capítulo I

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O último lugar em que Holly esperaria encontrar Pierce Sutherland novamente era o mercado de flores de Covent Garden, às seis e meia de uma manhã fria e escura de outono. Fora a primeira a encontrar-se com a organizadora do encontro marcado no Portão Quatro. Agora, cerca de vinte pessoas, incluindo algumas japonesas que pareciam não entender inglê, tomavam café juntas.
Um Rolls-Royce estacionou perto do grupo. Um homem alto saiu do carro, examinando as mulheres que tomavam café, com o mesmo ar arrogante que Holly vira cinco anos antes.
O que ele estaria fazendo ali? O coração de Holly deu um salto diante da possibilidade de ser reconhecida. O que não era muito provável. Ele não mudara, mas ela sim. Holly estava muito diferente da jovem de dezenove anos que, liberadamente, testara o senso de humor de Pierce e descobrira que ele simplesmente não o possuía.
- Nunca se apaixone por um homem que não tenha um excelente senso de humor - seu pai a advertira, numa de suas conversas sobre a vida e o amor.
O prof. Nicholson sorria enquanto falava, mas a advertência fora séria. Ele mesmo, depois de ter perdido a esposa quando Holly tinha três anos de idade, cometera um grave erro ao casar-se novamente.
Ele sabia disso, assim como a filha, colegas e amigos. Só a segunda sra. Nicholson não percebia. O relacionamento lembrava o casal Bennet, do livro "orgulho e preconceito":um homem erudito preso a uma mulher de inteligência limitada, cujas filhas era tão tolas quanto ela.
Porém, chiara, a filha mais velha, embora não fosse inteligente, era bonita e generosa.
Juntas desde a infância, ela e Holly haviam crescido como verdadeiras irmãs. Holly via-se no papel de Elizabeth Bennet, com chiara sendo a adorável Jane Bennet.
Até então, suas vidas não haviam alcançando a conclusão feliz do famoso romance de Jane Austen. Holly ainda não encontrara um homem tão atraente quanto o sr.Darcy e chiara estava envolvida num relacionamento com poucas chances de felicidade permanente. Suas vidas, embora muito mais livres e interessantes que as vidas restritas de Jane Austen e suas contemporâneas, ainda esbarravam no mesmo problema básico: como encontrar o sr. Certo num mundo de srs. Errados.
Cinco anos antes, chiara acreditara que Pierce Sutherland fosse o seu sr. Certo. Holly sempre tivera suas reservas com relação a ele e, no final, seus receios haviam sido comprovados. Três meses depois de ter levado chiara para a cama, Pierce a trocara por outra garota bonita. O fim do romance deixara chiara com muitas lembranças bastante generosas da paixão passageira de Pierce por ela, mas não com o coração partido. Pouco tempo depois, ela já estava envolvida com outro homem.
O que não alterava o fato de Pierce haver se comportado de maneira desprezível, confirmando a desconfiança instintiva de Holly.
A outra passageira do Rolls-Royce era uma japonesa elegante, que parecia ser alguém importante. Esperou que Pierce desse a volta no automóvel para juntar-se a ela.
Quando ele o fez, o topo do penteado elaborado da mulher mal atingiu a altura do peito de Pierce. Além disso, os traços delicados esculpidos na pele clara contrastaram com a pele bronzeada e a estrutura viril.ainda assim, os doi possuiam algo em comum. A mulher tinha estilo. Assim como Pierce. O que nem mesmo Holly poderia negar, diante dos cabelos e sobrancelhas negros, que emolduravam o rosto másculo e os olhos de tonalidade cinza, muito frios.
Americano por nascimento e britânico por inclinação, Pierce fora Inglaterra para estudar na universidade de Oxford. Jamais retornara à sua terra natal, preferindo ter como base a cidade de Londres, além de duas ou três propriedades em outras partes da Europa.
Ao contrário do pai de Holly, que passara a vida pesquisando projetos em benefício da humanidade, Pierce era um homem egoísta, que usava sua capacidade apenas para seus próprios fins. Quando chiara o conhecera, já era rico. Agora, devia estar milionári. E Holly duvidava que ele gastasse um centavo em generosidades, que não fossem presentes às suas namoradas.
Agora, segurando o braço da acompanhente, ele a levava na direção da organizadora. Enquanto ela se curvava graciosamente para as compatriotas, bem como para as inglesas, Pierce conversava em voz baixa com a guia da excursão.
Depois da separação dele de chiara, Holly forçara-se a esquecê-lo, o que não fora nada fácil. Pierce era uma daquelas pessoas que, uma vez vistas, jamais seriam esquecidas. Mesmo assim, fazia tempo que não pensava nele e a última coisa que desejava era reatar qualquer contato. Observava-o disfarçadamente, quando a demonstradora chegou.
- Bom dia, senhoras! Como vocês são trinta, dividiremos o grupo em dois. Enquanto metade vai comigo conhecer a exposição, outra metade acompanhará Lucinda às lojas de acessórios. Então, trocaremos os grupos.
Para alívio de Holly, ela ficou no grupo de Lucinda, enquanto Pierce e sua acompanhante seguiam a sra. Challoner. Os grupos seguiram em direções opostas.
O passeio de Holly pelas lojas repletas de cestos, vasos, suportes e guirlandas terminou algum tempo antes de a sra. Challoner ter concluído sua excursão pelas bancas de plantas e flores.
Enquanto o grupo de Lucinda esperava a sua vez, uma mulher aproximou-se de Holly e disse:
- Gostaria de saber quem é o sujeito alto. Acha que é um guarda-costas? A japonesa chique deve ser a sra. Mitsubishi, ou a sra. Toyota... Mas, seja ela quem for, o acampanhante fala japonês fluentemente.
- Como sabe? - Holly inquiriu.
- Acabei de passar por eles. Ouvi quando ele traduzia as explicações da demonstradora, as outras japonesas aproveitavam para ouvi-lo. Fico surpresa que venham a um lugar como este, sem falar inglês.
- Talvez sejam capazes de compreender melhor do que falam - Holly sugeriu.
Quando chegou o momento de os grupos trocarem de guias, Pierce não viu Holly. Considerando a fala dele em possuír "olhos de águias", bem como o fato de que Holly era a única jovem presente, além de Lucinda, ela se sentiu um tanto desanimada por não ter recebido sequer um olhar.
Porém, as partes de seu corpo que certamente chamariam a atenção dele não estavam à mostra, devido às roupas quentes que usava. E o rosto jamais fora seu maior atrativo. Não havia nada de errado com sua pele clara e lisa, os olhos grandes, os dentes brancos e perfeitos. Porém, mesmo maquiada e vestida para matar, Holly nunca se sentira deslumbrante como chiara.
"Simpática" e "agradável" deveriam ser as palavras que as pessoas usavam para descrevê-la. Mas Holly nunca se preocupara com a beleza. Sentia-se bem como era. Sua mãe não fora uma beldade e, mesmo assim, seu pai se apaixonara por ela na primeira vez em que a vira. E ficara desolado com sua morte. Um dia, alguém sentiria o mesmo por ela.
Um homem bom, decente, dono de sólidos valores morais... não um conquistador barato como Pierce.

Orgulho E PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora