Capítulo 1 - Flores

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Três anos atrás...

Vivo em um casamento há doze anos de uma forma frustrada.
Sinto que entrei em um abismo sem fim e eu não faço a mínima idéia de como sair dele.
No início tudo é perfeito.
Éramos jovens, recém formados na Faculdade ― ele Arquitetura e eu Dermatologia ― queríamos conhecer o mundo!

Por isso passamos quase dois anos viajando. Foram os melhores anos da minha vida!
Eu esperava pelas férias e a planejava minuciosamente.
Eu era feliz e não sabia...

Depois deste período "feliz" as viagens foram se tornando mais escassas e a rotina dominou a nossa vida e o nosso casamento.

A desculpa do Breno era o escritório. O planejamento do próximo projeto, a entrega de uma obra "fantástica". E a vida foi passando....

Então eu decidi fazer o mesmo, mergulhei no trabalho e investi na minha profissão.
Tive o apoio do meu avô. Ele me deu de presente um de seus imóveis. Um sobrado, na área nobre da cidade, que era perfeito para o que eu tinha em mente.
Pois bem, montei o consultório sozinha, fiz especializações e me dediquei ao que eu amava fazer.

Só que como sou uma workaholic só o consultório parecia pouco.

Foi quando uma amiga de infância, Fabiana, me propôs uma sociedade em um novo negócio, uma clínica de estética. Topei na hora! Só expandiu as limitações que o consultório me trazia, e respirar novos ares era renovador.

Nesta altura do campeonato Breno não se importava com minhas conquistas e isso me magoava profundamente.

Engraçado que, na frente da família e amigos ele era o marido perfeito, ninguém desconfiava da relação hostil e distante que vivíamos.

Quem dera se na vida tivéssemos um botão de ON/OFF para ligar e desligar desses momentos caóticos.

***

Uma paciente não compareceu a consulta e eu pude sair cedo.

Resolvo visitar um local onde a minha agenda atribulada não permiti que eu compareça a um bom tempo: A confeitaria da Tia Ciça. O mundo dos doces e o paraíso dos chocólatras.

Frequento este lugar a mais de trinta anos.

Toda tarde eu estava aqui comendo um pedaço de torta com a minha avó Helia. E mesmo depois de todo este tempo e não tendo minha doce avó como companhia não tem lugar que eu me sinta mais a vontade do que ao lado da Tia Ciça.

Estaciono na porta da loja, e algo ali está diferente. Uma placa anexada na entrada dizia: "Sob Nova Direção". Fiquei meio confusa e até pensei em desistir mais a curiosidade me fez descer do carro e olhar o grande letreiro iluminado por luzes de led: "Chocolataria & Vino". A decoração colorida e lúdica foi substituída por tons de madeira escura, veludo e couro. Tudo muito elegante.

Empurrei a porta de madeira e o sininho da porta continuava ali indicando a chegada de mais um cliente.

Olhei em volta e estava tudo diferente. Muito diferente.

Pelo menos o sininho ainda estava ali!

Paralizei uns segundos na porta. Será que a Tia Ciça ganhou na loteria ou recebeu de presente essa bela reforma?

Caminhei até o balcão onde um homem colocava uma bandeja de bombas de chocolate na vitrine.

― Boa noite, a Tia Ciça está?

O homem sorriu. Um sorriso um tanto estranho como se fossemos velhos amigos.

― A Dona Ciça vendeu a loja.

Sem Você  (DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora