontrava pintado de um tom de preto claramente falso.

Ele ainda estava saboreando o charuto quando o criado anunciou que a visita que ele esperava havia chegado. Sir Lex Talion entrou na sala, pisando forte e de cara fechada. Se Pinkerton, ao vivo, não inspirava respeito, o mesmo não podia se dizer de Talion. De uniforme militar impecavelmente limpo, do alto de seus mais um metro e oitenta, de barba bem feita e olhar gelado, o cavaleiro de Duralan inspirava respeito sem nem precisar falar. Lord Pinkerton ameaçou dizer alguma coisa, mas com um gesto, Lex o fez calar.

- Eu sei o quanto você adora escutar a própria voz, mas eu vim aqui falar e não ouvir, Philip. Eu sei que você mandou me caçar lá no Brasil. E saiba que isso terá conseqüências.
- E se eu tiver os enviado, Lex, o que acontecerá?
- Você nos subestima, Pinkerton, e isso não é sábio. Realmente, nós temos dons especiais, mas não somos bruxos como muitos pensam. E eu sei dos seus planos para a minha prima.
- Planos, Talion?
- Sim, planos. E saiba eu ele prefere casar com o mais sujo mendigo de Londres do que com você.
- Como assim?
- Não tente me fazer de idiota, Pinkerton. Minha prima tem um pequeno dom especial: ela é capaz de saber quando as pessoas estão pensando nela e o que estão pensando dela. O único limite para esse dom é a distancia, mas, não sei se feliz ou infelizmente, Londres é próxima o suficiente para ela saber o que você pensa dela.
- E daí?
- E daí que não vai acontecer. Você não vai se casar com ela, você não vai tocar nela. Ela prefere morrer a isso. E a morte dela não será necessária porque eu vou dete-lo.
- Vai mesmo?
- Vou. Mais uma vez, você nos subestima. Os meus recursos são mais numerosos do que você pensa. Avise ao seu amigo alemão do bigodinho ridículo que depois que eu acabar contigo, vou atrás dele. Sei que ele está por trás disso tudo e que mesmo que você caia, nós não teremos paz enquanto ele e seu fanatismo racial comandarem a Alemanha. Se você ainda duvida dos meus recursos, quando você chegar hoje à noite em casa, procure na sua gaveta de cuecas um escorpião seco que meus homens deixaram lá. E saiba, que assim como eles botaram um seco, poderiam ter colocado um vivo. Passar mal, Lord Protetor.

Após dizer tais palavras, deixando o governante do Reino Unido com cara de idiota, o cavaleiro saiu do gabinete deste batendo a porta com força e derrubando o quadro dele em cima de um suporte de bandeira que criou um furo bem no olho direito da pintura.

Guerra das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora