- A sra. Shintaro não pareceu perturbada. Ao contrário tratou-me muito bem, depois.
- Ela tem a mente muito aberta. Passou toda a de casada adaptando-se a culturas diferentes. Ao vinte anos deve ter sido a esposa que todo homem sonharia: bonita, inteligente, atenciosa.
- Está querendo dizer "submissa", imagino. Nem todos os homens querem que suas mulheres sejam capachos. Minha mãe chegou a ganhar fama, como produtora de rádio. Meu pai a incentivava na carreira. Ele desprezava o tipo de atitude que você tem com relação às mulheres.
- Minha atitude para com uma mulher depende da atitude dela para consigo mesma. Se tudo o que ela quer é se divertir, proporciono-lhe diversão. Você me acusa de ter desviado chiara do bom caminho, mas nem eu conseguiria fazer o mesmo com você, não é?
- Não teria conseguido com chiara, também, se a mãe dela tivesse bom senso. Minha madrasta foi tola o bastante para acreditar que você se casaria com a filha. Em vez de desencorajá-la do relacionamento, praticamente empurrou-a para você. Eu sabia desde o início que tudo acabaria em lágrimas.
- Mas não houve lágrimas - Pierce corrigiu-a.- Chiara não sofreu, pois nunca foi apaixonada por mim. Você creditou a ela os sentimentos que teria se um homem com quem estivesse envolvida terminasse o relacionamente. Aos dezenove anos, você só teria feito o que sua irmã fez, se estivesse apaixonada... ou, pelo menos, se acreditasse estar.
Apesar da relutância em concordar, Holly admitiu para si mesma que as lágrimas de Chiara haviam resultado muito mais no orgulho ferido do que de sofrimento.
- Isso não muda o fato de que você mostrou a ela uma vida de luxo e riqueza que ela não poderia ter, a menos que... se vendesse a outros homens. Fez com que ela se viciasse em viver assim, do mesmo jeito que outras moças se viciam em drogas. Se tivesse feito isso, eu... seria capaz de matá-lo.
- Não duvido, mas garanto que Chiara não experimentou nada mais prejudicial que champanhe, na minha companhia. Sempre considerei o vinho e as mulheres os estimulantes mais adequados. E você? O que a estimula?
- Meu trabalho. Paisagismo pode parecer fútil, mas é muito gratificante. Há sempre algo pelo que esperar. Já estou ansiosa para ver como estará o Jardim no qual trabalho agora, daqui dois ou três anos. Acho que a sensação é parecida à que os pais tem, vendo os filhos crescerem.
- Você parece sossegada demais para a sua idade. Não sente falta de... excitação, aventura, noites de paixão?
- Está começando a apelar - Holly zombou. - Como não consegue me seduzir, tenta me chocar. Ao que parece, mulheres como eu, que não se desmancham com seu charme, irritam o seu ego.
- É possível. Quem sabe? Assim como o grão de areia que irrita a ostra, forçando-a a transformá-la numa pérola, nossa irritação mútua pode se transformar numa excelente amizade. Quer tentar?
- Acho que não. Acredito na sua capacidade de ser amigo de uma mulher, tanto quanto na de o leopardo ser amigo de uma gazela.
Em vez de retrucar, Pierce concentrou-se no trânsito, que se tornarava mais intenso à medida que se aproximavam da cidadezinha seguinte. Holly perguntou-se se teria cometido um erro ao recusar a oferta de paz. Poderia ter se mostrado disposta a aceitar e guardado seu ceticismo para si mesma.
O restaurante ficava numa das saídas da cidade. O grande estacionamento indicava sua popularidade, embora poucos carros ocupassem as vagas, naquele dia. Certamente, o movimento maior ocorria no fim de semana. O interior era decorado em estilo antigo e aconchegante.
- Se quiser se refrescar, o banheiro das senhoras fica ali - Pierce apontou. - O que gostaria de beber antes do almoço?
Holly percebeu que a atitude dele havia mudado para a de um homem adulto em companhia de uma adolescente muito tímida.
- Uma vodca com tônico - respondeu, dirigindo-se para o banheiro.
Diante do espelho, descobriu que tudo o que tinha na bolsa era um tubo de protetor solar e uma escova de cabelos. Assim, o máximo que poderia fazer para reforça a autoconfiança seria soltar os cabelos, pretos na nuca. Lamentou não dispor de maquilagem, perfume ou brincos. Não que estivesse preocupanda em parecer mais atraente, pois só queria elevar o moral. Perguntou-se por que se deixara levar até ali
Teria sido tão simples dizer não.
Com uma pontada de irritação, encontrou sua resposta. Apesar do que ele fizera a Chiara e de não gostava dele, Pierce a intrigava. A despeito de todas as suas reservas, sentia-se atraída para ele, como uma mariposa para a luz. A diferença era que a mariposa não sabe que terá as asas queimadas pela aproximação.
Chiara sentira-se atraída pela riqueza de Pierce, tanto quanto por sua beleza máscula. Holly, porém, desejava conhecer o homem que existia por trás da máscara social. Queria saber se a aparência de total autoconfiança escondia alguma fraqueza.
Embora não fosse de natureza cruel ou vingativa, Holly descobriu em si o desejo de magoá-lo, de exercer sobre ele o mesmo poder que ele tinha sobre as mulheres, a quem usava como brinquedos. Sabia que era loucura, mas queria ter Pierce Sutherland sob o seu poder, fazê-lo sentir como era ser tratado como ele havia tratado Chiara. Ao mesmo tempo, sabia que não possuía nenhuma das armas necessárias para atingir tal objetivo. Não era bonita, nem brilhante, muito menos irresistível.
O único recurso que possuía contra Pierce era sua resistência a ele. Quanto tempo essa resistência duraria, caso ele decidisse atacá-la?
Quando voltou, Pierce sairá do bar para sentar-se a uma mesa de canto. Ao vê-la aproximar-se , levantou-se e estudou-lhe os cabelos soltos.
- Já escolhi o meu prato - informou-a, apontando para o cardápio sobre a mesa.
Holly sentou-se e apanhou seu copo.
- Já preparei um assado para o meu jantar. Por isso, não vou comer muito agora. Estou acostumada a um sanduíche ou uma fruta, a esta hora.
- Gosta de cozinhar? - Pierce perguntou.
- Gosto de comer e, onde estou morando, não há restaurantes, lanchonetes, nem nada parecido. De qualquer maneira, prefiro comida saudável.
- Isso é evidente. Você exala saúde. Imagino que seu hálito seja como a brisa marítima, mesmo quando acorda.
O efeito do olhar e do sorriso de Pierce, bem como o comentário sugestivo, foi devastador. Imediatamente, Holly imaginou-se numa cama enorme, com Pierce a seu lado. Na imagem, ambos estavam nus. O resultado foi uma descarga elétrica que percorreu seu corpo, arrancando de sua garganta um som perfeitamente audível.
Para piorar a situação, Holly estava certa de que Pierce sabia o que estava se passando com ela, havia agido com premeditação para provocar a reação e, agora, se regozijava pelo sucesso.
- não é difícil manter a forma quando se pode viver perto da natureza - ela falou, tentando soar casual. - Eu jamais me sentiria bem, trabalhando num escritório. Não sei como as pessoas conseguem passar o dia todo num ambiente fechado, especialmente quando não há ventilação natural.
- Concordo. - Pierce bebericou sua cerveja. - Se não tivesse outra opção, eu preferiria varrer as ruas, a trabalhar como corretor de ações. Aquilo não é vida.
- Não posso imaginar você varrendo ruas.
- Nem eu - ele admitiu com um sorriso. - Felizmente, nasci com mais de duas opções. Basta que se tenha um pouco de inteligência e ambição, para consiguir o que quiser. Olhe para você. Queria ser paisagista e é. E eu duvido que suas conquista tenham caído do céu. Deve ter lutado por elas.
- Não conquistei muita coisa, até agora. Estou só começando, mas acredito que meu trabalho vai facilitar as outras coisas que espero da vida.
- O que, por exemplo?
Holly fitou-o nos olhos.
- Um marido e filhos. Aquela coisa antiquada, chamada casamento, que gente como você despreza.
- De onde tirou essa idéia? Só porque não me casei com Chiara, não quer dizer que eu não queira me casar, quando encontrar a mulher certa.
- E vai ser fiel a ela? Ou vai continuar tendo seus casos?
Pierce estudou-a com ar pensativo, antes de responder.
- Com base em pouquíssimas evidências, você tirou uma porção de conclusões, tão precisas quanto as fofocas das colunas sociais. Continua exatamente igual ao que era há cinco anos?
- Claro que não! Eu era uma adolescente.
- Sim, eu me lembro bem - ele falou com um sorriso. - Estava usando um vestido que não lhe caía bem e um corte de cabelo horrível. Mas, mesmo assim, havia algo em você... uma promessa do que é hoje.
Diante do tom de voz aveludado, do olhar que mais parecia uma carícia, Holly baixou os olhos, a fim de esconder sua reação. Seria possível que ele se lembrasse tão bem?
- Aquela noite foi um exercício de fingimento - Pierce continuou. - Se existisse um prêmio para mau gosto, sua madrasta certamente teria recebido o troféu.
- E você venceria um concurso de falta de ética, por falar assim de sua anfitriã.
- Ora, Holly, falemos com franqueza. Você queria dali.
Era verdade. Holly realmente desejara poder desaparecer. Mas seu pai nunca reagira assim. Ao contrário do sr. Bennet, em "Orgulho e Preconceito", o prof. Nicholson jamais dera o menor sinal de embaraço pelo comportamento afetado e esnobe da segunda esposa. Apenas algumas vezes, quando se via sozinho com a filha, permitia-se alguns comentários marotos, sabendo que ela jamais contaria a ninguém. E, claro, na ocasião da festa em discussão, ele já havia morrido, vítima de um ataque cardíaco fulminante.
- Eu estava apostando comigo mesmo - Pierce foi adiante - que, quando aquele desfile de pratos triviais finalmente chegasse ao fim, a sra. Nicholson se levantaria e levaria todas as mulheres presentes para outro aposento, a fim de deixar os homens em paz com seu vinho do porto, para "discutir os destinos do mundo".
- Está sendo cruel.
Ele deu de ombros.
- Eu estava profundamente entediado. Não pode esperar que eu seja simpático com relação a alguém que quase me matou de tédio. Fiquei tentando a me levantar e ir embora.
A vida é curta demais para se perder tempo com esse tipo de bobagem. Foi só quando nos reunimos na sala de estar, que a festa começou a ficar interessante.
Então , o semblante de Pierce iluminou-se e seu sorriso deixou à mostra dentes brancos e perfeitos.
- Você estava sentada numa poltrona desconfortál, com expressão pouco amigável. Então, depois que todos se serviram de café e aquela mulher de sobrenome interminável não parava de falar, com aquele sotaque forçado, você cruzou as pernas e puxou o vestido longo... revelando aqueles pés enormes e peludos, com unhas longas e vermelhas... - Pierce caiu na gargalhada, batendo com a mão na coxa. - Acho que os gritos dela foram ouvidos no outro quarteirão. Por um momento, ela pensou que aqueles pés imensos eram reais! Os olhos dela quase saltaram das órbitas! Foi um milagre ela não ter desmaiado.
Lembrando-se da expressão no rosto da mulher de quem ele falava, Holly também começou a rir.
- Mas você não achou graça - lembrou-o. - Não poderia ter se mostrado mais sério.
- Ora, eu estava cerrando os dentes com tanta força, que não sei como não se quebraram! Quando, mais tarde, ri à vontade, Chiara ficou furiosa. Ela não partilhava do seu senso de humor. Na verdade, não me lembro de jamais tê-la ouvido rir com gosto. E não vá me cortar a cabeça pelo comentário. Se não perdermos ser francos um com o outro, não chegaremos a lugar nenhum. A base de uma amizade é a verdade.
- Se isso envolve críticar minha irmã, jamais seremos amigos.
- Não estou fazendo críticas. Estou apenas sendo honesto. Chiara é muito bonita, mas não tem senso de humor. Ela jamais usaria aqueles pés em circunstâncias como aquela. Onde os conseguiu?
- Eu os havia comprado para dar de presente de aniversário ao irmãozinho da minha melhor amiga. Sempre quis ter um irmão e acabei adotando Dan. Quando as outras mulheres foram para o quarto de minha madrasta, fui para o meu. Os pés estavam lá, para serem embrulhados maid tarde. O motivo pelo qual decidi usá-lo foi para testar se você tinha senso de humor. Meu pai sempre me disse para testar certas características da pessoa por quem eu acreditasse estar apaixonada. Mesmo não achando que você pediria Chiara em casamento, decidi testá-lo.
- E que características eram essas? - Pierce inquiriu.
- A primeira era o senso de humor. As outras... prefiro não discuti-las.
- Imagino que estejam relacionadas a sexo, um assunto com o qual você não se sente à vontade... ao menos, não comigo... ainda.
A perspicácia de Pierce era desconcertante. Holly sentiu-se como se ele fosse capaz de ler seus pensamentos. Foi um alívio ouvi-lo perguntar se ela já escolhera seu prato.
Quando o garçom se aproximou, Holly pediu uma salada com queijo e abacaxi e surpreendeu-se com o pedido de Pierce: batata assada e salada verde. Para beber, ele pediu água mineral, perguntando se ela preferia com ou sem gás.
- Sem gás, por favor - Holly respondeu.
Assim que o garçom se afastou, Pierce falou:
- Tenho um recado de Fujiko. Caso eu consiga fazer as pazes com você, ela gostaria que eu a levasse à festa que dará no próximo dia vinte e quatro. As festas de Fujiko costumam ser maravilhosas. Tenho certeza de que você vai gostar. Gostaria de me acompanhar?
- Não posso ir sozinha?
- Claro, mas em vez de provocar-lhe o cansaço e a despesa de ir a Londres de trem, Fujiko achou que seria mais fácil se eu a apanhasse com meu helicóptero. O convite inclui um quarto para você passar a noite... no apartamento de Fujiko, claro. Posso imaginar sua reação diante de oferta semelhante de minha parte, embora não tenha o que temer, pois só faço investidas quando tenho certeza de que serão bem recebidas.
Holly ignorou a provocação e tentou decidir se queria ir a uma festa na companhia de Pierce. Repassou na mente todos os itens de seu guarda-roupa, em busca de algo apropriado para uma festa elegante em Londres. Nada. Nem um vestidinho preto! Afinal, Holly jamais tivera esse tipo de vida social.
- O motivo da festa é a chegada do neto de Fujiko - Pierce continuou. - Ela lhe falou sobre Ben? É o menino dos olhos dela. E merece. Trata-se de um rapaz adorável. Vai gostar dele. É o oposto de mim: gentil, amável, um perfeito cavalheiro com as mulheres. Ben é uma combinação de tudo o que há de melhor em duas culturas totalmente diferentes. Gente como ele é a nossa maior esperança para o futuro. E então? Você vai?
Holly respirou fundo, sabendo que poderia estar prestes a cometer o maior erro de sua vida.
- Está bem... sim, eu vou.
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Orgulho E Preconceito
ChickLit*Essa história não é minha, é da autora Anne Weale *Plágio é crime Uma cilada do destino... Holly sabia que não era bonita, mas esperava, assim mesmo, que um dia fosse encontrar um homem que a amaria e se casaria com ela O problema era que o único h...