Capítulo I

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10 ANOS DEPOIS

O NECROTÉRIO municipal de Sarutobê, na Bahia, parecia igual a qualquer outro necrotério às cinco horas da manhã. A diferença era que uma situação nada rotineira estava ocorrendo por ali.

— Só queria saber se o agente que vai mandar para cá é que nem o da semana anterior? — quis saber o Dr

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— Só queria saber se o agente que vai mandar para cá é que nem o da semana anterior? — quis saber o Dr. Palhares por telefone, falando com o delegado, minutos antes. — Da última vez, seu agente desmaiou só em sentir o cheiro do sangue do corpo da senhora Abigail Spindler. Claro, foi um caso macabro, admito... Mas, por favor, mande alguém experiente... É, eu sei. Enfim. Mas, se for o mesmo da semana passada, não haverá problemas, já que a anomalia por aqui no necrotério é, no momento, por incrível que pareça, a falta de sangue. Explico a situação para o agente que enviar.

O telefonema só durou três minutos. E, para o espanto do legista, dez minutos depois, o agente enviado, trajado em um sobretudo preto e usando óculos escuros, já estava entrando na sala de autópsia como se estivesse em um daqueles seriados norte-americanos de investigação. Não houve nem sequer um aperto de mão entre os dois. Por um instante, a iluminação da sala oscilou entre ofuscante e adequada, mas o jovem detetive não ficou intimidado.

O legista, gorducho de cabelos grisalhos, fitou com atenção o detetive Tony Adolf, da 35ª DELEGACIA

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O legista, gorducho de cabelos grisalhos, fitou com atenção o detetive Tony Adolf, da 35ª DELEGACIA. Ele não é novo demais? , indagou-se. Com toda a certeza aquele detetive era um dos agentes mais jovens trabalhando para a polícia atualmente que Palhares já vira pelas redondezas do necrotério. O detetive tinha trinta anos, mas aparentava ter menos. Dr. Palhares não era um homem preconceituoso com relação à participação da juventude no meio policial, pelo contrário, o que o incomodava era uma possível inexperiência: aquele jovem detetive estava realmente preparado para cair de cabeça naquilo tudo? Talvez, um abismo!

— Er... Sou o novo encarregado... O delegado me colocou no caso depois que um colega desistiu da investigação. Sou o detetive Antony Adolf Aigner — disse ele e, sem tirar os óculos escuros, enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo cinza, calando-se. Jamais gostou do seu nome. Às vezes, diminuía para Tony Adolf ou só Tony. Fruto da mistura de alemães com ingleses e, nas últimas décadas, com brasileiros conservadores, só poderia resultar nisso. Toda vez que falava seu nome completo em situações como aquela, lembrava-se que na Universidade faziam um ridículo jogo de soletrar com os calouros de Direito usando seu nome. Só Tony já estava bom demais!

Juventude Engarrafada - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora